Segunda-feira, 12 de novembro de 1927 – O 1.º Medico interino do Hospital Militar da Bahia, Antonio Polycarpo Cabral, oficiou, nessa data, ao presidente da provincia, Jozé Egydeo Gordilho de Barbude (sic) (*) a respeito do exame dos recrutas na Fortaleza do Mar: “A Portaria, que V. Ex.ª medirigio endatta de 9 do Corr.^e mez, ordenando-me o exame dos Recrutas na Fortaleza do Mar, foi promptamente Comprida nomesmo dia, como devera já ter constado a V. Ex.ª pelas Listas Remetidas pelo Comand.^e daquela Fortaleza.”

Terça-feira, 13 de novembro – O cirurgião do dia, Jozé Ribeiro da Fonceca, registou a seguinte parte médica: “Veio curar-se neste Hosp.^l , as 3 horas e meia da tarde do dia 12 do corr.^e, a preta Luciana, de huma ferida superficial feita longitudialm.^e, na parte media, e lateral interna do braço esquerdo, com duas polegadas de extenção, mostra ter sido feita com instromento cortante; e pelos simptomas premetivos q.’ aprezenta não de notta perigo, salvo se aparicerem os consecutivos. Hospital Imperial Militar 13 de Novembro de 1827.”

No mesmo dia, o sargento-mor e inspetor, comunicou a ocorrência médica ao presidente da província, acrescentado que a vítima “ ... dis ser escrava de Joaquim Machado, conduzida pelo Soldado da Policia e 1.ª Bernardo Jozé, ... e depois de curada voltou com om.^mo Soldado.”

Quarta-feira, 14 de novembro – Ao presidente da província, Jozé Egydio Gordilho de Barbuda, uma junta médica emitiu o resultado dos exames de recrutas, cujo parecer assim estava lavrado: “Os abaixo assignados Membros da Junta Medico-Cirurgica, em cumprimento da Portaria que V. Ex.ª lhes dirigio na data de 13 do Corrente, procederão ao exames dos recrutas constantes da relação remettida por V. Ex.ª, e pela lista inclusa V. Ex.ª conhecerá os que se achão capazes d’embarcar, os que ainda estão doentes, os que ja sahirão curados, e os que são inteiramente inhabeis para o serviço. Hospital Militar 14 de Novembro de 1827

Antonio Polycarpo Cabral (**)
1.º Medico interino
Francisco de Paula de Araujo e Almeida (***)
2.º Medico interino
Antonio José de Souza e Almeida
Cirurg.^mor

Relação dos Recrutas que se achão no Hospital Militar, e que estão capazes d’embarcar.

Pedro da Silva
Feliciano da Trindade
Antonio Renovato
Basílio da Silva
Manuel Leandro

Relação dos que ainda estão doentes, e por tanto incapazes d’embarcar por ora

Antonio João
João Antonio de Carvalho
Manuel Joaquim de Sousa
Marcellino Malagueta
Paulo Quintiliano
Antonio Pereira
Francisco Xavier
Balbino Manuel
Jozé Francisco
Gonçalo do Amarante
Domiciano Jozé
Jozé Temotheo
Jozé Lourenço
Antonio Felix
Antonio Correia do Livramento
João Correa
Cipriano Jozé
Antonio Francisco
Narcizo José

Relação dos que ja sahirão curados do Hospital

Antonio Jozé Miguel
Manuel Pessoa
Joaquim da Silva
Verissimo Jozé de França
João Francisco de Oliveira
Francisco Antonio
Manuel Joaquim Ramos
Jozé Joaquim de Sousa
Benedito Jozé de Vasconcellos
João Francisco Pereira
Miguel Ribeiro dos Anjos.

Relação dos incapazes para o serviço

Clemente Antonio
Jerônimo de Santa Bárbara
Manuel Clemente

Morto

Jozé Verissimo

Hospital Militar 14 de Novembro de 1827
Antonio Polycarpo Cabral
1.º Medico
Francisco de Paula de Araujo e Almeida
2.º Medico interino
Antonio Jozé de Souza e Aguiar
Cirurg.^mor ’’

Sábado, 17 de novembro – Dois feridos estrangeiros foram atendidos pelo cirurgião do dia, Jozé Ribeiro da Fonceca, que fez a seguinte parte médica: “Recolherão-se neste Hosp.^l , a 1 hora da noite 16 do cor.^te, Eduard Lambert, com huma ferida triangular com uma polegada de circomferencia, na parte lateral esquerda do coronal, em teressando de profundidade os tegumentos; mostra ter sido feita com instromento contundente, não denotta perigo pelos simptomas premetivos q.’ aprezenta.”

Richard Londom, com huma ferida superficial na parte media da arcada superciliar direita, com meia polegada de extenção, de figura longitudinal; e mais huma dezlocação da clavícula do mês,^mo lado, cujas lezoens mostrão terem sido feitas com instromento contundente, no prez.^te não de notta perigo, salvo se aparecerem as consecutivas. Hospital Imperial Militar.”

Em se tratando de estrangeiros, provavelmente homens do mar, competente comunicado deve ter sido encaminhado ao cônsul inglês em Salvador. Talvez, por tal circunstância, não foram encontrados os expedientes respeitantes ao caso, inclusive o relatório rotineiro ao presidente da província.

Segunda-feira, 19 de novembro – O Falecimento de um prisioneiro de guerra foi comunicado ao presidente da província pelo inspetor do Hospital Militar: “ Falleceo neste Hospital o Prizioneiro de Guerra Domingos Corr.ª , vindo do Brigue Imperial Pedro.”

Não foi identificada, ainda, qualquer referência sobre o motivo da condição de prisioneiro de guerra do dito Domingos Correa, principalmente revelando qual foi a guerra ou manifestação armada em que se envolveu. Tratar-se-ia do Levante do 3º Batalhão (Periquitos), ocorrido a 25 de outubro de 1824, originado pela destituição e transferência para o Rio de Janeiro do sargento-mor Jozé Antonio da Silva Castro, o famoso “Periquitão”? - Tal revolta ficou em evidência pelo sucesso do assassinato do coronel Felisberto Gomes Caldeira, governador das armas, herói da guerra pela Independência. Após a repressão ao levante, o Imperador D. Pedro I efetuou, no período de 28 de fevereiro a 19 de março de 1826, uma visita à cidade do Salvador e à Cachoeira, com o escopo de, com a sua presença, apaziguar os sucessivos distúrbios em tais localidades, retornando para o Rio de Janeiro ao atingir o seu “desideratum”. Naquela oportunidade, inspecionou o Hospital Militar da Bahia. (N. A.).

Quarta-feira, 20 de novembro – A respeito de exames em prisioneiros de guerra, a Junta Médica do Hospital Militar da Bahia oficiou ao presidente da província: “Em cumprimento da Portaria de V. Ex.ª, datada de 19 do Corr.^e mez, os abaixo assignados examinarão aos Prizioneiros de Guerra (****) recolhidos neste Hospital, e pela relação incluza V. Ex.ª ficará no conhecimento dos q.’ podem soffrer o embarque. e dos q.’ não estão por ora em taes circunstancias. Hospital Militar 20 de Novembro de 1827

Antonio Polycarpo Cabral
1.º Medico interino
Francisco de Paula de Araujo e Almeida
2.º Medico interino
Antonio Jozé de Souza e Aguiar
Cirurg.^mor

Relação dos Prizioneiros que podem embarcar para o Rio de Janeiro

Eduard Williams
John Anderson
Williams Walter
Antonio Loves

Relação dos que ainda não podem embarcar

Georg Jacops
Robert Write
James Davis
Victor Lambert”

Subscrevem o parecer os sobreditos médicos componentes da Junta.

Segunda-feira, 29 de novembro – Novo parecer firmado pela sobredita Junta Médica foi emitido para o presidente da província: “Os á baixo assignados, em cumprimento da Portaria de V. Ex.ª, datada de 28 do Corr.^e mez, examinarão aos trez empregados da Caza da Moeda, Domingos Lapidário Mandacaru, Jozé Braz Quaresma, e Manoel Correa da Costa: quanto ao 1.º julgão q.’ apezar de estar m.^to melhorado das molestias urinarias, q’ tem soffrido, não pode ainda empregar-se no exercicio do seu Officio, q’ o obriga a soffrer a acção violenta do fogo das forjas, sem compromettem.^to de sua melhora, pelo q’ ainda necessita de suspensão prolongada das funçoens do d.^to Officio, p.ª seu completo restabelecim.^to: quanto ao segundo julgão, q’ apezar de ter soffrido queimadura na face palmar da mão direita, acha-se presentemente em estado de continuar no exercicio de seu emprègo, pois q’ tiverão em vista a natureza deste: e quanto ao terceiro, visto q’ accuza enfermidades, q’ os á baixo assignados não podem attestar, e nem affirmar, assentão q’ actualm.^e pode comparecer p.ª o desempenho dos seus deveres. D^s g.^e a V. Ex.ª.”

(*) – José Egygio Gordilho de Barbuda – Em 18 de fevereiro de 1823, o general Pedro Labatut foi à vila de Cachoeira, após passar previamente o comando do exército pacificador ao brigadeiro Jozé Egydio Gordilho de Barbuda, que havia chegado à dita vila a 17 de dezembro de 1822, encarregado por carta régia de 9 de julho do sobredito ano do desempenho de importante missão. Tinha Labatut o intuito de se entender com o governo interino, instalado em Cachoeira, em virtude das divergências causadas em decorrência da nomeação do coronel Manoel da Silva Daltro, feita pelo dito governo, para seu ajudante de ordens, tendo continuado o impasse.

Em 19 de dezembro de 1822, o Conselho interino do governo da Bahia, que funcionava na então vila de Cachoeira, oficiou ao ministro do Império José Bonifácio de Andrada e Silva, dando conta da chegada do brigadeiro José Egydio Gordilho de Barbuda; “e repetindo, ao mesmo tempo, suas queixas contra o general P. Labatut, nellas envolveu o nome do coronel José Garcia Pacheco Pimentel de Moura e Aragão, a quem o Conselho, embora qualifique de “ignorante e facil”, proclama como um dos beneméritos da provincia.”

Em 23 de dezembro, contrariado com a nomeação do brigadeiro Jozé Egydio Gordilho de Barbuda, effectuada no dia 20, Labatut pediu seus passaportes ao Conselho interino, cuja sede era na vila de Cachoeira, tendo o dito Conselho oficiado a José Bonifácio de Andrada e Silva, ministro do império, representando contra o referido general, “por ser só capaz de perder a provincia e não de salval-a, por ser só capaz de perder fazer armas ao infame Madeira, por se mostrar mais barbaro que este monstro”.

Ainda no mesmo ano de 1822, Labatut exonerou o brigadeiro Jozé Egydio de Gordilho Barbuda do comando geral da 3.ª divisão do exército pacificador, e em seguida o nomeou para inspetor geral das tropas de operações, com o escopo de mostrar ao Conselho do governo interino de Cachoeira, que as nomeações para o exército eram prerrogativas somente do general em chefe.
Cf. Milton, A A. Ephemerides Cachoeiranas. Volume I. 1ª Edição Universidade Federal da Bahia: Salvador, p.57-58; 411;418.

Já em maio de 1823, Labatut, com o escopo de tornar a sua autoridade mais forte, mandou prender o tenente-coronel Felisberto Gomes Caldeira, junto com oficiais da segunda Divisão. Como resultado da determinação, os oficiais brasileiros o detiveram, retirando-lhe, conseqüentemente, o posto e autoridade. e assumindo o comando geral do Exército, a 24 de maio do sobredito ano, o coronel José Joaquim de Lima e Silva.

A 25 de outubro de 1824, o levante do 3º Batalhão dos Periquitos, assim denominados por serem de cor verde a gola e os cantos das fardas dos seus praças, foi motivado, aparentemente, pela destituição do comandante do dito batalhão, - o comandante miliciano dos “Voluntários do Príncipe”, - o bravo sertanejo sargento-mor José Antonio da Silva Castro, o célebre “Periquitão”, ascendente do imortal poeta Antonio de Castro Alves, e em razão da sua transferência para o Rio de Janeiro. Além do mais, o movimento teve como sucesso principal o assassinato do governador das armas, coronel Felisberto Gomes Caldeira, e foi também inspirado nos ideais do movimento “Confederação do Equador”, que desligou Pernambuco. Alagoas, Rio Grande de Norte e Ceará do governo central, no Rio de Janeiro. Silva Castro, o Periquitão”, para evitar uma provável guerra civil no nordeste, resolveu acatar as ordens do governo do Império e aceitar a autoridade do presidente da província Francisco Vicente Vianna.

O imperador d. Pedro I nomeou uma comissão militar para a Bahia, como procedera para a Confederação do Equador, sob a presidência do brigadeiro José Egidio Gordilho de Barbuda, que mandou fuzilar, depois de sumaríssimo processo, o major Joaquim Satyro da Cunha e o tenente Gaspar Lopes Villas-Boas.
Cf.: Tavares, LHD. História da Bahia. Correio da Bahia. Encartes: 2000, p. 172; 181-182.

(**) – “Dr. Francisco de Paula de Araujo e Almeida – (1799- 1844) – Lente de Fisiologia. Natural da Bahia. Foi um dos primeiros alunos do Colégio Médico-Cirúrgico, que funcionou Casa da Santa Misericórdia, ( 1816 a 1832) Cirurgião aprovado (1820) e Formado em cirurgia. Doutor em Medicina, pela Academia de Bolonha; Lente substituto das Cadeiras Cirúrgicas (1824); Médico do Hospital Militar da Bahia ( 1826 a 1833); Lente interino da cadeira de Farmácia e Matéria Médica, após a morte do Lente efetivo, Dr. Manoel Joaquim Henriques de Paiva; Lente efetivo no mesmo ano (1829). Sendo nomeado, nesse ano, o Dr. Fortunato Candido da Costa Dormund para a referida cadeira, assim com os dois lentes, foi de acordo com o parecer da Congregação do Colégio, nomeado Lente de Fisiologia, então vaga pela aposentadoria do seu titular, Prof. Manoel José Estrela, um dos dois primeiros lentes da Escola de Cirurgia, e também pela morte do Dr. Constantino Tavares de Macedo, que fora nomeado para a dita cadeira de Fisiologia (1830); Deputado Geral ( 1830 a 1833); Diretor para a Faculdade de Medicina da Bahia. 1833.

Bibliografia.
Estatutos para a Faculdade de Medicina da Bahia. 1833.
Relatórios da Diretoria da Faculdade enviados ao Ministro do Império ( 1837 a 1842).”
Cf. Oliveira ES. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia / Concernente ao ano de 1942. Universidade Federal da Bahia: Salvador, p.393-394, 1992.

(***) – “Cons. Antonio Policarpo Cabral (1789-1865) – Lente de Clínica Interna. Diplomado em Medicina pela Universidade de Coimbra. Lente de Química Médica e Princípios Elementares de Mineralogia (1833); transferido para a cadeira de Clínica Interna (1833-1864).” – “A requerimento do Dr. Cabral foram proibidas as apostilhas nas aulas” – (1849)”. Cf. Op.cit. – p. 139

(****) – O A. pesquisou no Arquivo Público do Estado da Bahia, na Seção Colonial e Provincial, documentos relativos às correspondências do Consulado Britânico e, infelizmente, não encontrou qualquer tipo de ofício ou expedientes relativos ao ano de 1827. Destarte, no momento, não poderá apresentar esclarecimento respeitante aos prisioneiros de guerra, provavelmente oriundos do Reino Unido.

Originais e inéditas

Arquivo Público do Estado da Bahia
Presidência da Província
Militares
1826-1827
Seção de Arquivo Colonial e Provincial
Maço n.º 3737