História da Medicina

artigo 01

A enfermaria de variolosos na fortaleza do Barbalho-1885 – Parte I
Notas sinópticas inéditas 
Antonio Carlos Nogueira Britto

Em oficio sob o número 1225, de 24 de setembro de 1885, firmado pelo vice-presidente da Província, Dr. Aurelino Ferreira Espinheira, foi  designado o Dr. Eduardo José de Araújo para  encarregado da instalação de uma enfermaria destinada a variolosos na fortaleza do Barbalho. 

Alguns dias antes, em l6 de setembro, o Inspetor da Saúde dos Portos transferiu  do Lazareto de Bom Despacho para a então enfermaria provisória  de variolosos no sobredito forte, “objectos”, dentre os quais 10 camas de ferro; 8 camas de madeira sob pés de ferro; 6 “ourinóis”; bacias de ferro, grandes e pequenas e “trem” de cozinha.

Em 30 de setembro, o Dr. Eduardo José de Araújo instalou oficialmente a dita enfermaria  e, no mesmo dia, solicitou ao vice-presidente da Província para ordenar à Diretoria do Arsenal de Guerra, o fornecimento de caixões mortuários “nas  mesmas condições em que são a muitos anos fornecidos ao Hospital de Monte Serrate”.

Remeteu ao Governo, em 2 de outubro, a folha de pagamento dos empregados, “na importancia de quarenta e trez mil quatrocentos e noventa e trez reis (43$493)”.A fortaleza se achava, segundo o encarregado, “em estado  de utilisar  immediatamente dois pavilhões que se prestão  á collocação de leitos, sendo possivel  prestarem-se outros no lapso de poucos dias, depois de ligeiros reparos...”

Contratou “tres enfermeiros com a gratificação mensal de quarenta mil reis, tendo de ser um delles  encarregado da dispensa (dous homens e uma mulher) e dous serventes (tambem homem e uma mulher) um dos quaes para desempenhar o serviço de cozinha”.

Também solicitou  41 “objectos necessários  ao serviço”, salientando-se alguns: “10 travesseiros de palha;10 colchões  de palha; 20 esteiras de tabú; 10 cobertores de baêta; 10 escarradeiras de Flandres;30 camisolas de Janzés; 1 frasco de tinta inglesa (Blue Black)”.

Os primeiros medicamentos solicitados: “Althéa; cevada; xarope de groselhas; ácido phenico alcoolisado; água de Labarraque; enxofre sublimado; potassa; sulphato de ferro; ácido sulfurico alcoolisado; chlorureto de zinco; conta gottas; sabão phenicado”.

A “ração” que competia a cada empregado , consistia de “carne verde; pão; assucar refinado; café; arroz; farinha; vinagre; toucinho; condimentos; carvão”. Para cada doente, a  “ração” era acrescida de “ manteiga inglesa e  gallinha.”

Em 2 de outubro, foi solicitado um “escrevente” e, no dia 5, o Dr. Eduardo José de Araújo preocupava-se com o crescimento do número de doentes de varíola na enfermaria, fato que o levou a pedir “com urgência” mais doze leitos, “com os seus pertences”,  chamando atenção não ser possível caber mais  de doze leitos em cada pavilhão,  inquietando-se com “as consequencias  de  agglomeração de enfermos d’estas molestias  em logares mais apertados”, relatando  ao vice-presidente, no dia 9, que “ os  doze leitos da enfermaria de homens estão todos ocupados por doentes  variolosos“.. e que “não pode a enfermaria  receber mais doentes do sexo masculino”, ao tempo em que pedia “ordenar ás autoridades” ... “ que não os envie mais. enquanto não tiverem posterior aviso, de que existem leitos vazios, e portanto nas condições  de se prestarem a receber doentes.” E acrescentava: “A enfermaria de mulheres porem ainda pode comportar trez doentes correspondentes a trez leitos vazios” Rogou, no dia 12, “seis leitos com os seus pertences”... e mais ...”dous serventes –homem e mulher -, porque de outra forma torna-se impossivel o serviço que no movimento dos banhos ocuppa quasi todo seu pessoal.”

Em 14 de outubro, “...foi acceito o varioloso José dos Santos remettido para esta enfermaria pelo subdelegado da freguesia da Penha e em uma carroça as oito horas e um quarto da noute, e em estado moribundo!”

Ao novo presidente da Província, Conselheiro Theodoro Machado Freire Pereira da Silva, oficiou em 29 de outubro, ponderando que ...”...sentindo-me todo gravame do trabalho insano que tomei a mim, sendo a  um tempo promotor  dos reparos  de que carecião os pavilhões que se destinavam a enfermaria. medico, director, agenciador de pessoal idoneo para o serviço a vencer-se diuturnamente, ...”, adiantando que ...”a remuneração de duzentos mil  réis mensaes ,,, era minimamente diminuta ...” e acrescentou: “... a todos os  encarregados  de serviços congeneres n’esta cidade, quando se tem aberto por diversas vezes enfermariaas destinadas   a doentes de variola, ou de febre amarella, e ainda a auxiliares de trabalho, sem  contestação menos penosos, como o de ajudante  do Provedor da Saúde do Porto em epocha de quarentenas ...tem sido marcada a gratificação de trezentos mil réis.” ... “E ainda...ocorre-me dizer que o medico nas minhas actuaes condicções fica, como que sequestrado da sociedade; limita-se a clinica da enfermaria, e a ser procurado por um ou outro cliente que conte com  gratuidade no serviço medico.”

Ainda em 12 de outubro, crescendo o número de doentes e não tendo na fortaleza mais cômodos nem leitos disponíveis, o Dr. Eduardo José de Araújo chamou o mestre de obras Salvino José da Conceição, para recuperar um “pavilhão estragado”, que orçou o conserto em cento e dez mil réis (110$000).

No dia 4 de novembro, foi recolhida na enfermaria “uma doente de variola confirmada, que, com oito meses de prenhez, acha-se em perigo por causa deste ultimo estado, tendo tentado a acção de meios criminosos para a expulsão do feto...” . Foram pedidas “.providencias urgentes no sentido de ser ella removida para o  Hospital da Caridade, afim de que possa ahi ter o tratamento necessario áquelle fim.”. A dita doente faleceu às 5 horas da tarde do mesmo dia.

Foi comunicado ao Governo, em 5 de  de novembro, que “está prompto n’esta fortaleza um  novo pavilhão para receber mais doze doentes de variola.”

Em 4 de dezembro, foi enviada ao presidente da Província a folha de vencimentos dos empregados, relativa “ao mes proximo findo, na importancia de quinhentos e quinze mil réis (515$000).”

Fonte primária – Documentos  manuscritos originais e inéditos.

Arquivo Público do Estado da Bahia – Presidência da Província – Guia do Império da Seção de Arquivo Colonial e Provincial – Epidemia – Enfermaria de Variolo sos do Barbalho – 1885 – Maço 5366

OBSERVAÇÃO: Esta matéria, com data de 28 de julho de 2002, sofreu “corrigenda” . Portanto, não deve ser considerado o trabalho enviado em 27 do corrente.

 

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