História da Medicina

artigo 03

continuação (03)
Discurso de Inauguração do Anfiteatro Alfredo Britto
Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.

Em 3 de outubro de 1915, em sessão solene no Salão de Honra desta Faculdade, os emocionados circunstantes saudaram, de pé, com prolongada salva de palmas, a solene passagem do busto, em bronze, do diretor Alfredo Britto, até a sua colocação no pedestal, por iniciativa dos professores Oscar Freire de Carvalho, José Carneiro de Campos, Luís Pinto de Carvalho e do corpo administrativo da instituição.

            O Diário Oficial da União, de sábado, 6 de junho de 1908, publicou o seguinte decreto: “Ministério da Justiça e Negócios Interiores – Por decreto de 4 do corrente: Foi exonerado o dr. Alfredo Britto, do logar de director da Faculdade de Medicina da Bahia. Foi nomeado: o dr. Augusto César Vianna para o dito cargo”.

            No mesmo dia, o Dr. Alfredo Britto passou o cargo para o Dr. Manoel José de Araújo, vice-diretor, despediu-se dos corpos docente e discente e pessoal administrativo e dirigiu-se para a sua casa de residência, na Praça Castro Alves, número 105.

            Alfredo Thomé de Britto faleceu aos quarenta e três anos de idade, a 13 de maio de 1909, às 13 horas, na Casa de Saúde do Dr. Augusto Villaça, em Itaparica, onde se encontrava em tratamento há mais de um mês.

            O assentamento do óbito do imortal diretor, no livro da Freguesia de São Pedro, consta como causa da morte o beribéri e no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, do subdistrito de São Pedro, está lavrado: infecção paratífica, complicada de beribéri edematosa, atestada pelo Dr. Heraclio Pereira de Meneses. Seu inventariante foi o Dr. Luís Pinto de Carvalho.

            Ao chegarem os restos mortais a esta capital, foram conduzidos à mão até a residência da família, sendo recusado o oferecimento do governador Araújo Pinho para a condução do cadáver na ambulância da Polícia.

            Embalsamado o corpo, na sua casa, trajando vestes talares, efetuou-se às 16:30 horas do dia 14, o saimento do cadáver para a Faculdade de Medicina, onde permaneceu em câmara ardente no Salão de Honra, até o sábado, 15 de maio, quando o ataúde foi colocado em coche mortório, chegando às 18 horas no Campo Santo.

            Em vida, além da comoção causada pelo incêndio da Faculdade de Medicina e dos naturais embates com as rudezas da inveja e da cobiça dos seus pares, e das ingratidões, experimentou o abalo formidável do drama de sua esposa, colhida pelo alfange inexorável da morte, na imensidão do oceano, além da sua demissão injustificável e injustificada do lugar que honrava na direção da sua Faculdade de Medicina.

            Nas imediações do túmulo de Alfredo Britto, jazem ilustres personalidades, que com ele conviveram: conspícuos lentes e ilustrados e notáveis membros da congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, condiscípulos, clientes, amigos, familiares. Onde estão os que ontem se abraçavam, ou se rejeitavam no tumultuar da vida? Onde param os que hoje são motivos de prantos e avultam saudades? Tudo passa, fugaz e vertiginoso. Tudo se dissipa com o sopro da morte. “Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó”. Eclesiastes, 3,20. “Tudo isso passou como uma sombra, como notícia fugaz, como o navio que singra as águas ondulosas sem deixar rastro de sua travessia nem, nas ondas, a esteira de sua quilha”. Sabedoria, 5, 9-10.

            Apesar de tudo, creio firmemente que Alfredo Britto não morreu. Vive nas tradições de sua vida notável; vive na sua grandiosa e afamada obra da ressurreição da sua Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus; vive no monumento das suas virtudes e dos seus ideais; vive no reconhecimento dos seus pósteros, pois Alfredo Britto passou na terra como um justo e como um estóico e, gloriosamente, alou-se para a imortalidade. – A noite da morte não extinguirá as irradiações desse luzeiro.

            Disse.

            Obrigado.

 

FONTES

 

Arquivo Público do Estado da Bahia – Seção: Republicano – Jornais: 1. Diário de Notícias: 4/03/1905 – 16/03/1905 – 24/04/1905 –  25/04/1905 – 26/04/1905 – 28/04/1905 – 6/05/1905 – 31/08/1905 – 1/09/1905 – 4/09/1905 – 5/09/1905 – 14/09/1905 – 30/12/1905 / 27/07/1908.

2.  Diário do Povo – 13/09/1905

1.  Diário da Bahia – 13/09/1905 – 30/12/1905 – 15/05/1909 – 16/05/1909.

2.  A Bahia: 6/10/1905 – 9/06/1908 – 15/05/1909.

Biblioteca Pública do Estado da Bahia – Diário Oficial da União: 6/06/1908.

Arquivo do Memorial da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia – Atas das sessões da congregação da Faculdade de Medicina de Bahia – Ano de 1905: 22/03/1905 – 19/06/1905 – 19/07/1905 – 7/08/1905 – 25/08/1905 – 11/11/1905 – 16/11/1905 – 22/11/1905 – Ano de 1906: 2/03/1906 – 20/06/1906 – Ano de 1908: 12/08/1908 – Ano de 1909: 24/05/1909.

Arquivo Público do Estado da Bahia – Seção: Republicano:

“Commissariado de Policia do Porto – Registro de Sahida de Passageiros” – 27 de Julho de 1896 – Livro 57 – página 31.

Ibidem – Registro de Entrada de Passageiros – 12 de Março de 1897 – Livro 08 – página 86-v.

Ibidem – Registro de Sahida de Passageiros – 2 de Setembro de 1905 – Livro 59 – página 116-v.

Ibidem – Registro de Entrada de Passageiros – 29 de dezembro de 1905 – Livro 10 – página 61.

Seção: Judiciário – Testamentos e Inventários:

Luiza Maria Ângela de Britto – (partilhada) – Partilha amigável – Período: 1869/1869 – Fls. 8 – Cassificação: 03/983/1452/12.

Domingos José de Britto – Inventário – Período: 1886/1886 – Fls. 28 – Classificação: 05/1934/2406/5.

Domingos José de Britto – Testamento – Período: 1885/1885 – Fls. 04 – Classificação: 1276/1715/28.

Alfredo Britto – Inventário – Período: 1909/1924 – Fls. 184 – Classificação: 01/345/662/5.

Arquivo da Cúria Arquidiocesana de Salvador – Justificação de batismo – Alfredo Thomé de Britto – Anno 1880 – Caixa 43 – Santa Anna.

Livro de Óbitos – Freguesia de S. Pedro – 1880/1891 – Fl. 182v – nº de ordem 26.

Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais – Subdistrito de S. Pedro – nº 101, fl. 51-v, livro nº C-12.

Memórias Históricas da Faculdade de Medicina da Bahia: Anos 1909 a 1910 – Dr. José Eduardo Freire de Carvalho Filho.

Ibidem – Ano 1924 – Dr. Gonçalo Moniz Sodré de Aragão – (acervo do Autor).

Ibidem – Ano 1942 – Dr. Eduardo de Sá Oliveira – (ibidem).

Ibidem – Anos 1943-1995 – Dr. Rodolfo Teixeira – (ibidem).

Faculdade de Medicina da Bahia – Novos Edifícios – Projectados pelo Architeto V. Dubugras – (ibidem).

Revista do Instituto Geographico e Historico da Bahia – 1904 – Anno XI – Vol. XI N. 30 – (ibidem).

Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina da Bahia – Typ. Bahiana, de Cincinato Melchiades – 25 – Rua do Arsenal da Marinha – 25 – 1906 – (ibidem).

Moniz, Gonçalo – A Medicina e sua Evolução na Bahia – Diário Official do Estado da Bahia – Edição Especial do Centenário – 1823-1923 – pp. 401-436 – (ibidem).

Revista do Instituto Geographico e Historico da Bahia – n. 68 – 1942 – (ibidem).

Revista Medica da Bahia – Ano XII – Fevereiro de 1944 – Nº 2 – p.p. 20-26 – (ibidem).

Lima, Estácio de – Velho e Novo “Nina” – Governo Roberto Santos – Secretaria da Segurança Pública – Polícia Civil da Bahia – Departamento de Polícia Técnica – Instituto Médico Legal Nina Rodrigues – 1979 – (ibidem).

Silveira, José – Uma Doença Esquecida – A História da Tuberculose na Bahia – Universidade Federal da Bahia – Centro Editorial e Didático – 1994 – (ibidem).

 

            Cidade do Salvador, 31 de agosto de 2001

            Antonio Carlos Nogueira Britto

            Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.

 

 

(*) Conferência recitada na reinauguração do “Anfiteatro Alfredo Britto”, em 31 de agosto de 2001.

 

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