HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 50

Memória Histórica do Colégio Médico-Cirúrgico da Cidade da Bahia – 1821

Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Fundado em 29 de novembro de 1946

PROLEGÔMENOS CRONOLÓGICOS

Nasceu em 1821 Rudolf Virchow, que iria render a alma ao criador em 1902. Considerado o criador da moderna patologia. Graduou-se em 1843. Em Boletim de sua criação, destinado à patologia, denominado ao depois Virchow-Arhiv, preconizava a integração entre a fisiologia, a patologia e a clínica médica, e censurava o afastamento dos lentes das diversas cátedras e estimulava o intercambio entre os diferentes especialistas médicos.Voltou-se para a política social, quando, ao visitar a Silésia em 1848, com o objetivo de estudar uma epidemia de febre tifóide, ficou assaz revoltado com a desigualdade social, manifestada pela miséria e desigualdade na distribuição de rendas. No sobredito ano, liderou um movimento em Berlim onde sustentava a idéia de que o Ministro da Saúde deveria ser indicado pela classe médica por intermédio do veto direto, evitando, destarte, a interferência de políticos. Também propugnou pela melhoria salarial dos médicos pela sua relevância na sociedade Por tais posturas, foi demitido de seu cargo na Universidade e, ao depois, foi convidado para lecionar em Wurburg. Em 1856, regressou para Berlim, em decorrência do surgimento da República Alemã, onde recebeu apoio dos políticos que comungavam com suas idéias sociais.

Em 1858, publicou seu trabalho “Cellularpathologie”, quando apresentou o conceito da célula como sede das doenças. Virchow deixou um vasto legado de estudos no âmbito tumores, embolismo, trombose e endocardite.

Virchow foi aluno de Johannes Muller (1801-1858), graduado em Bonn em 1822, tornado-se professor de fisiologia, anatomia e patologia, Descobriu, em anatomia, os dutos que levam o seu nome.

Finou-se em 1821, Johann Peter Frank (1745-1821), formado em Heildelberg em 1776. Na cidade onde nasceu, Rodalben, escreveu o livro “Medicinische Polizey”, no qual defendia seus conceitos de um controle político das doenças. Tentou publicar a sua obra, sem êxito, porquanto os editores não viam interesse comercial no livro. Mudou-se para Viena, na função de diretor de uma clínica, sendo nomeado professor de clínica médica na Universidade de Viena, onde adotou modificações no currículo médico e criou um museu de patologia. Foi para a Rússia, depois de trabalhar nove anos em Viena, convidado pelo Czar e diretor da Academia Médico-Cirúrgica de St. Petersburgo. Retornou a Viena, por não se adaptar com o clima, onde dedicou-se à Clínica e trabalhou arduamente para finalizar sua obra, as quais foram publicadas em 1817/1818, em seis volumes por um cliente e amigo, proprietário de uma editora. A obra compreendia princípios de estatística vital, higiene marital, infantil e maternal, medidas de saúde pública e higiene, inspeção de alimentos e cuidados gerais das crianças. Seus conceitos de saúde pública não foram acreditados na Áustria conservadora e somente após as guerras napoleônicas suas idéias foram aceitas na Europa.

Jean Nicolas Corvisart (1755-1821), clínico de escol, formou-se em Paris em 1785. Para conseguir estipêndio visando custear seus estudos, teve que trabalhar como servente de anatomia e vendedor de livros. Dedicou-se inteiramente á clínica médica depois de ser nomeado, em 1788, para o Hospital Charité. Costumava asseverar aos estudantes de medicina que os livros para estudar as ciências médicas estavam nos leitos dos enfermos, os quais doentes deveriam ser lidos e interpretados para um melhor conhecimento das enfermidades. “Certa vez, ao examinar uma pintura com sua grande capacidade clínica, afirmou que o personagem da tela tinha úlcera gástrica, hipertensão arterial, diabetes, era canhoto, gostava de vinho tinto e estava deprimido porque sua mulher o abandonara, o que foi prontamente confirmado pelo pintor, seu cliente e amigo.” Foi médico particular de Napoleão, o qual tinha muito prazer ao ser examinado por Corvisart, tal o grande esmero e requinte do seu procedimento clínico. ... “ ... a cada consulta – com duração média de 14 a 18 horas – o Imperador dava-lhe um título nobre, como Barão, Chevalier e outros.” Corvisart valorizou o método de percussão descoberto por Leopold Auenbrugger e foi o responsável pela sua divulgação por toda Paris e pelo mundo. “Gastava cerca de seis horas auscultando o corpo do paciente, dos pés à cabeça, mesmo sem ouvir muita coisa.”

Em 1821, nasceu Hermann von Helmholtz, que finou-se em 1894. Desde infante era poliglota; falava árabe, alemão, francês e inglês aos 12 anos de idade. Formado em 1842. Em 1847, publicou “Uber die erhaltung der Kraft” – “Sobre a conservação da energia”. Em 1849, a Universidade de Königsberg o nomeou professor de fisiologia, onde fez pesquisas sobre o impulso nervoso. Em 1851, inventou o oftalmoscópio, o oftalmômetro e as lentes de contato, além do tapa-olho para repouso do globo ocular. Desenvolveu a teoria da sensação das cores. Mudou-se para Berlim, em 1856, para lecionar fisiologia, onde desenvolveu pesquisas sobre a recepção do som e sobre termodinâmica, eletrodinâmica e física ótica.

Cf.: Roberto D, Lima A, Smithfield RW. Manual de História da Medicina. 1ª edição, Editora Medin: Rio de Janeiro, p. 137; 140-141; 157-158; 158-159, 1986.

Em 1821, nasceu Elizabeth Blackwell, falecida em 1910. Entrou para o Colégio de Medicina Genebra, N.Y., em 1847. Dez anos mais tarde, fundou a Enfermaria Nova York para Mulheres Indigentes. Comandou as enfermeira na Guerra Civil.

Cf. Gordon R. A assustadora história da medicina. 8ª edição, Ediouro: Rio de Janeiro, p. 96, p. 96, 1996.

Em 1821, o governo francês da Restauração reabriu a Academia de Medicina, composta, desta vez, de seções múltiplas, (anatomia, medicina, cirurgia, etc ... . Em França, em 1793, como conseqüência da Revolução Francesa, a Convenção (1792-1795 – a nova Assembléia Nacional Constituinte, ou Convenção Nacional, que proclamou a República – N. A.) havia suprimido todas as Academias e Faculdades: o ensino da medicina, por conseguinte, também é suprimido; todavia no fim de 1794, Fourcroy (Antoine-François Fourcroy – 1755-1809 – N. A.) mostra a necessidade de reabrir as escolas para o ensino da medicina. Os exércitos da Republica tinham necessidade de médicos; além do mais, são criadas três escolas de saúde (do exército) a de Paris, Montpellier e Strasbourg; nessas Escolas que tinham sobretudo o objetivo de formar rapidamente médicos militares, o ensino da medicina e da cirurgia foram completamente fundidos.

Em julho de 1830, com a revolução na França, termina a Restauração. (N. A.)

Cf.: Lecène P. L’évolution de la chirurgie. Enest Flammarion, Éditeur: Paris, p.213-214, 1923. (Do acervo particular do A.)

Em 1821, o médico Jozé Lino Coutinho, baiano ilustre, formado pela Universidade de Coimbra, foi deputado pela Bahia das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, eleito a 3 de setembro do dito ano, quando iria tomar parte da elaboração da Constituição para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, colocando-se, ao lado de poucos parlamentares brasileiros, contra as medidas colonizadores de Lisboa, sucesso que o obrigou a exilar-se em Londres.

Eclodiu na cidade da Bahia, em 10 de fevereiro de 1821, uma revolução que tinha como escopo secundar a grande reforma da monarquia iniciada na cidade do Porto, em 24 de agosto de 1820, revolução Liberal pela Constituição, que tentava repelir os princípios do regime do absolutismo real, que estava a perder o viço. Aqui, brasileiros e portugueses irmanados no mesmo objetivo, derrubaram o governo e constituíram uma junta governativa, Por conseguinte, Francisco de Assis Mascarenhas, conde de Palma (1818-1821), governador e capitão general, retirou-se para o Rio de Janeiro a bordo do vaso de guerra inglês Icarus.

Destarte, assumiu o poder, na Bahia, a Junta Provisional. No mês seguinte, a tropa reunida no Rossio, no Rio de Janeiro, obrigou D. João VI a jurar a Constituição de Portugal, que ainda não estava pronta, resultando no retorno da corte portuguesa e de D. João VI para Lisboa, que deixa como regente o 1.º filho, Pedro de Bragança e Bourbon.

A Junta Provisional compunha-se de diversos representantes da classe social da Bahia e tinha com secretários Jozé Caetano de Paiva Pereira e o Dr. Jozé Lino Coutinho. A dita Junta foi substituída por outra, eleita, e ambas obedeciam ao governo de Lisboa.

Sob pressão da Revolução Liberal, pela Constituição, na cidade do Porto, ocorrida a 24 de agosto de 1820, D. João VI retirou-se a 26 de abril de 1821 para Portugal, acompanhado por quase todos os fidalgos que com ele tinham vindo para o Brasil, levando com a frota grandes riquezas.

Logo depois da partida do rei eclodem as refregas pela independência.

Início, em março, da Guerra de Independência da Grécia contra o império Turco-Otomano.

Morre Napoleão Bonaparte, a 5 de maio, prisioneiro na ilha de Santa Helena.

O Uruguai é incorporado ao Brasil com o nome de Província Cisplatina, em 31 de julho.

Em 12 de agosto, é criada a Universidade de Buenos Aires.

O México proclama a sua independência a 16 de setemnbro.

Notas de apontamentos esparsos do A., anotados em conferências, palestras e em fontes variadas.)

MEMÓRIA HISTÓRICA ACERCA DOS SUCESSOS MAIS NOTÁVEIS OCORRIDOS NO COLÉGIO MÉDICO-CIRÚRGICO DA CIDADE DA BAHIA NO ANO DE 1821

Quarta-feira, 3 de março de 1821 – Congregou-se o Colégio na Sala das Sessões da Mesa da Casa da Santa Misericórdia. “Aos trez dias do mez de Janeiro do anno de mil oitocentos e vinte e um congregou-se o Collegio medico-cirurgico: e considerando a falta de ordens Superiores, que regulassem o tempo, methodo, e ordem, com que os estudantes deste Curso se serião instruir em Chimica, e Pharmacia, cujas doutrinas, elles erão obrigado a freqüentar e cultivar, do que não pode resultar senão confusão aos estudantes com detrimento de sua proveitoza instrucção, o Collegio resolveo determinar, enquanto não houver ordem Superior, q. mande o contrario, o seguinte.

1.º Os Estudantes, que se quizerem matricular nas materias do Segundo anno do Curso medico-cirurgico devem ser habilitados com a approvação do exame,que devem ser feito em Chimica. 2.º Á matricula do quinto anno se-faz- necessaria a habilitação da approvação de Pharmacia, ficando á arbitro de estudante a escolha do anno, em que quizer empregar-se nesse estudo. 3.º Os que se achão já matriculados no segundo, terceiro, e quarto anno serão obrigados primeiro ao exame de Chimica, e depois de Pharmacia antes de serem admittidos á matricula do quinto. O Collegio mandou participar ao Exc.mo Senhor Conde Governador esta deliberação, e faze-la publica por Edital. Levantou-se a Sessão. Eu Jozé Alvares do Amaral Secretario fiz esta acta rubricada pelos Lentes. Bahia 3 de Janeiro de 1821.

D.r Avellino
Amaral.”

Terça-feira, 13 de fevereiro - “Aos treze dias do mez de Fevereiro congregou-se, digo, do anno de mil oito centos, e vinte e um congregou-se o Collegio medico-cirurgico; e a elle foi prezente um Officio da Junta Provizional do Governo desta Provincia de data de hontem, em que participava haver a tropa, e pôvo proclamado no dia 10 do corrente a Constituição, que as Cortes de Portugal fizessem, nomeando uma Junta para governar nesse sentido a Provincia até que El Rei jurasse a mesma Constituição: ao qual Officio veio uma lista dos nomes dos Senhores que compõen a ditta Junta. O Collegio mandou registar o Officio, e levantou a Sessão. Eu Jozé Alvares do Amaral Secretario fiz esta acta, rubricada pelos Lentes. Bahia 13 de Fevereiro de 1821.

D.r Avellino
Amaral.”

Sexta-feira, 23 de fevereiro – “Aos vinte e trez dias do mez de Fevereiro do anno de mil oito centos e vinte e um congregou-se o Collegio medico-cirurgico, e mandou cumprir, e registar um Officio do Secretario da Junta do Governo, remettendo uma Portaria da mesma Junta, p.la qual abolia os dias feriados menos os que vinhão especificados na mesma Portaria. Levantou-se a Sessão. Eu Jozé Alvares do Amaral Secretario fiz esta acta rubricada pelos Lentes. Bahia 23 de Fevereiro de 1821.

D.r Avellino
Amaral.”

Sábado, 3 de março – “Aos trez dias do mez de Março do anno de mil oito centos e vinte e um congregou-se o Collegio medico-cirurgico, e por elle foi determinado, que por Edital se fizesse publicar que as aulas do Curso do corrente anno se-devião abrir no dia treze deste mez. e que os estudantes, que se-quizessem matricular se deverião habilitar conforme os estatutos, e as ordens ulteriores. Levantou-se a Sessão. Eu Jozé Alvares do Amaral fiz esta acta, rubricada pelos Lentes. Bahia 3 de Março de 1821.

D.r Avellino
Amaral.”

Sexta-feira, 23 de março – “Aos vinte e trez dias do mez de Novembro do anno de mil oito centos e vinte e um congregou-se o Collegio medico-cirurgico, e manda cumprir o officio de 22 do corrente do Secretario do Governo, em que participava haver a Junta Provisoria nomeado o D.or Manuel Joasquim Henriques de Paiva, para fazer os exames, que estavão á cargo do Lente o Doutor Jozé Avelliuno Barboza, durante seu impedimento. Mandou igualmente o Collegio que se posesse ponto as liçooens deste anno, e que os exames principiarão no dia 25 deste mez, habilitando-se os Candidatos por elles, segundo o estylo. e ordens, e annunciando-se por Edital. Levantou-se a Sessão. Eu, Jozé Alvares do Amaral Secretario, fiz esta acta rubricada pelos Lentes. Bahia 23 de Novembro de 1821.

D.r Avellino
Amaral.”

 

FONTES PRIMÁRIAS MANUSCRITAS

Originais e inéditas

Faculdade de Medicina da Bahia, ao Terreiro de Jesus, da Universidade Federal da Bahia
Arquivo e Biblioteca do Memorial da Medicina Brasileira
Livro de “Actas” – 1816-1855 – p. – “Anno: 1821, p. 13-14.

 

A SEGUIR: A MATRÍCULA DOS ESTUDANTES DO COLÉGIO MÉDICO-CIRÚRGICO DA CIDADE DA BAHIA NO ANO DE 1821.

 

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