HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 21
O dia em que o vapor nacional “Itaquera” amarrou à terra da cidade da Bahia trazendo a bordo o moço Arthur Ramos (*) para estudar Medicina
Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins, fundado em 29 de novembro de 1946

“Termo de Abertura

Este livro que contem duzentas folhas numeradas e por mim rubricadas servirá para o registro de passageiros entrados no porto da Capital.

Bahia, 3 de Abril de 1920.
O Inspector
Cesar Gambetta Moreira Spinola”

“Segunda-feira, 20 de dezembro de 1920.
Vapor nacional Itaquera – Procedencia: Macau e escalas

Passageiros

Nacionalidade Procedencia

Mario Villa Gomes
José Sotero de Moniz
Almiro Paiva
Edggard Lopes de Castro
Candida Rosa França
Maria Rabello de Souza
Italo Magaroni
Isabel Samferro
Eric Burgh Newcomb
Gladys Newcomb
Eilian Newcomb
Osorio de Carvalho Silva
Raul Batalha Ribeiro
Satyro Marques
Margarida Cardoso
Maria José de Cardoso
Victor Ciaache
Cecilia Ciaache
ARTHUR RAMOS
Maria Reis
Firmino Jovelino Siqueira
Ursulino Antonio da Silva
Luiz Durdos
Manoel de Siqueira
Joanna de Souza
Carolina de Souza
Guiomar de Souza

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Maceió
Maceió
Maceió”
NOTA
O vapor “Itaquera” era de propriedade da “Companhia Nacional de Navegação Costeira”. Após chegar do Norte, o navio saiu no mesmo dia, 20 de dezembro de 1920, para “Victoria, Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá, São Francisco, Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre”.
Dispunha a embarcação de “excellentes accommodações” para passageiros de 1ª e 3ª classes e recebia cargas, valores e “encommendas”. Não vendia aquela “Companhia” passagens sem “accommodações” e era representada nesta capital por Isaias de Andrade – O endereço da agência ficava na rua S. João, nº 5, 1º andar.

Cidade do Salvador, 17 de julho de 2003

Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto.
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História Medicina e Ciências Afins
Fundado em 29 de novembro de 1946

(*) Arthur Ramos de Araújo Pereira abriu os olhos à luz na cidade de Pilar, no estado de Alagoas, no dia 7 de julho de 1903.
Chegou à cidade da Bahia em uma segunda-feira, 20 de dezembro de 1920, para estudar Medicina. Doutorou-se em 1926, pela Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus, tendo sustentado tese que versava sobre Primitivo e loucura.
Foi nomeado médico-assistente do Hospital São João de Deus, que ao depois seria o Sanatório Juliano Moreira. Perito do Serviço Médico-Legal. Redator-chefe da revista Arquivos do Instituto Nina Rodrigues. Indicado para o cargo de médico-legista, sendo, mais tarde, nomeado assistente do Prof. Estácio de Lima. Foi editor dos periódicos Cultura Médica e Revista Médica da Bahia. Aprovado no concurso de Livre-Docente da cadeira de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 1928, defendendo a tese A sordície dos alienados – ensaio de uma psicopatologia da imundície.
Pesquisou, com acendrado interesse, a cultura negra no Brasil, sendo feito ogã do Centro Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, sócio-benemérito da União das Seitas Afro-brasileiras da Bahia.
Abraçou, com entusiasmo, as linhas de estudos da “Escola da Bahia”, de Nina Rodrigues, fundamentada na antropologia criminal através da medicina legal.
Publicou o seu primeiro livro, em 1931, intitulado Estudos de Psicanálise. Naquele mesmo ano fundou, em Salvador, a Sociedade de Medicina Legal e Criminologia e Psiquiatria da Bahia, com 72 membros, sobre a reinstalada, em 1928, Sociedade de Medicina Legal e Criminologia da Bahia, estabelecida em 1914 pelo Prof. Oscar Freire e desativada durante dez anos, desde 1918, quando aquele notável mestre foi assumir a cátedra em São Paulo. A sociedade criada por Oscar Freire foi instalada, em 1914, nos fundamentos da Sociedade de Medicina Legal da Bahia, instituída pelo Prof. Nina Rodrigues, a 4 de maio de 1895.
Em 1933, mudou-se para o Rio de Janeiro, tornado-se professor da Universidade do Distrito Federal e da Universidade do Brasil. Nomeado para o cargo de chefe do Departamento de Ciências Sociais da Unesco, em Paris
Cerrou os olhos à luz em Paris, no Hotel Pierre, a 31 de outubro de 1949, aos 46 anos de idade.

Tais apontamentos de roda-pé sobre a extensa biografia do celebrado cientista social e insigne mestre da psiquiatria, da psicanálise, da antropologia, da etnografia e da medicina legal foram fundamentados no belíssimo trabalho intitulado Arthur Ramos e a Escola da Bahia, elaborado no azo das celebrações de um século de seu nascimento e publicado na Rev.Cult.Bahia,Salvador, 21:29-55, 2003, de autoria do ilustrado biógrafo de Arthur Ramos, Dr. Lamartine de Andrade Lima, afamado médico-legista e pós-graduado em Medicina Legal pela Universidade Federal da Bahia, ex-professor de Medicina Legal da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.

FONTE PRIMÁRIA – MANUSCRITO ORIGINAL E INÉDITO

Arquivo Público do Estado da Bahia – Seção: Republicano
Livro de Entrada de Passageiros – Nº 17 – Anos: 05/04/1920 a 13/10/1921
“Inspectoria da Policia do Porto – Registro de Entrada de Passageiros – Páginas 98v-99”

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