HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 21
Alfredo Britto e Theodoro Sampaio
Conferência recitada no Anfiteatro Alfredo Britto, na Faculdade de Medicina da Bahia, em 18 de outubro de 2002
Por Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins
Em a noite de 31 de agosto de 2001, em memorável sucesso da vida deste humílimo médico de aldeia e “contador da História”, pisei, comovido e contrito, o sacrossanto chão desta portentosa Catedral dos deuses da Medicina, no azo soleníssimo da reinauguração do Anfiteatro Alfredo Britto. Com olhos aljofarados, recitei catadupas de achegas, filhas de pesquisas por mim desenvolvidas em formidandas fontes primárias, reveladoras de fascinantes fatos lavrados em preciosos e raros documentos manuscritos, originais e inéditos, em derredor da fulgente biografia do mais dinâmico dos diretores da Faculdade de Medicina da Bahia: Professor Dr. Alfredo Thomé de Britto.

Nesta noute, deveras alvissareira para mim, em traços assaz largos, brevíssimos apontamentos serão apresentados no ensejo do descerramento, com magnificência, de placa de bronze, a qual traz à memória e tributa grande respeito aos vultos do diretor Dr. Alfredo Thomé de Britto e do engenheiro Theodoro Fernandes Sampaio, celebrados e mui distintos reconstrutores dos paços desta veneranda e histórica Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus, quase derruída, com a fúria das grandes catástrofes, pelas chamas estorcendo-se com estalidos e as faúlhas turbilhoando do dantesco incêndio, em a noite de 2 de março de 1905. Tais notáveis personalidades coordenaram e construíram o outrora esplendoroso Anfiteatro Alfredo Britto, rara e valiosa jóia arquitetônica, que teve a sua edificação iniciada em 1905 pelos insignes homenageados, e inaugurada, com os novéis pavilhões da Faculdade, em 31 de janeiro de 1909, pelo diretor Dr. Augusto Cezar Vianna, sucessor do Dr. Alfredo Britto.

As minhas pesquisas revelaram que Alfredo Britto abriu os olhos á luz a 21 de dezembro de 1863, contestando asseveração de renomados lentes desta Escola, que registava datas diferentes do grande acontecimento (21 de dezembro de 1865 e 21 de agosto de 1866). Veio ao mundo provavelmente na cidade da Bahia, na freguesia de Santa Anna, e mais improvável na paradisíaca Ilha dos Frades, na Fazenda Loreto, conforme afirmam notáveis autores e conferencistas, pela carência de fontes primárias e historiográficas em favor desta última hipótese. Parece mais verossímel ter nascido na freguesia de Santa Anna, nesta cidade da Bahia, onde foi lavrado assentamento de batismo no Livro dos Justificados, em 2 de março de 1880.

Filho da digna senhora, D. Joanna Maria da Salvação e do ilustre e ilustrado lente e Presbítero da Ordem de São Pedro, padre Domingos José de Britto, nasceu Alfredo Britto em 21 de dezembro de 1863. Tinha uma irmã, D. Luiza Fortunato de Britto.

Graduou-se pela nossa Faculdade de Medicina em l885. Nomeado adjunto de Clínica Médica, após aprovação de concurso, realizado em 9 de novembro de l888. Substituto da 7ª seção, em agosto de l893 foi nomeado professor catedrático de Clínica Propedêutica. Tornou-se zeloso e prestante diretor da Faculdade de Medicina da Bahia no período de 21 de agosto de 1901 a 4 de junho de 1908.

No dia 27 de julho de 1896, embarcou para Bordeaux, em França, no “steamer” “La Plata”, com o escopo de aprimorar o seu tirocínio científico; retornando à cidade da Bahia em 12 de março de 1897, a bordo do vapor francês “Cordillere”, trouxe aparelho de raios X, e aqui inaugurou a radiologia médica, em que se tornou exímio especialista, assim como em eletroterapia.

No mundo inteiro, foi o primeiro a empregar a radioscopia em cirurgia de guerra, ao examinar o soldado do quinto batalhão de polícia da Bahia, Manoel Bertholino dos Santos, ferido nas pelejas de Canudos no dia 27 de julho de 1897. O pioneiro e histórico exame foi realizado na Clínica Propedêutica Médica, da qual era titular, instalada no Hospital Santa Isabel, da Casa da Santa Misericórdia, em 9 de agosto do mesmo ano. A dita radioscopia revelou as dimensões e posição de uma bala localizada no primeiro espaço intercostal esquerdo.

Sua primeira publicação de trabalhos científicos se deu em 1884, ainda quando estudante: “Ação terapêutica do ferro e seus compostos”. A tese inaugural, sustentada em 1885, versava sobre “A cremação e a inumação perante a higiene”. Também apresentou “Ensaio crítico sobre os principais processos de cardiometria clínica” – (Tese para concurso, em 1893); “Os raios X em medicina e cirurgia. Seu valor clínico atual” – Gazeta Médica da Bahia - (l897-1898); “Memória Histórica apresentada à Faculdade de Medicina da Bahia em 1900”. Sua extensa obra bibliográfica é formada por aproximadamente 37 títulos.

No início da noite de quinta-feira, 2 de março de 1905, que antecedia o carnaval, houve princípio de incêndio em pavilhões do majestoso palacete da Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia, que se alastrou célere, com as chamas devorando parte do edifício da Escola.

No dia seguinte, 3 de março, o diretor Dr. Alfredo Britto, com inexcedível dedicação, deu início aos trabalhos de reparação do prédio, contando com o apoio do engenheiro civil Theodoro Sampaio, que traçou valiosos planos para as grandes obras da Faculdade, secundado pelo franco e diligente auxílio do ministro do Interior, José Joaquim Seabra, que abriu um crédito de 600:000$00 para a reconstrução do prédio incendiado. Os trabalhos principais foram iniciados em 6 de agosto daquele ano, pelo fato de não se poder realizar mais cedo a desapropriação e demolição dos treze prédios necessários ao alargamento da área planejada para a construção dos novos edifícios, obedecendo projeto do notável arquiteto Victor Dubrugas, ficando a construção sob a responsabilidade do engenheiro Theodoro Sampaio. O magnificente edifício da Faculdade de Medicina da Bahia foi reinaugurado em 31 de janeiro de 1909, pelo preclaro e ilustrado diretor Dr. Augusto Cezar Vianna, que sucedeu a Alfredo Britto.

Concluídos, em 1909, os trabalhos de reconstrução e construção dos formosos pavilhões da Faculdade de Medicina da Bahia, avulta-se o esplendoroso Anfiteatro Alfredo Britto.

Projetado para 500 alunos, o Anfiteatro Alfredo Britto, de imponente rotunda, tem telhado coroado por grande e belo “lanternim”, circundado por graciosas colunatas gregas, sobre o qual emerge pomposo caduceu. Os que entram no resplandecente Anfiteatro, poema arquitetônico, que lembra os paços da Faculdade de Medicina de Montpellier, em França, quedam-se, subitâneos, silenciosos, comovidos e empolgados, ante a suntuosidade do seu interior, que a todos dá um sentimento de paz estudiosa e de religiosidade. Grinaldas e festões, de artístico e inspirado lavor, de suprema elegância, circundam e ornam o recinto, osculando a grandiosa abóbada. Dotado de cortinas, que se fecham automaticamente; quadro-negro, que se reveza com tela de projeção cinematográfica; acústica perfeita; excepcional conforto térmico e fartíssima iluminação, natural e artificial. Os bancos, cor de ébano, reluzentes, de conceituada madeira de lei, na sua santificada dureza, jamais são motivos de queixas de lombosacralgia e de inconvenientes e pudicas enfermidades pela estase venosa. Neles os estudantes de medicina literalmente “alisam os bancos das ciências”. A grande galeria está rodeada por lavoradas figuras de metal, belíssimas, assemelhadas a flor de lis, ligadas às grades de ferro que a circundam. À esquerda de quem entra, está exibida célebre e primorosa tela, de tamanho natural, onde o notável pintor Lopes Rodrigues retratou o diretor Alfredo Britto, descendo uma escada, coroado por esvoaçante representação pictórica da glória.

Congregando-se a Faculdade, em sessão de 24 de maio de 1909, onze dias após a morte do ínclito e benemérito diretor, foi deferida petição de diversos alunos, dando ao Anfiteatro o nome de Anfiteatro Alfredo Britto.

Em vida, além da comoção causada pelo incêndio da Faculdade de Medicina e dos naturais embates com as rudezas da inveja e da cobiça dos seus pares, e das ingratidões, experimentou Alfredo Britto o abalo medonhamente grande do drama de sua virtuosa esposa, D. Julia de Almeida Couto Britto, colhida pelo alfange inexorável da morte, no dia 8 de setembro de 1905, enfermada pelo sarampo, a bordo do paquete inglês “Thames”, da “The Royal Mail Steam Packet Company”, poucos dias depois de ter zarpado do porto do Recife, sendo sepultada na imensidão do oceano Atlântico, por se achar o vapor “Thames” longe de qualquer porto.

Além do mais, acabrunhava-o as injurias e aleives acusações, amiudamente repetidas e divulgadas pelas gazetas da Bahia, de autoria de celebrado lente da Escola, professor da cadeira de Higiene, em 1903, então vaga pelo falecimento do lente Joaquim Matheus dos Santos. Ademais, quedava-se acometido de molesto “spleen” pela sua pérfida e iníqua demissão, em 6 de junho de 1908, do lugar que honrava na direção da sua querida Faculdade de Medicina.

Apesar de tudo, a sua austeridade de caráter, rigidez de princípios inquebrantáveis, firmeza e resignação contra a adversidade, fizeram de Alfredo Britto o mais dinâmico, o mais prestante e o mais estimado diretor da Faculdade de Medicina, em toda a sua história.

Alfredo Thomé de Britto cerrou os olhos à luz aos quarenta e três anos de idade, no dia 13 de maio de 1909, às 13 horas, na Casa de Saúde do Dr. Augusto Villaça, em Itaparica, onde se encontrava em tratamento há mais de um mês.

THEODORO SAMPAIO
O infante de cor de ébano, que nasceu a 7 de janeiro de 1855, no Engenho Canabrava, em Santo Amaro, na província da Bahia, recebeu o nome de Theodoro, em apreço ao dia consagrado a S. Theodoro, monge. Além disso, sua avó paterna se chamava Theodora, daí o seu nome. Sua mãe: D. Domingas da Paixão, donairosa escrava do coronel Manoel Lopes da Costa Pinto, Barão e ao depois Visconde de Aramaré, que a herdara do tio, Manoel Lopes Rabelo.

Segundo testemunho de Pedro Dias dos Santos, topógrafo e auxiliar de Theodoro, em São Paulo, desde 1888, coadjuvando-o no “Relatório e estudos para o novo abastecimento d’água da cidade da Bahia”, dizia ao ilustrado Dr. Arnaldo Pimenta da Cunha, uma das principais fontes de referência desta palestra, “que posso afiançar e dizer”, ter sido Domingas da Paixão alforriada antes do nascimento de Theodoro, pois, este não nasceu escravo.” Por outro lado, o afamado escritor Humberto de Campos, em seu livro “Sombras que sofrem” escrevia: “Theodoro Sampaio bebeu o leite escravo, na escravidão do peito materno ... com o produto do seu trabalho de homem livre, emancipou legalmente seus irmãos, e emancipou mesmo, conta-se, a sua própria mai”. Sobre o assunto, Theodoro sempre manteve silêncio, reserva e discrição.

Sua genetriz teve seu nome lavrado como Domingas da Paixão no diploma de engenheiro-civil de Theodoro Sampaio, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 8 de fevereiro de 1881 (sic). Fontes escritas outras revelavam chamar-se Domingas da Paixão do Carmo. As duvidas persistem, porquanto não foram encontrados os assentamentos de batismo do insigne baiano nos livros da Arquidiocese. Em título eleitoral apresentado pelo genro de Theodoro, Luiz Antonio de Lacerda, ao historiador Dr. Arnaldo Pimenta da Cunha, lê-se: Theodoro Fernandes Sampaio, filiação Domingas Silva. Do mesmo modo, o nome Domingas da Silva está exarado no assentamento de casamento de Theodoro.

Domingas, era como chamavam a progenitora de Theodoro Sampaio na “casa grande” ou “sobrado”; no eito da roça dos escravos era tratada carinhosamente de “Mingas”; na “senzala”, nomeavam-na “Amingas”.

Ela dera à luz a Martinho, Ezequiel e Matias, de paternidade outra, antes de Theodoro nascer, e que foram, mais tarde, libertados pelo ilustre irmão, que só teve uma irmã, por parte de pai e mãe - Clotilde – a qual, contraindo himeneu com Miguel Estácio Moniz, tivera 22 filhos. (sic)

Ao traçar a biografia de Theodoro Sampaio, o ilustrado Dr. Arnaldo Pimenta da Cunha escrevia ter ouvido de alguns informantes que o Visconde de Aramaré era seu progenitor, em hipótese primeira. Escutou, ademais, de outros conceituados cidadãos, ser o honroso padre Joaquim Pinto, da capelinha do Engenho Canabrava, o seu genitor.

Outras estudos revelam ser o padre Manoel Fernandes Sampaio o pai de Theodoro, embora não haja confirmação por documentação, tendo o provável genitor o libertado do cativeiro.

Aos 2 anos de idade foi entregue a D. Inês Leopoldina, distinta senhora da sociedade de Santo Amaro da Purificação, que o criou até os nove anos de idade. Do eclesiástico recebeu, desde a sua puerícia, as primeiras letras. Estudou no colégio do professor José Joaquim dos Passos, em Santo Amaro.

Dizia-se ser filho do confessor do engenho Canabrava, célebre orador sacro, escritor apreciado e “poeta de valia”, que se transfere, ao depois, para a província de São Paulo, onde se torna capelão da freguesia de Pinheiros. Aos dez anos, o infante Theodoro foi para São Paulo, chamado pelo clérigo. Em seguida, o seu suposto pai mandou-o para o Rio de Janeiro, internando-o no Colégio São Salvador, do educador baiano Monsenhor José Joaquim da Fonseca Lima, onde estudou humanidades. Dipsomaníaco, o padre foi dispensado da capelania, suspenso da ordem e, mais tarde, interdito a sacris. Faleceu em 15 de dezembro de 1874.

Em 1872, ingressou na Escola Politécnica do Rio, graduando-se em engenheiro civil em 1877 (sic). Estudante do 4º ano de engenharia, trabalhou no Museu Nacional, onde conheceu Orville Derby e trabalhou com Ladislau Neto, diretor do dito Museu.

A progenitora de Theodoro morreu em Santo Amaro da Purificação, em 10 de dezembro de 1891.

“No oratório da casa de residência do Doutor Francisco João Fernandes” ... , casou-se Theodoro aos dezoito dias do mês de janeiro de 1882, na freguesia de Santo Antonio Além do Carmo, nesta cidade da Bahia. Sua consorte: D. Capitulina Moreira Maia, “filha legitima de Fructuoso Moreira Maia e D. Theothonia da Silva Maia, aquelle (Theodoro Fernandes Sampaio) filho natural de Domingas da Silva.” Tiveram 9 filhos: 7 homens e 2 mulheres.

D. Capitulina, esposa de Theodoro, faleceu em Salvador, em estado de demência, em 1920, em um sitio do Saboeiro, nos arredores da cidade de Bahia.

Manteve Theodoro um relacionamento com D. Maria da Glória Espinheira Fonseca, da sociedade paulistana, com quem teve três filhos.

No Rio de Janeiro, ao depois, casou-se em segunda núpcias com D. Amália Barreto, não tendo filhos nessa união.

Em 1879, fez parte da “Comissão Hidráulica do Império”, criada em 1879, destinada a promover o progresso dos portos e da navegação dos grandes rios brasileiros. Estudou e projetou os melhoramentos do porto de Santos e os do Rio de Janeiro. No ano de 1883, foi nomeado primeiro engenheiro para a Comissão de Melhoramentos do Rio São Francisco. Em 1886, seguiu para São Paulo para estudar o levantamento da carta geológica daquela província, a pedido do notável geólogo Orville Derby. Em 1889, foi diretor e Engenheiro Chefe do Saneamento do Estado de São Paulo, servindo nas ditas funções até 1903.

Em 1901, publicou “O Tupy na Geografia Nacional”

Em 11 de abril de 1904, retornou à Bahia, vindo do Rio de Janeiro pelo paquete inglês
“Thames”, com a finalidade de coordenar providências e esforços relativos aos estudos e projetos do abastecimento de água e saneamento da capital, assinando a 19 de maio com a Municipalidade o contrato de serviço, transferido, ao depois, à firma social “Theodoro Sampaio & Paes Leme”.

Em março de 1905, acompanhando projeto arquitetônico de Victor Dubrugas, coordenou, com Alfredo Britto, as azáfamas de reconstrução da Faculdade de Medicina da Bahia, injuriada por catastrófico incêndio.

Projetou e construiu o Instituto Clínico da Faculdade de Medicina da Bahia, anexo ao Hospital Santa Isabel, mais tarde denominado Instituto Alfredo Britto; o pavilhão para tuberculosos do Hospital Santa Isabel; o Liceu Salesiano de Salvador, a praça Duque de Caxias e projetou o túnel Américo Simas, em Salvador.

Afamado geógrafo e historiador de escol, publicou a “Historia da Fundação da Cidade
do Salvador”. Tupinólogo, escreveu várias monografias. Mandou para a Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro o seu trabalho intitulado “Os kraôs do Rio
Preto no Estado da Bahia, com um vocabulário e uma carta etnográfica”; para a
revista Santa Cruz, em São Paulo, enviou a “Contribuição para a história da catequese e civilização dos índios do Brasil”; para o “Diário da Bahia” remeteu o artigo sobre a “Carta Geográfica da Bahia”; para “A Tarde” mandou as referências sobre a “Igreja da Ajuda”, além de vários artigos para diversas gazeta da Bahia.

Em a noite de 3 de maio de 1913, pronunciou o seu primeiro discurso no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em substituição ao orador oficial. Oito dias depois, recebeu comunicação de que fora eleito orador e membro da Comissão de Revista e Estudos e, em 22 de dezembro de 1922, recebeu a notícia de que fora elevado à presidência do sobredito Instituto. Para esta mesma instituição, preparou, durante 17 anos, de 1913 a 1930, vinte e cinco discursos que nela pronunciou, além de dez memórias, pareceres e comunicações constantes das Revistas. Apresentou ao 5º Congresso de Geografia dois trabalhos e duas cartas geográficas. Saudou, em nome da Bahia, a Ruy Barbosa, Octavio Mangabeira e Miguel Calmon. Escreveu discurso que proferiu, no dia 10 de junho de 1832, na “Federação das Sociedades Portuguesas”, em sessão solene realizada no Gabinete Português de Leitura.

Em 1919, publicou o “Relatorio dos Estudos e Projectos para uma Cidade Nova – (A Cidade Luz) –Na Pituba, nos terrenos de propriedade do Sr. Manoel Dias da Silva, projecto que contém influências das cidades-jardins de Howard e de Camillo Sitte”.

Fez parte, por mais de um decênio (1925-1936) da administração da Casa da Santa Misericórdia da Bahia, como consultor (1925 a 1932) e como definidor (1933 a 1936), Foi Mordomo de Obras da pia casa e do Hospital Santa Isabel.

Em 1927, foi eleito Deputado Federal pela bancada da Bahia.

Nos últimos dias de sua vida, escreveu a “Historia da Fundação da Cidade da Bahia” , obra póstuma, porquanto, antes de morrer, deixou incompleto o último capítulo.

Faleceu a 15 de outubro de 1937, no Rio de Janeiro, sendo sepultado no cemitério de S. João Batista. Há alguns anos, seus restos mortais foram trasladados para Salvador, sendo seu esqueleto examinado pelo notável médico legista Dr. Lamartine de Andrade Lima. Hoje, Theodoro Sampaio repousa, piedosamente, em urna funerária no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, projetada, de maneira primorosa, pelo Dr. Lamartine.

Em 30 de abril de 1909, foi, sem nenhuma solenidade, franqueada aos lentes, aos discípulos e ao público, a recém-construída Biblioteca da Faculdade de Medicina, bela e imponente – concretização dos esforços e ideais de Alfredo Britto e Theodoro Sampaio. Na oportunidade, foi colocada em uma parede da sala destinada à leitura dos estudantes, uma placa de mármore branco, onde estava lavrada: “A construcção da Bibliotheca foi iniciada sendo presidente da República o Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves e Ministro do Interior o Dr. Jozé Joaquim Seabra. E terminada em 30 de Janeiro de 1909. Inaugurada a 30 de abril sendo presidente da Republica o Dr. Affonso Augusto Moreira Pena, ministro do Interior, o Dr. Augusto Tavares de Lyra e director da Faculdade de Medicina o Dr. Augusto Cezar Vianna”.

Os dizeres desta pedra deram lugar a justos brados de clamores de lentes e discípulos e até do público, pela injusta e não perdoável lacuna dos insignes nomes de Alfredo Britto e Theodoro Sampaio. A diretoria, para saná-la, mandou colocar na galeria do pavimento superior do edifício da Faculdade, aos lados da porta do Gabinete Abbott, duas lápides, em uma das quais, do lado esquerdo, registava que as obras do novo edifício da Faculdade foram iniciadas sob a direção do engenheiro Theodoro Sampaio, sendo Diretor da Faculdade, Dr. Alfredo Britto.

Alfredo Britto e Theodoro Sampaio!

Vocês não ficaram escondidos pela fria penumbra da morte, pois refulgem aos gloriosos clarões da história da Medicina da Bahia. Os ímpios abismam-se no túmulo; eles não avultam no reconhecimento dos pósteros, nem pelo culto da gratidão, nem pelos prantos mais eloqüentes da saudade. Todavia, vocês, beneméritos, que assinalaram a sua passagem pela terra, sobressaem por entre as irradiações da glória e os aplausos da geração que há de porvir.

Disse.

FONTES PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS
Britto, Antonio Carlos Nogueira – A Medicina Baiana nas Brumas do Passado; Contexto e Arte Editoria – Avenida Adhemar de Barros, 162 – Ondina, Salvador, Bahia; Governo da Bahia, Secretaria da Cultura e Turismo; egba, Empresa Gráfica da Bahia – 2002 – pp. 311-316; 317-322; 323-330
FONTES SECUNDÁRIAS
Cunha, Arnaldo Pimenta da – Theodoro Íntimo - Revista do Instituto Geographico e Histórico da Bahia – N. 69 – 1943 – pp. 102-139
Souza, Antonio Loureiro de – Baianos Ilustres – 1564-1925 - Editora Beneditina, rua do Paraíso, 6 – Salvador Bahia – 1973 – pp. 193-194

Costa, Luiz Augusto Maia (2001) – O Ideário Urbano Paulista na Virada do Século. O Engenheiro Theodoro Sampaio e as Questões Territoriais e Urbanas Modernas (1886-1903)
1.Theodoro Sampaio: Vida e Obra de um Engenheiro Negro Brasileiro (1855-1937)
1.1. Breve biografia de Theodoro Sampaio – p.22
1.2. www.usp.br/pesquisa/1teses/costalam/indice.html

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