Apresentação

      Em 1831, foi lançada a primeira publicação médica do Brasil: os Seminários de Saúde Pública, da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro (posteriormente transformada em Academia Imperial de Medicina), os quais deram origem aos Anais da Academia Nacional de Medicina, editados até os dias atuais¹. Mas, a primeira revista médica brasileira, estritamente voltada às publicações científicas, foi a Gazeta Médica da Bahia (GMBahia), tendo entre os seus fundadores sete ilustres médicos da cidade da Bahia e o estudante de Medicina Antonio Pacifico Pereira5. Desse núcleo primacial da GMBahia, o Dr. Otto Edward Henry Wücherer foi o que mais contribuiu com novos conhecimentos, especialmente sobre a ancilostomíase e os ofídios5, e, de forma fundamental e inovadora, ao descrever a filaria em pacientes com “hematuria intertropical”6, daí a homenagem desse nematódeo pertencer ao gênero Wuchereria, da espécie W. bancrofti.

      A GMBahia circulou regularmente entre 1866 e 1934, depois entre 1966 e 1972, com um número avulso em 1976. Em 1984, os professores Eurydice Pires de Sant’Anna (Escola de Biblioteconomia) e Rodolfo Teixeira (Faculdade de Medicina da Bahia) organizaram o índice cumulativo da GMBahia de 1866 a 1976, com a citação de todos os 3.870 trabalhos publicados naquele período4. Mais recentemente, em 2002, foram digitalizados todos os trabalhos publicados até 19762 e alguns textos em livro-impresso3.

      Com esse passado, não parece exagero escrever que a classe médica do Estado da Bahia e, muito especialmente, os docentes da Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB) têm como deveres o soerguimento e a continuidade desse relicário5 da Medicina baiana, a Gazeta Médica da Bahia. Da minha parte e usando as prerrogativas de ser o Diretor da FAMEB, autoproclamei também ser o Editor da GMBahia, sendo essa editoria pro tempore – até a árvore voltar a florescer e após os primeiros frutos – ou até ulterior deliberação da Congregação da FAMEB.

      Sólida a GMBahia, tornar-se-á novamente periódico científico no atendimento ao crescente número de pesquisas e de trabalhos de extensão. Neste número, de recomeço, a opção foi principiar pela compilação dos trabalhos que fundamentaram o ensino médico no Brasil, com conteúdos de maior cientificidade, as TESES DOUTORAIS DE TITULADOS PELA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA, DE 1840 a 1928. Também, pela certeza de que as mudanças na FAMEB devem começar pelo maior apoio aos estudantes de Medicina, centrado em valores éticos, acadêmicos, humanísticos, científicos e técnicos. Por sua vez, o recomeço da GMBahia mostra aos presentes os feitos dos nossos antepassados da Faculdade de Medicina da Bahia, esperando que sirva de lastro às próximas gerações de médicos da Bahia e do Brasil.

À Faculdade de Medicina da Bahia nos seus 196 anos,

José Tavares-Neto
Diretor da FAMEB
Universidade Federal da Bahia

Referências Bibliográficas
1. Academia Nacional de Medicina. História. Extraído de http://www.anm.org.br, em 23 de maio de 2004, 2004.
2. Bastianelli L. Gazeta Gazeta Médica da Bahia 1866-1934/1966-1976, por uma Associação de Facultativos. Contexto: Salvador,
disponível on-line através do site http://viewer.melhordoc.com.br/gazeta, 2002a.
3. Bastianelli L. Gazeta Gazeta Médica da Bahia 1866-1934/1966-1976, por uma Associação de Facultativos. Contexto: Salvador, 243p., 2002b.
4. Sant’Anna EP, Teixeira R. Gazeta Médica da Bahia – Índice Cumulativo 1866-1976. UFBA: Salvador, 347p., 1984.
5. Teixeira R. Apresentação. In: Bastianelli L (ed), Gazeta Médica da Bahia 1866-1934/1966-1976, por uma Associação de Facultativos. Contexto: Salvador, p. 13-17, 2002.
6. Wücherer O. Notícia preliminar sobre vermes de uma espécie ainda não descrita, encontrados na urina de doentes de hematuria intertropical no Brasil. Gazeta Médica da Bahia 3: 97-99, 1868.