HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 23
Memória Histórica do Colégio Médico-Cirúrgico da Cidade da Bahia (1815-1832)
Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins
Fundado em 29 de novembro de 1946
Parte I

Prolegômenos cronológicos. Notícias breves para referir os principais sucessos e salientar as pessoas mais notáveis da cidade da Bahia desde o ano do surgimento da primeira gazeta publicada nesta capital, em 14 de maio de 1811, A Idade d’Ouro do Brazil, a segunda folha impressa no Brasil, até 29 de dezembro de 1815, quando foi criado o Colégio Médico-Cirúrgico desta cidade.

Parte II
Memória Histórica do Colégio Médico-Cirúrgico da cidade da Bahia (1815-1832)
Exposição histórica, narrada por miúdo, exata e fielmente fundamentada em fontes manuscritas primárias e inéditas, raras e preciosas, desde o estabelecimento do Colégio Médico-Cirúrgico da Cidade da Bahia, no dia 29 de dezembro de 1815, estendendo-se a narrativa dos épicos sucessos do dito “Collegio” até a instituição da Faculdade de Medicina da Bahia, sancionada pelo decreto de 3 de outubro de 1832.
Parte I
PROLEGÔMENOS CRONOLÓGICOS
ANO DE 1811

Na terça-feira, 14 de maio de 1811, começava a circular o número 1 da gazeta Idade d’Ouro do Brazil, impressa na “Typographia de Manoel Antonio da Silva Serva”, segundo jornal dado a lume no Brasil, antecedido apenas pela Gazeta do Rio de Janeiro, que já era publicada desde 1808. Seu fundador e proprietário era natural de Villa Real e comerciante em Lisboa. A sobredita tipografia, localizada no morgado de Santa Bárbara, na freguesia da Conceição da Praia, teve permissão para funcionar pela carta régia datada de 5 de fevereiro de 1811 e despachada em 11 de abril por D. Marcos de Noronha e Britto, 8º Conde dos Arcos , Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. O Conde dos Arcos nomeou o professor José Francisco Cardoso de Morais, a 15 de janeiro de 1812, censor da pioneira gazeta. O jornal Idade d’Ouro do Brazil circulava duas vezes por semana, às terças e sextas-feiras e seus assinantes pagavam pela subscrição, até 31 de dezembro de 1811, a quantia de 8$000. A assinatura anual para o ano seguinte custava 7$200; a do semestre foi fixada em 4$000 e a trimestral em 2$400. O preço para os anúncios foi estabelecido em 100 réis por linha. A dita gazeta circulou de 14 de maio de 1811 a 24 de junho de 1823.

O jornal trazia estampada as Armas de Portugal entre as palavras do título, no formato maior, IDADE e D’OURO e sobre as palavras DO BRAZIL, em formato menor. Como epígrafe, sob o nome da gazeta e sob a data, estavam impressos os versos de Sá, e Miranda:

“Fallai em tudo verdades
A quem em tudo as deveis.”

São as seguintes as duas primeiras notícias internacionais, impressas na primeira página do “Num. 1”, do jornal sobredito:

GRAMBRETANHA. / Londres 10 de Fevereiro de 1811. / Quarta feira 6 do corrente teve lugar a Ceremonia da installação do Principe de Galles em Regente da Gram-Bretanha por virtude de um acto do Parlamento, que em consequencia do estado de molestias do Rei seu Pai Declarou que áquelle Principe pertencia a Regencia dos Reinos Unidos em Nome, e com o consentimento de SUA MAGESTADE BRITANICA.
Na folha = The Courier = de Sabbado 16 de Fevereiro se leem dois interessantes artigos da tomada de Batavia, e da Ilha de Banda estabelecimento Holandezes na Asia, que ainda pertubavão a tranquilidade absoluta da Gram-Bretanha naquelles mares. O primeiro he huma conjectura deduzida de hum Officio do General Abercromby o Conquistador da Ilha de França; mas o segundo he Official confirmado até pela sahida do Governador, e Magistrados da Ilha do Principe de Galles para a conquistada Ilha de Banda.”
HESPANHA. /Cadiz 5 de Março./ Nas Gazetas extraordinarias da Regencia desse dia vem insertos hum Officio de D. Manuel La peña General em Chefe interino do quarto Exercito, em que participa ao Chefe do Estado Maior General a tomada pelo Exercito do seu Commando do interessante ponto de Casas Viejas, e a de Berguer pelo Coronel Aymerich; Hum aviso do Telegrapho de Sancti Petri de se ser tomado sem ser disparar hum tiro; E a participação verbal da derrota do Exercito Francez com perda de 5 peças d’artilharia, bastantes prizioneiros, e hum General, mandada pelo Generel em Chefe D. Manoel La peña ao Conselho da Regencia.”/ “... ... .../ ”

Domingo, 4 de agosto – Nesta data, foi inaugurada a Biblioteca Pública da Bahia. O jornal Idade d’Ouro do Brazil, a respeito do acontecimento, anunciou na edição de 4 de agosto de 1811, a venda, ao preço de 160 réis, da impressão do “DISCURSO /RECITADO/ NA SESSÃO DE ABERTURA/ DA LIVRARIA PUBLICA DA BAHIA/ NO DIA 4 DE AGOSTO DE 1811/ POR SEU AUTOR/ P.G.F.C ./ - (1). / (Pequeno ornamento tipográfico) / BAHIA:/ NA TYPOGRAPHIA DE MANOEL ANTONIO DA SILVA SERVA./ Com as licenças necessarias.”

Em fins de 1811, foi impresso o “ALMANACH/ PARA/ A CIDADE DA BAHIA/ ANNO 1812” na tipografia de Manoel Antonio da Silva Serva, com as licenças necessárias. A edição de 17.12.1811 do jornal Idade d’Ouro do Brazil, consignava: “Sahio á luz o Almanach da Cidade da Bahia para o anno de 1812. Vende-se na Loja da Gazeta por 1$000 em Broxura.”

A respeito da sobredita Livraria Publica, informa o mencionado “Almanach”, nas páginas 235-238: “LIVRARIA PUBLICA/ Estabelecida no Collegio dos extinctos Jesuitas”./ - “Este util estabelecimento foi lembrado pelo Erudito Pedro Gomes Ferrão, que traçou as primeiras linhas do Plano da sua creação, o qual tendo sido benignamente acolhido, e poderosa, e eficazmente auxiliado pela Sabedoria de S. Excellencia o Senhor Conde General, mereceo tambem a Augusta, e Graciosa Approvação de S. A. R.”

“Directores, e Administradores das Subscripções Voluntarias que se destinão para fundo da Bibliotheca publica.”

“Pedro Gomes Ferrão. Ao Maciel N. 8.
José Avelino Barboza. Rua dos Capitães N. 52.”. - (2)

“São eleitos annualmente a pluralidade de votos dos Subscriptores.”

“Secretario.
O Padre Francisco Agostinho Gomes. Beco das Morôas N. 8.
Thesoureiro.
Manoel José de Mello. Rua de baixo N. 18.
Bibliothecario.
Lucio José de Mattos. Rua da faísca N. 3.
Porteiro.
Domingos José Soares. Rua do Portão N. 20.
Serventes.
Antonio José da Assumpção. Encarregado de cobrar as subscripções. A’s Grades de ferro N. 17.
Francisco Manoel Gonçalves. Encarregado da limpeza dos livros. Ladeira da Praça N. 22.”

“A Livraria está aberta ao publico em todos os dias de manhã, e de tarde, excepto nas Quartas feiras.”

“Redactor da Gazeta.
Denominada a Idade de Ouro do Brazil.”
“Gonçalo Vicente Portela. Rua de baixo N. 143.
Proprietario da Officina Typographica.
Manoel Antonio da Silva Serva. Trapixe do Andrade N. 1.
Director, e Mestre da Officina.
Marcelino José. Na mesma Officina.
Corrector.
Bento José Gonçalves Serva. Na mesma Officina.”

“Tem mais 6 aprendizes da Composição, 4 Serventes dos Prélos, todos habilitados desde o estabelecimento da Officina, e hum Encadernador.”
“O Proprietario compra todos os Manuscriptos que se lhe offereção devidamente licenciados.”

Hospital Real Militar da Bahia. - (3)

No ano de 1811, trabalhavam no Hospital Real Militar da cidade da Bahia os seguintes empregados:

“Inspector.
O Sargento Mór Luiz Moniz Barreto. No Hospital.
Administrador.
José Joaquim dos Santos Franco. Travessa do Açouguinho N. 7.
Escrivão.
Rodrigo da Costa Castro. Rua do Paço N. 74.
Medicos.
Antonio Ferreira França. Casa da Opera N. 33. - (4)
João Ramos de Araújo. Guindaste dos Padres N. 9.
Cirurgião Mór, e Delegado do Cirurgião Mór dos Exercitos.
José Soares de Castro. Nazareth N. 7. - (5)

Capellão.
O Padre José Pinheiro Requião. No Hospital.”

“Provedoria da Sau’de.”

Era a Provedoria da Saúde administrada pelos seguintes funcionários:

“Provedor.
O Ouvidor da Comarca José Raimundo de Passos de Porbem de Barbosa. Travessa do Açouguinho . N. 23.
Guarda Mór.
Domingos José Correa. Rua d’Ajuda N. 26.
Médico.
João Ramos de Araújo. Guindaste dos Padres N. 22.
Cirurgião.
José Soares de Castro. Á Nazareth. N. 287.
Escrivão.
Antonio da Costa. No Rio de Janeiro.
Meirinho.
João Chrysostomo. Rua do Pão de ló N. 22.”

Casa da Santa Misericórdia

“Meza da Misericordia”
“Provedor.
Manoel Ferreira de Andrade. A S. Francisco N. 16.

Medicos do Partido.
José Avelino Barboza. Rua dos Capitães N. 52
Cirurgiões do Partido
José Alves Vianna. Rua de baixo N. 129.
João Dias da Costa. Á Cruz do Azulejo N. 254.”


Hospital de São Cristóvão da Caridade. - (6)

“Debaixo da Administração da Casa da Misericordia está não só o Hospital de S. Christovão da Caridade, e a Casa dos Expostos, mas tambem o Recolhimento das mulheres honestas que instituio e dotou João de Matos Aguiar, e que se acabou pelos annos de 1714, governando o Vice-Rei Marquez de Angeja, tendo sido concedida a Provizão para a sua fundação em 21 de Março de 1702.”

“Numero dos Doentes,


Que entrárão, sahirão curados, e fallecérão no Hospital geral da Caridade desde Julho de 1810, até outro tal dia de 1811.

Entrarão Homens....................................694
---------Mulheres..................................118
------------------------------------------812

Sahirão curados.......................................529
Fallècerão...............................................145
Ficarão existindo no curativo......................138
-------------------------------------------812

Número dos Expostos em todo o dito tempo.

Lançarão-se na roda............................... 103
Entregárão-se a seus Pais ........................ 13
Fallecérão...............................................20
Ficarão existindo na creação......................70
-------------------------------------------103”

“Hospital Real de S. Christovão dos Lazaros”.

“Este benefico estabelecimento he devido á lembrança, actividade, e zêlo do Governador, e Capitão General D. Rodrigo José de Menezes, que lançou os seus primeiros fundamentos no anno de 1874. Para a sua manutenção se applicárão, não só os rendimentos que tirassem do predio rústico em que está edificado, e que fôra dos extinctos Jesuitas, mas tambem o liquido do rendimento annual do Celeiro Público creado pelo mesmo tempo, e de que já fizemos menção.”

“Inspector.
O Tenente Coronel Manoel Henriques de Carvalho. No mesmo Hospital.
Thesoureiro.
Gualter Martins da Costa Guimarães. Forte de S. Francisco N. 64.
Medico
José Avelino Barboza. Rua dos Capitães N. 52.
Cirurgião.
Manoel Coelho. Rua dos Marchantes N. 4.
Capellão.
O Padre José Machado. No mesmo Hospital.”

“Ha ordinariamente no Hospital de 70 a 80 doentes.”

“Juízo do Proto-Medicato (7)
Pelo que respeita aos Medicos,
e Boticarios.”


Delegado do Fysico Mor do Brazil.
José Antonio Costa Ferreira. Rua de baixo N. 23
Escrivão privativo da Medicina.
João Antonio da Fonseca Léssa. Rua do Fogo N. 6.
Meirinho.
Antonio Joaquim da Silva. Rua Nova de S. Bento N. 2
Seu Escrivão.
Francisco Guerreiros. Rua do Bangala N. 13.”

“Juízo do Proto-Medicato
Pelo que respeita aos Cirurgiões,
Barbeiros, e Parteiras.”

Delegado do Cirurgião Mór do Brazil.
Manoel José Estrella. Rua de João Pereira N. 9. - (8)

Escrivão privativo da Cirurgia.
Joaquim Tavares de Macedo Silva.Rua de trás da Cadêa N. 12.
Meirinho.
Luiz Machado Anastacio de S. Anna. Rua da Ajuda N. 8.
Seu Escrivão.
Francisco Innocencio Villaça. Rua do Portão da Piedade N. 6.”

“Medicos residentes na Cidade.”

“Alexandre José da Cruz. Ao Pilar N. 44.
Antonio Ferreira França. Ladeira da Palma N. 33.
Diogo Ribeiro Sanches. Á S. Bento N. 397.
Estevão da Silveira Menezes. Rua do Saboeiro N. 3.
João Ramos de Araújo. Guindaste dos Padres N. 22.
José Antonio da Costa Ferreira. Rua de baixo N.23.
José Avelino Barboza. Rua dos Capitães N. 52.

Cirurgiões Approvados.

Alexandre Nogueira. S. Raimundo N. 10.
Antonio José Pereira Barroso. Á Preguiça N. 56.
Antonio Pinto de Mesquita. Cruzeiro de S. Francisco N. 23.
Bernardo Antonio de Araújo. A S. Bárbara N. 39.
Christovão Pereira da Silva. Rua d’Ajuda N. 7.
Cypriano José Barata de Almeida. Á Saúde N. 18. - (9)
Cypriano Leite Machado. Ao Cabeça N. 8.
Domingos Luiz da Silva. Rua do pão de ló N. 4.
Francisco Luiz Reina. Á Preguiça N. 1.
Francisco Manoel Teixeira. Canto de João de Freitas N. 3.
Francisco Mendes da Silva. Ás Brotas.
Francisco Rodrigues Nunca. Atrás de S. Pedro Velho N. 10.
Gonçalo de Jesus Silva. Beco do Garapa N. 4.
O Reverendo Padre Ignacio de Jesus Maria. Rua da Misericordia N 48.
Ignacio Quirino. Aos Perdões N. 67.
Ignácio dos Santos Marques. Rua do fogo N. 2.
João Alves Vianna. Rua de baixo N. 129.
João Dias da Costa. Cruz do Azulejo N. 254.
João Pereira de Miranda. Ás Portas do Carmo N. 8. - (10)
Joaquim Gonçalves Grave. A .S. Antonio Alem do Carmo. N. 38.
José Agostinho da Silva. Em Itapagipe.
José Alves de Abrêo. Atrás de Palacio N. 6.
José Alves Barata. Á Nazareth N. 11.
José Filippe de Almeida. Ladeira da Saúde N. 20.
José Francisco Machado. Casa da Pólvora N. 11.
José Manoel Antunes da Frota. Ao Unhão N. 1.
José Pereira da Costa. A S. Miguel N. 34.
José Silverio de Oliveira Dantas. Ao Aljube N. 20.
José Soares de Castro. Á Nazareth.
Julião José Ribeiro Salomão. Á Barroquinha N. 5.
Luiz Francisco. Rosario de João Pereira N. 1.
Luiz Francisco Petit. Á Preguiça N. 6.
Luiz José de Castro. Á Saúde N.22.
Luiz José da Costa. Rua do Collegio N. 16.
Manços Vieira da Horta. Ás Portas do Carmo N. 9.
Manoel Amado Coutinho Barata. Á Palma N. 4.
Manoel de S. Anna Bulcão. Rua do Bispo N. 11.
Manoel Coelho dos Santos. Á Cruz do Pascoal N. 4.
Manoel Fernandes Nabuco. Atrás da Sé N. 3. - (11)
Manoel José Estrella. Rua de João Pereira N.9.
Nicoláo Pereira Barreto. Largo de S. Pedro N. 7.
Valerio Luiz Pereira. Á Barroquinha N. 28.
Vicente José Ferreira. Á Preguiça N. 8.”


“Estabelecimentos, e Pessoas que respeitão á Instrucção Publica.”

“De Anatomia, e Operações Cirurgicas.”
“No Hospital Real Militar.
José Soares de Castro. Á Nazareth N. 287.”

“De Cirurgia especulativa, e pratica,
No mesmo Hospital.”
Manoel José Estrella, Rua de João Pereira N. 9.”


“Fallecêo”
“O Cirurgião Mór do 1º Regimento de Infantaria de Linha, João Pereira de Miranda.” - (12)


“Directoria do Theatro de S. João da Bahia.”
“Presidente.
Francisco Gomes de Souza. Saboeiro N. 10.
Administrador.
Manoel José Machado. Boa Vista.
Thesoureiro.
Manoel José de Mello. Rua de baixo N.18.
Escrivão.
João Vieira Rodrigues de Carvalho e Silva. Rua do Sodré N. 7.”

Cf. “ALMANACH /PARA/A CIDADE DA BAHIA / ANNO 1812 / BAHIA – Na Typ. de Manoel Antonio da Silva Serva./ Com as licenças necessarias.” – CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA DA BAHIA, 1973 – 150 ANOS DA INDEPENDENCIA DA BAHIA – Cidade do Salvador, 1973 – Nota introdutória de Renato Berbert de Castro - Reprodução facsimilar. (Do acervo da biblioteca particular do Autor).

ANO DE 1812

A edição de 10 de abril de da folha Idade d’Ouro do Brazil anunciava a venda “na Loja da Gazeta, impressas na Typographia da Bahia.”, ao preço de 320 réis o exemplar, a CARTA APOLOGETICA SOBRE A NECESSIDADE DE PRATICAR OS REMEDIOS PURGANTES EM TODA A SORTE DE FEBRES HERYSIPELOSAS: E NAS BELIOSAS, PODRES OU MALIGNAS NÃO SÓ SE DEVEM PRATICAR ESTES LOGO NO PRINCIPIO, MAS ALGUMAS VEZES ANTEPOR O VOMITORIO COM AS CONDIÇÕES QUE ACAUTELÃO OS PRATICOS: ESCRIPTA A HUM PROFESSOR DE ARTE AMIGO DO AUTOR.

A Carta Apologética é de autoria de Antonio Soares de Macedo Lobo, sendo publicada em Lisboa em 1780, sem o nome do autor.
Cf. Castro, Renato Berbert de – Op. cit.

A Idade d’Ouro do Brazil, de 6 de março de 1812, anunciava a impressão na Tipografia de Manoel Antonio da Silva Serva, ao preço de 1600 réis: ELEMENTOS / DE / OSTEOLOGIA / PRATICA, / OFFERECIDOS / AO / ILLUSTRISSIMO SENHOR DOUTOR / JOSÉ CORREIA PICANÇO, / Cavalleiro Professo, e Commendador da Ordem, de Christo; / Cavalleiro da Ordem da Torre e Espada, Fidalgo da / da Real Casa, do Conselho do Príncipe Regente Nosso Se- / nhor, seu Medico, e Primeiro Cirurgião da Real Camara, / Lente Jubilado pela Universidade de Coimbra, Cirurgião / Mór do Reino, e Conquistas, &c, / POR / JOSÉ SOARES DE CASTRO / Cavalleiro Professo na Ordem de Christo, Cirurgião Mór, / do Real Hospital Militar. Lente da Cadeira Regia de Ana- / tomia, e Operações Cirurgicas, e Delegado do Cirurgião / Mór / dos Reaes Exercitos na Cidade. e capitania da Bahia. / Bahia: ANNO M. DCCC.XII. / NA TYPOGRAPHIA DE MANOEL ANTONIO / DA SILVA SERVA. / Com as licenças necessarias.

Continha 99 páginas numeradas, mais as páginas não numeradas, referentes ao “numeramento” dos ossos dos ossos do esqueleto no adulto, índice e erratas e páginas do prólogo e carta do A. ao dedicado.

A respeito da sobredita obra, J. A. Pires de Lima observou: “Na parte I, além da Osteologia, e entre os ossos da cabeça, inclui os dentes. Não é muito propria, ás vezes, a nomenclatura dos ossos: ao unciforme chama “crochu” ou ganchoso e aos dedos do pé chama, á francesa, “artelhos”.

Coube ao professor José Francisco Cardoso de Morais, por ordem do Conde dos Arcos, a censura dessa obra, a primeira publicada na Bahia sobre Medicina: “P.ª o Professor José Francisco Cardoso. Remetto a Vm.ce, o Manuscripto incluzo, intitulado = Elementos de Osteologia Pratica, para que Vm.ce o examine, se nelle se não conthem, couza que obste o darse. a prelo. D.s G.e a Vm.ce B. a 20 de Agosto de 1811. Conde dos Arcos. Sr. Professor José Francisco Cardozo.”
José Francisco Cardoso de Morais era, segundo Sacramento Blake, “ ... professor regio da língua latina ... poeta primoroso e apaixonadíssimo dos poetas latinos.”
Cf. Castro, Renato Berbert de - Op.cit.

ELOGIO PARA SE RECITAR NA ABERTURA DO REAL THEATRO DE S. JOÃO NO FAUSTISSIMO DIA 13 DE MAIO, NATALICIO DO PRINCIPE REGENTE NOSSO SENHOR, OFFERECIDO AO EXM. SR. CONDE DOS ARCOS.

A Idade d’Ouro do Brazil, em edição de 2 de junho de 1812 anunciava: “Sahirão á Luz o Elogio, que se recitou, e o Hymno que se cantou no Theatro de S. João da Bahia no dia 13 de Maio de 1812, Dia dos Faustissimos Annos de S. A. A. o Príncipe Regente.”
Sacramento Blake atribui a autoria do Elogio ao censor oficial das obras destinadas ao prelo da tipografia baiana, José Francisco Cardoso de Morais.
Cf. Castro, Renato Berbert de – Op. cit.

ANO DE 1813

Na edição de 20 de julho de 1813, a folha Idade d’Ouro do Brazil notificava: “AVISOS / Sahio á luz a 2ª parte do Curso de Anatomia, composta pelo Lente da Cadeira Regia desta Sciencia, e Cirurgião Mór do Hospital Real Militar, José Soares de Castro; o qual promette igualmente dar á luz as partes seguintes, que já tem arranjadas para se imprimirem, logo que, o expediente da Imprença o permittir. Vende-se na Loja da Gazeta, ed na de Joaquim Marques Pessoa, atraz da Sé, pelo preço de 1600 réis.”
A obra estava intitulada : TRATADO DE ANATOMIA, DA MYOLOGIA, PARTE II. POR JOSÉ SOARES DE CASTRO.

J. A. Pires de Lima comenta: “Na parte II da sua obra, SOARES DE CASTRO confessa achar de pouca utilidade a nova nomenclatura miológica de CHAUSSIER, no tocante a músculos. Mas pareceu-lhe conveniente colocá-lo a par da antiga, para que os seus alunos não ignorassem a nomenclatura topográfica, quando a ouvissem a outros.”
O ilustre e saudoso historiador baiano, professor Renato Berbert de Castro, na sua obra magnífica “A primeira Imprensa da Bahia e suas publicações / Tipografia de Manuel Antonio da Silva Serva, cita o trabalho do professor Joaquim A. Pires de Lima: “Como foi iniciado o ensino da Anatomia no Brasil.” In Brasília, vol II, págs. 373/386.

Em 1813, a tipografia de Serva imprimia DA FEBRE./. E / DA SUA CURAÇÃO./ EM GERAL, / OU NOVO E SEGUNDO METHODO / De curar facilmente, por meio dos acidos / mineraes, todas as especies de Febre; / PELO / DOUTOR / GOTOFREDO / CHRESTIANO / REICH, / traduzido do Alemão em Francez / pelo DOUTOR MARC. / Tirado em linguagem, e ampliado com anno./ tacões / POR / M. J. H. DE P./ BAHIA./ NA TYP. DE MANOEL ANTONIO DA SILVA SERVA. / ANNO 1813./ Com as licenças necessarias.

Edição de 130 páginas. Apesar de datado de 1813, a obra somente “sahio á luz” em 1814.
Cf. Castro. Renato Berbert de – Op. cit.

ANO DE 1814
A I , de 14 de abril de 1815 noticiou a publicação da obra intitulada TRATADO DE ANATOMIA. DA ANGIOLOGIA, PARTE III. POR JOSÉ SOARES DE CASTRO.

Vendia-se na “Loja da Gazeta por 1600.”

Segundo J. A. Pires de Lima, in “Como foi iniciado o ensino da Anatomia no Brasil.”, na parte III do Tratado de Anatomia , Soares de Castro definiu: “a parte da Anatomia, que trata dos vasos” ... que “são uns canais nos quais circulão os líquidos de toda a especie.” Trata das artérias, das veias e dos linfáticos, mas não descreve o coração” ...
Cf. Castro, Renato Berbert de – Op. cit.
ANO DE 1815

MEMORIA SOBRE A EXCELLENCIA, VIRTUDES E USO MEDICINAL DA VERDADEIRA AGUA DE INGLATERRA DA INVENÇÃO DO DOUTOR JACOB DE CASTRO SACRAMENTO, ACTUALMENTE PREPARADA POR JOSÉ JOAQUIM DE CASTRO. POR MANOEL JOAQUIM HENRIQUES DE PAIVA. (13)

Diz Renato Berbert de Castro, na sua monumental obra, que “No Catalogo Geral nº 2, de o Mundo do Livro, de João Rodrigues Pires, Lisboa, sem data , lê-se: “3024. HENRIQUES DE PAIVA (Dr. Manuel Joaquim), Memoria sobre a excellencia, virtudes, e uso medicinal da verdadeira Água de Inglaterra da invenção de Castro do Dr. Jacob Sarmento ... actualmente preparada por José Joaquim de Castro, na sua real fabrica, por decretos de Sua Alteza Real e Principe Regente N. S. ordenada Por M. J. H. de P. Impressa na Bahia na Typ. de Manoel Antonio da Silva Serva, no anno de 1815, com as licenças necessarias. 4ª edição. Lisboa na Imprensa Nacional, 1845, In-4º, de X pags.prels. e 56 pags. nums.. Br. 120$00.

A Idade d’Ouro do Brazil apontou em 17 de outubro de 1815 o TRATADO DE ANATOMIA. DA NEVROLOGIA, PARTE IV. POR JOSÉ SOARES DE CASTRO.

Segundo Renato Berbert de Castro, J. A. Pires de Lima apresentou a seguinte crítica: “ ... na parte IV (Nevrologia), não descreve o sistema nervoso central.” Antes de enunciar este parecer, regista o ilustrado Pires de Lima: “Parece-me que ficaria incompleto o Tratado de Anatomia de JOSÉ SOARES DE CASTRO. Ao menos não conheço a sua descrição do sistema nervoso central, que não foi versado na parte IV , nem a Esplancnologia, nem a Estesiologia.”

Consoante Sacramento Blake, di-lo Renato Berbert de Castro, Soares de Castro publicou uma quinta parte do seu Tratado de Anatomia, em 1829: “Da Splenchnologia.”

No ano de 1815, a tipografia de Manoel Antonio da Silva Serva publicou: MEMORIAS / PHYSIOLOGICAS, E PRATICAS / SOBRE / O ANEURISMA, / E A LIGADURA DAS ARTERIAS. / POR / J. P. MAUNOIR, / Membro da Sociedade de Medicina de Paris, da / Sociedade para o progresso das Arte, e da de / historia natural de Genebra. / COM FIGURAS . / TRADUZIDAS, E OFFERECIDAS / AO ILLmo . e EXmo. SENHOR / D. MARCOS DE NORONHA / E BRITO, / Conde dos Arcos, do Conselho de S. A. R. , Grão-Cruz / da Ordem de Aviz, Gentil Homem da Camara / do Serenissimo Principe da Beira, Marechal de / Campo dos Reaes Exercitos, Governador e Capi- / tão General desta Capitania. / POR / JOSÉ SOARES DE CASTRO, / Cavalleiro Professo da Ordem de Christo, Lente / de Anatomia e ce Medicina Operatória, Cirurgião Mór / do Hospital Real Militar, e Delegado do Cirurgião / Mór dos Reaes Exercitos nesta Cidade e Capitania.
Continha 136 páginas.

Sacramento Blake cita a publicação MEMORIA SOBRE A ENCEPHALOCELLE. POR MANOEL JOAQUIM HENRIQUES DE PAIVA, segundo informa Renato Berbert de Castro.

 
FINAL DA PARTE I: – PROLEGÔMENOS CRONOLÓGICOS:
(PERÍODO: 1811-1815)

A SEGUIR:
PARTE II:- MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO MÉDICO-CIRÚRGICO DA CIDADE DA BAHIA – PERÍODO: 1815/1816

 
Notas e Referências

(1) Pedro Gomes Ferrão Castelbranco, filho de Antonio Gomes Ferrão Castello Branco, foi nomeado, pelo Conde dos Arcos, em 30 de abril de 1811, para dirigir a Biblioteca Pública da Bahia, e obteve, em 1814, a sua exoneração do cargo de administrador, sendo substituído pelo padre Francisco Agostinho Gomes.
Cf. Castro, Renato Berbert de – “A primeira Imprensa da Bahia e suas publicações – Tipografia de Manuel Antônio da Silva Serva – 1811 – 1819 – Prêmio Wanderley Pinho – 1968 – Governo do Estado da Bahia - Secretaria da Educação e Cultura – Departamento da Educação Superior e da Cultura - Composto e impresso na Imprensa Oficial da Bahia – 1969. (Do acervo da biblioteca particular do Autor).
(2) - Lente de Higiene /(1768-1838)/ Baiano, formado em Medicina pela Universidade de Edimburgo. Lente do 5º ano (Prática de Medicina); lente do 4º ano (Cirurgia, Operações e Obstetrícia); lente do 6º ano (Higiene e História da Medicina). Deputado à Assembléia Geral ( 1826 a 1829). Em 1829, seus pares da Congregação o indicaram para Diretor do Colégio Médico-Cirúrgico, decisão homologada pelo presidente da província. Em 1833, foi eleito vice-diretor do Dr. José Lino Coutinho. escolhido para diretor efetivo;em diversos períodos exerceu o cargo de vice-diretor.
Cf. Oliveira, Eduardo de Sá - Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia/Concernente ao ano de 1942/Universidade Federal da Bahia/ Salvador/ Centro Editorial e Didático da UFBA/1992
(3) - Desde a chegada de Thomé de Souza à Bahia, em 29 de março de 1549, os soldados e marinheiros doentes eram atendidos em enfermaria rudimentar do Hospital da Cidade, o segundo hospital do Brasil e o primeiro a ser fundado pela Casa da Santa Misericórdia, que tinha como provedor Diogo Muniz. O dito hospital foi também denominado Hospital Nossa Senhora das Candeias e somente a partir do século XVII começou a ser chamado de Hospital São Cristóvão. O nosocômio, instalado desde a sua fundação na atual rua da Misericórdia, fora da forte cerca da cidade, de pau a pique, teve a sua construção original substituída, aos poucos, por edificação de pedra e cal.
Volveram anos, e as milícias padecentes dos terços, ou regimentos, e a equipagem das naus da Coroa eram curadas em enfermarias do Hospital de Caridade
Em 1755, eram precárias a situação orçamentária e administrativa da Casa da Misericórdia. Vexava a pia instituição a pecúnia de duzentos réis diários que não eram suficientes “para curar bem um soldado em país em que tudo é caro”. Por outro lado, a Casa da Santa Misericórdia achava inconveniente que a Coroa tivesse hospital próprio, por óbvias razões de concorrência. Acreditava a Mesa da Misericórdia que quatrocentos réis deveriam ser suficientes. Todavia, o Conselho Ultramarino decidiu que não se deveria aumentar a verba de 200 réis por soldado sem ouvir o provedor-mor da Fazenda.
Em 1767, o vice-rei e governador-geral do Brasil, D. Antonio Rolim de Moura Tavares, mostrava, em ofício, a conveniência que haveria em construir um hospital militar no antigo seminário os jesuítas.
Em 1776, calamitosa epidemia de “bexiga” foi responsável pela instalação emergencial e provisória. do Hospital Real Militar da Bahia no antigo colégio dos extintos jesuítas, no Terreiro de Jesus, para tratar os militares vitimados pelo funesto morbo.
Em 4 de outubro de 1779, o governador e capitão-general, D. Fernando José de Portugal, decidiu “mandar consertar” o “Colégio de Jesus dos extintos Jesuítas” para nele se fazer “hum bom hospital” e “evitando-se desta sorte a maior despeza de hum novo hospital”. E argumentava na sua decisão: Como hum dos grandes inconveniente que tinha o curativo na Santa Casa da Misericórdia era a falta de accomodações por não haver caza de convalescença, nem enfermarias separadas para certas molestias contagiosas e outros commodos precizos ...”
O funcionamento do Hospital Real Militar da Bahia teve início em setembro ou outubro de 1800.
Oito anos mais tarde, a 18 de fevereiro de 1808, o Hospital Real Militar da Bahia abrigava a Escola de Cirurgia da Bahia, a primeira instituição de ensino médico no Brasil.
Cf. Britto, Antonio Carlos Nogueira – A Medicina Baiana nas Brumas do Passado / (Arquivos do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins/ Contexto e Arte Editorial, Cidade do Salvador – Bahia – 2002/ Governo da Bahia / Secretaria da Cultura e Turismo / egba /. Empresa Gráfica da Bahia.
(4) – Lente de Patologia Interna/(1771-1848). /Baiano, de Salvador. Graduou-se em Medicina, em Portugal. Lente de Higiene, Etiologia, Patologia e Terapêutica; Lente de Patologia Interna; Lente jubilado em 1837. Professor de Geometria e de Grego do Liceu Provincial. Diretor do dito Liceu de 1841 a 1848. Vereador por Salvador em 1822. Deputado à Constituinte Brasileira (1823) e em várias legislaturas. Médico do Hospital Miliar, da Casa da Santa Misericórdia, de D. Pedro I e membro do Conselho Provincial.
Cf. Oliveira, Eduardo de Sá – Op. cit.
(5) – Lente de Anatomia Geral e Descritiva /(1772-1849) / Nasceu em Portugal, em 1772. Formado no Colégio S. José, em Lisboa. Cirurgião-mor do Hospital Real Militar da Bahia. Criada a Escola de Cirurgia pelo Príncipe Regente, D. João, a 18 de fevereiro de 1808, a pedido do Dr.José Correia Picanço, Cirurgião-mor do Reino, foi nomeado, aos 36 anos de idade, em 23 de fevereiro de 1808, para reger a cadeira de Anatomia e as de Operações Cirúrgicas no Hospital Real Militar, dando lições teóricas e práticas. Escreveu um tratado de 112 páginas; Elementos de osteologia. Posteriormente, publicou Da noxologia; Da angiologia; Da nevrologia e a esplanenologia, reunidas depois em um tratado de Anatomia, dividido em cinco partes. Cavaleiro professo da Ordem de Cristo.
Cf. Oliveira, Eduardo de Sá – Op. cit.
(6) Cf. Nota nº 3.
(7) – A Rainha D. Maria I, que desde a morte de seu tio e marido D. Pedro III em 1786, ficara enfraquecida da razão, extingue os cargos de Físico e de Cirurgião-Mor, em 1782, criando, por ato de 17 de junho do mesmo ano, a Real Junta do Protomedicato, ficando, destarte, todos os assuntos médicos no Reino e Colônias, sob a jurisdição da dita Junta, que passa a fiscalizar o exercício da medicina e profissões afins. Um dos signatários da criação do Protomedicato foi o insigne pernambucano José Correia Picanço, o futuro Barão de Goiana.
A Junta do Protomedicato é extinta pelo alvará régio de 7 de janeiro de 1809, que define e regulariza a jurisdição do físico-mor e do cirurgião mor. O decreto de 27 de julho de 1809 cria o cargo de Provedor de Saúde da Costa e Estados do Brasil, objetivando a vigilância sanitária dos portos brasileiros. “Toda esta organização que se deu ao Brasil, todas as medidas tomadas a respeito da medicina e saúde pública foram inspiração de José Correia Picanço”, di-lo Dr. Ordival Cassiano Gomes.
Cf. – Gomes, Dr. Ordival Cassiano – A Fundação do Ensino Médico no Brasil - Instituto Geográfico e Histórico da Bahia/ Anais/ do / Primeiro Congresso de História / da / Bahia / V volume / 1951 / Tipografia Beneditina Ltda. - Cidade do Salvador – Bahia – pp. 71-96. (Do acervo da biblioteca particular do Autor).
(8) Lente de Cirurgia especulativa e prática / (1763-1840)/ Natural do Rio de Janeiro. A maioria dos historiadores e biógrafos informam ter o cirurgião-mor Manoel José Estrella nascido em Salvador. Todavia, pesquisas recentes, em Salvador, fundamentadas em documentos manuscritos inéditos, realizadas pelo então secretário do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins, Dr. Djalma Bomfim Alves dos Santos, de saudosa memória, comprovam que o cirurgião-mor Manoel José Estrella nasceu a 04 de março de 1763 e não em 1760, como consta em vários trabalhos, inclusive na extraordinária Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia concernente ao ano de 1942, cujo autor, o insigne Professor Doutor Eduardo de Sá Oliveira, abeberou-se dos dados biobibliográficos dos dois primeiros professores da “Escola de Cirurgia da Bahia” organizados pelo antigo amanuense, historiador e arquivista da Faculdade de Medicina da Bahia, Senhor Anselmo Pires de Albuquerque. Fonte das pesquisas do Dr. Djalma Santos: Certidão de Batismo registrada na Freguesia da Candelária, no Rio de Janeiro / (Livro sétimo – Pág. 72 – em 13 de março de 1763).
Cirurgião-mor do Hospital Real Militar da Bahia. Por ofício de 23 de fevereiro de 1808, foi nomeado pelo Conselheiro José Correia Picanço, professor de Cirurgia especulativa e prática da Escola de Cirurgia da Bahia. (Nota do Autor).
(9) – Nasceu na cidade do Salvador em 1763. Importante jornalista político no período de 1823 a 1831. Filho do oficial (tenente) do exército luso no Brasil, Raimundo Nunes Barata e de D. Luiza Xavier. Na Universidade de Coimbra, entre 1786 e 1790, cursou Matemática, que abandonou, e diplomou-se em Filosofia. Médico graduado em Lisboa, viajou para a cidade do Salvador, onde exerceu a profissão, aqui chegando depois da Revolução Francesa. Foi denunciado pelo padre José da Fonseca Neves, em carta para a rainha dona. Maria I, em virtude de suas críticas à monarquia absoluta e ao conservadorismo da Igreja católica. Foi preso, por causa de denúncias outras, em setembro de 1798 a janeiro de 1800. Foi um dos deputados do Brasil, eleito a 3 de setembro de 1821, às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, quando iria participar da elaboração da futura Constituição para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Ao retornar para o Brasil, editou no Recife o jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco. Contrário à política do ministro de D. Pedro I, José Bonifácio de Andrade e Silva, por considerá-la favorável ao absolutismo e aos portugueses, envolveu-se também com os conflitos pernambucanos ao combater o morgado do Cabo, Francisco Manuel Pais Barreto. Foi preso em novembro de 1823 e remetido ao Rio de Janeiro, onde permaneceu recluso de novembro de 1823 a agosto de 1830. Faleceu em Natal, Rio Grande do Norte, em 1838.
Cf. Tavares, Luis Henrique Dias – História da Bahia – Correio da Bahia - Encarte das edições de domingo do Correio da Bahia, a partir de maio do ano 2000. (Do acervo da biblioteca particular do Autor).
(10) – “Nomeado pela Carta Régia de 22.9.1809, João Pereira de Miranda foi incumbido da instrução dos cirurgiões-ajudantes de regimentos,“estabelecendo a verdadeira e conveniente Escola de Medicina e Cirurgia no Hospital Militar da Bahia”(5). Era ele cirurgião-mor agregado ao 1º Regimento de Infantaria de Linha do Salvador e foi nomeado sem direito a acréscimo no soldo, fazendo jus, no entanto, à futura sucessão no cargo de cirurgião-mor do Hospital Militar.”
Cf. Filho, Lycurgo Santos – Historia Geral da Medicina Brasileira – Volume Segundo / Editora Hucitec / Editora da Universidade de São Paulo / São Paulo / 1991.
Observação: No roda-pé da página de nº 43, da obra do insigne historiador Dr. Lycurgo Santos Filho, está registado, para perlustrar a fonte da indicação da sobredita referencia nº 5: “In Primitivo Moacir, op. cit., 36”.
Refere-se o Dr. Lycurgo à obra A Instrução e o Império, de Primitivo Moacir. – 1º tomo, vol 66 da coleção Brasiliana – São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1938.
(Nota do Autor).
Destarte, o quase anônimo Dr. João Pereira de Miranda foi o terceiro professor da Escola de Cirurgia da Bahia. (Nota do Autor).
(11) –“Na Bahia houve, entre médicos de escol, quem, tanto quanto possível, soube cumprir com o dever inteligentemente, procurando, na qualidade de delegado do Protomedicato, que foi criado em 1782, coibir abusos e moralizar a profissão: quero pois me referir ao cirurgião-mór Manoel Fernandes Nabuco, tronco da família que deu ao Brasil nomes tão ilustres como o Conselheiro Tomás Nabuco de Andrade e Joaquim Nabuco.
Manoel Fernandes Nabuco nasceu na Beira, a 22 de julho de 1738. A 6 de março de 1761 recebia, após os exames prestados, a carta de cirurgião. Atraído pelo Brasil, vai se estabelecer na Bahia, onde contraiu matrimônio com D. Mariana Josefa Joaquina de Araújo , “filha do comandante da Fortaleza de São Felipe e São Tiago”.
Pouco depois de instalado na cidade do Salvador, já possuía Fernandes Nabuco grande clientela, sendo pela Carta Régia de 1779 investido das funções de cirurgião-mór do Regimento de Infantaria da Guarnição da Bahia, lugar que pleiteou tendo em vista já vir executando as funções de médico militar.
Ao criar-se, em 1782, o Protomedicato, Manoel Fernandes Nabuco é nomeado comissário, na Bahia e teria a função de examinar os candidatos ao título de cirurgião, e de fiscalizar oi exercício da medicina. Vêmo-lo, pois, a presidir os exames, que prestaram alguns alunos seus, e a mover guerra aos que exerciam ilegalmente a medicina.
Conta Silva Carvalho, (*) que Nabuco mandou prender o preto Manoel Antunes Carvalho, por exercer o ofício de sangrador, sem carta, tomando idênticas medidas contra os que fossem encontrados clinicando, sem a licença devida.
Contra as medidas tomadas pelo beirense, insurgiu-se o governador Rodrigo José Menezes, julgando-se excessivas, “em vista da falta enorme que na Capitania havia de diplomados”, discordando assim do Comissário da Junta. Ao que parece a reclamação do governador não surtiu efeito, pois Nabuco continuou a exercer o cargo, em toda a plenitude.
Por várias vezes requereu o ilustre cirurgião que o nomeassem cirurgião-mór do Hospital Militar, não conseguindo, porém, que atendessem o seu pedido. Por Carta Régia de 11 de agosto de 1804 é ele aposentado no cargo de cirurgião-mór do Regimento de Infantaria, sendo logo depois agraciado com o Hábito de Cristo. Não se sabe qual a data certa da sua morte. sabe-se, entretanto, que em 1812 morava ele atrás da Sé, na casa nº 12, (sic) e que, por alvará de 28 de Novembro de 1815, foi nomeado cirurgião honorário da Real Câmara, tendo sido ainda agraciado com por o título de Cavaleiro Fidalgo.
Deixou dois trabalhos, manuscritos. O primeiro tem por título Exame completo de terapêutica, onde expõe “o verdadeiro método de ensinar os estudos da medicina, cirurgia, elementos de fisiologia física, patológica, isto é, o caráter do homem são e suas funções curativas”. Dedica a obra aos gloriosos mártires e deuses da terapêutica, os senhores santos Cosme e Damião”. (Silva Carvalho).
O segundo trabalho, do qual Silva Carvalho possui o manuscrto, é intitulado: Observações médico chirurgicas/ e Anatomicas; únicas até os nossos tempos/ nas quais se demonstra até onde tenho chegado com as dossis de opio thebaico, em / substancia / sistidas as contraçoens convulsivas resultadas das feridas / chagas e mais acontecimentos ofensivos e podem de hoje em diante servir de guia no exercicio curatorio dos Professores de Medicina chirurgical.”
Cf. Gomes, Dr. Ordival Cassiano – Op. cit.
(12) - (Cf. nota nº 10).
(13) – Dr. Manoel Joaquim Henriques de Paiva – Lente de Matéria Médica e Farmácia – (1752-1827 ou 1829). / Nascido em Portugal, onde se diplomou pela universidade de Coimbra, naturalizando-se brasileiro em 1822. Médico da Real Câmara e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Quando Napoleão ordenou a invasão de Portugal, por razões políticas, foi preso e degredado para a Bahia. Quando da coroação de D. João VI, em 1816, obteve clemência. A carta Régia de 29 de novembro de 1819, autorizou o Dr. Paiva , favorecido pelo Conde da Palma, Governador da Capitania da Bahia, a ensinar Farmácia, que já regia em Lisboa. Sua Majestade o nomeou Professor de Matéria Médica e Farmácia em maio de 1824 para lecionar a dita matéria no Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia. Deixou extensa bibliografia, com muitos trabalhos originais, dentre os quais destacam-se: Dissertatio Medica ... Madri, 1776; Diretório para se saber o modo e o tempo de administrar o alcalino volátil fluido nas asfixias. ... Lisboa, 1782. Exposições dos meios químicos de purificar o ar das embarcações. ... Lisboa, 1798; Novo, fácil e simples método de curar as feridas do pelouro, etc. Lisboa, 1801; Farmacopéia naval. Lisboa, 1807; Memória sobre a encefalocele. Bahia, 1815; Dicionário de Botânica. Bahia, 1819.
Cf. Oliveira, Eduardo de Sá. – Op. cit.

(*) - O biógrafo de Nabuco, Silva Carvalho, escreveu a “História da Medicina Portuguesa – Expos. Port. de Sevilha, s/d.” que é a fonte citada pelo Dr. Ordival Cassiano Gomes.
A respeito do Dr. Manoel Fernandes Nabuco, consultar as seguintes fontes:
(1).- Carta de D. Rodrigo de Souza Coutinho (*) para D. Fernando José de Portugal (**) comunicando ordem do príncipe regente que manda remeter o requerimento de Manoel Fernandes Nabuco, solicitando informações e parecer sobre o dito pedido, referente à promoção do posto de cirurgião-mor de Manoel Fernandes Nabuco e o pedido de curativos para os doentes da Casa de Misericórdia. Palácio de Queluz, 7 de dezembro de 1799. – Cf. Inventário procedido na matéria contida no vol. LXXXVII da coleção de Ordens Régias / 1796 – 1799. – Arquivo Público do Estado da Bahia – Anais – volume 57 – ano 2000 – vol. 87 – doc. 24.
(2).- Carta de D. Rodrigo de Souza Coutinho para D. Fernando José de Portugal comunicando que S. M. em consideração a conduta de Manoel Fernandes Nabuco, no combate ocorrido no navio em que se transportava à corte, determinou que ele fosse protegido nas suas dependências e que fosse atendido na solicitação de emprego. Palácio de Queluz, 29 de abril de 1799. - Cf. op. cit. – vol. 89 – doc. 55.
(3).- Carta de D. Rodrigo de Souza Coutinho para D. Fernando José de Portugal comunicando que S. M. mandou que lhe remetesse a petição inclusa de Manoel Fernandes Nabuco, determinando que ele fosse proposto para a serventia vitalícia de algum oficio, conforme requeridos e sob a condição de sua desistência de qualquer pretensão contra a Fazenda Real. Palácio de Queluz, 10 de maio de 1799. – Cf. op. cit. – vol. 89 – doc. 68.
(*) – D. Rodrigo de Souza Coutinho: S. M o nomeou secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, consoante carta do Palácio de Queluz, de 6 de setembro de 1796. Cf. Arquivo Público do Estado da Bahia – Anais – volume 57 – Inventário da Coleção de Ordens Régias - 1796 – vol. – 81 - doc. 45.
(**) – D. Fernando José de Portugal: Governador e Capitão-General da capitania da Bahia.Cf. op. cit. – vol. 77. doc. 53: Carta da rainha de Portugal para D. Rodrigo José de Menezes comunicando que fez a mercê do Governo da capitania da Bahia a D. Fernando José de Portugal, como consta na patente que mandou passar, como é de costume D. Rodrigo deverá dar-lhe posse, com a cerimônia costumeira. Lisboa, 15 de agosto de 1787.
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