HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 48

POR DENTRO DO HOSPITAL MILITAR DA BAHIA NO ANO DE 1827

Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Fundado em 29 de novembro de 1946

ASPECTOS INÉDITOS DO DIA-A-DIA DOS ATENDIMENTOS DE URGÊNCIA E NOS PROCEDIMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO NOSOCOMIAL

PARTE VI

Sábado, 7 de julho de 1827 – Nesse dia, o cirurgião do dia, Jozé Ribeiro da Fonceca, servindo no Hospital Militar da Bahia, redigiu a seguinte parte médica: “Entrou p.ª o Hosp.l as 3 oras da tarde 6 do corr.te o sold.º da 3.ª Comp.ª do B.m N.º 15 de 1.ª Linha Estevão Roiz. Per.ª, com huma ferida longitudinal na p.e superior do parietal direito, com duas polegadas e meia de extenção, im teresando de profund.e tegum.tos; outra no parietal esquerdo, sobre o bordo posterior e p.e do occipital, de figura triangular, com duas polegadas de de circomferencia, im teresando tegum.tos , mostra ter sido feita com instrumento comtundente, não de notta perigo pelo simptomas que aprezenta.”

Na mesma data, ao vice-presidente da província da Bahia, Manoel Ignacio da Cunha e Menezes, foi remetida a participação da ocorrência pelo sargento-mor e inspetor, quando acrescenta que o ferido foi conduzido ao hospital pelo cabo do dito batalhão, “Joaq.m da Costa.”

Sábado, 21 de julho – Foi consignada pelo cirurgião do dia, Jozé Ribeiro da Fonceca, a seguinte parte médica: “Veio curar-se neste Hosp.l as 7 oras da noite do dia 2 o do corr.te, o preto João, de huma ferida sobre a orelha esquerda, com duas polegadas de extenção, de figura quaze erigular, mostra ter sido feita com instrumento contundente, não de notta perigo de vida, e só poderá ficar com díformid.e se aparecer simptomas comsicutivos. Hosp.l Imperial Militar 21 de Julho de 1827.”

No mesmo dia 21 de julho, o sargento-mor e inspetor comunicava o fato ao vice-presidente, aditando a informação constando que o ferido chamava-se “João Lorenço, escravo q.’ diz ser de Jozé Ricardo; conduzido pelo Soldado da Policia Jozé Fran.co, da 1.ª Comp.ª; ... e depois de feita a cura voltou com o mesmo conductor.”

Domingo, 22 de julho – O mesmo cirurgião do dia, Jozé Ribeiro da Fonceca, registou um atendimento médico, exarado dos termos que se seguem: “Recolheu-se p.ª o Hospital, as 10 oras da noite do dia 21 do corr.te, o sold.º do B.m N.º 28 e 2.ª Comp.ª, Quintiliano da S.ª com huma ferida transversal na parte media do omoplata esquerdo, com direção a cavidade axillar, com duas polegadas de extenção; outra na parte superior, e posterior do mesmo braço, feita longitudinalm.te, com duas polegadas de extenção e de profund.e thé operioste; outra, dois dedos transverso abaixo da parte anterior; e superior do mesmo braço, de figura transversal, com direcção obliqua p.ª aparte anterior; outra na parte media do mesmo e transversa, com duas polegadas de extenção, e as mes.mas de profund.de; outra superficial, e longitudinal na parte emferior do omoplata direito, com uma polegada de extenção; mais outra meio superficial na parte media da espinha dorsal, com oito linhas de extenção, de figura transversa; cujas feridas mostrão terem sido feitas com instrumento cortante, e perfurante; pelos simptomas premetivos q.’ aprezenta não de notta perigo de vida, salvo se aparicerem os consecutivos; Hosp.l Imperial Militar 22 de Julho de 1827.”

No mesmo dia, como se praticava habitualmente, o fato foi comunicado ao vice-presidente pelo sargento-mor inspetor, informando, adicionalmente, que o ferido foi levado ao hospital “pelo soldado do Batalhão 28, André Coelho, da 6.ª Comp.ª.”

Segunda-feira, 30 de julho – O mesmo cirurgião do dia, Jozé Ribeiro da Fonceca, registava as seguintes partes médicas: “Recolheu-se neste Hosp.l as 8 oras da noite do dia 29 do corr.te, o sold.ª da 3.ª Comp.ª do B.m N.º 28 João da Silva Dormete, com huma ferida contuza, de figura erigular, com duas polegadas de circomferencia, na p.e inferior do coronal, (coronal, antigo nome dado ao osso frontal – N. A ) im teresando de profund.e tegum.tos, em cuja ferida não de notta perigo.”

“Entrou p.ª o Hosp.l, as 8 oras da noite do dia 29 do corr.te, o sold.º da 2.ª Comp.ª do B.m N.º 28 Liandro Ferr.ª, com huma ferida transversal, superficial, na parte inferior do parietal esquerdo, com uma polegada de extenção, mostra ter sido feita com instrumento com tundente, não de notta perigo. Hosp.l Imperial Militar 30 de Julho de 1827.”

No mesmo dia 30 de julho, rotineiramente. a parte médica é participada ao vice presidente da província, quando se observa que a grafia dos nomes dos dois soldados feridos não corresponde à forma escrita, manuscrita, pelo cirurgião do dia. Assim, na parte médica do cirurgião, o nome do soldado Liandro está escrito na forma Liandro Ferr.ª, abreviatura do sobrenome Ferreira; no ofício do sargento-mor e inspetor lê-se Liandro Fernando. Da mesma maneira, o cirurgião do dia escreveu o nome do outro militar ferido, João da Silva Dormite, e o inspetor grafou o nome do dito como “João da S.ª (Silva) Dormente.

Ademais, a sobredita participação ao vice-presidente faz menção ao atendimento ao “paizano Jozé Roz.’ (abreviatura de Rodrigues), que não consta nos termos do boletim de atendimento pelo sobredito cirurgião.

O documento em tela informa que os soldados feridos, além do paisano, foram conduzidos ao Hospital Militar pelo “Soldado do B.m M.ar da Policia, M.el (Manoel) Thodozio”. Os soldados feridos ficaram internados e o “paizano depois de feita a cura voltou com o mesmo conductor.”

FONTES

FONTES PRIMÁRIAS MANUSCRITAS
ORIGINAIS E INÉDITAS

Arquivo Público do Estado da Bahia
Presidência da Província
Militares
1826-1827
Seção de Arquivo Colonial e Provincial
Maço n.º 3737

 

Voltar para História da Medicina