Terça-feira, 4 de dezembro de 1827 – Theodorio Francisco Rudowich, sem especificar a sua patente, na parte médica que redigiu naquela data, assim se expressou: “ As honze horas danoite dehontem veio aeste Hospital curar-se o Carpintr.^o Miguel Criollo escravo de Roza de Alm. ^da com huma ferida contuza na Cabeça sobre o lado direito da Fronte com duas polegadas de boca ofendendo grossura dos Tegum.^tos: mostra ter sido feita com instum.^to cortante noprezente não denotta perigo devida espera-se pellos simptomas consequtivos. Hosp.^l N.I.M.”

No mesmo dia 4, assim oficiou o inspetor ao presidente da província: Hontem pelas 11 horas da noite entrou ferido neste Hospital opreto Miguel, escravo de Roza de Almeida, conduzido pelo Sargento da Policia Manoel Joaquim, enão voltou com omesmo conductor por ter este declarado que o Seu T.^e Coronel lhe ordenára que se o ferido estivesse em máo estado o deixasse neste Hospital a Ordem deV.Ex.ª , por cujo motivo não se exercitou a Ordem aqui estabelecida, restando-me por isso requerer aV.Ex.ª me ordene seaquelle prezo escravo o heide conservar neste Hospital, ou remette-lo para o da caridade, como se pratica com aquelles que não são Militares, ou que não gozão de iguaes regalias.
Incluza envio a parte do Cirurgião do dia, que consta do ferimento do escravo acima mencionado.”

Quinta-feira, 6 de dezembro – O cirurgião do dia Theodorio Francisco Rudowich preencheu a parte médica seguinte: “Hontem a meia noite veio aeste Hosp.^l curar-se o Pasizano Portuguez Joaquim Bello com huma ferida assoilaiada naCabeça pella parte superior dosupercilio esquerdo procurando a Tempora do mesmo lado q’ tinha de boca huma emeia polegada só ofendendo os Thegum.^tos e outra dita naparte media do Nariz do mesmo lado esquerdo com meia polegada de boca eofendendo tambem os Thegum.^tos emostrão terem sido feitas com instrum.^to contund.^e noprezente não denotta perigo poderão aparicerem simptomas consequtivos. Hosp.^l N.I.M.”

No comunicado dirigido ao presidente da província, o inspetor do Hospital Militar dava conta que o ferido era um “prezo, e conduzido pelo Sold.º da Policia e 1.ª Comp.ª Jacinto Correa, e depois de curado voltou com o mesmo Soldado para o Hospital da Caridade.”

Quinta-feira, 13 de dezembro – Antonio Jozé de Souza e Aguiar, cirugião mor do Hospital Militar da Bahia, lamentava-se, em ofício, ao presidente da província da Bahia, Jozé Egidio Gordilho de Barbuda: “Há mais de quatro annos, q’ peza sobre mim todo o serviço do Hospital Militar, tendo eu chegado à me ver só p.ª fazer todo o curativo de hum numero de doentes sempre excessivos; quando o Regulam.^to deste Hospital determina q’ hum dos Cirurg.^es – mores dos Corpos, com dois dos seus Ajudantes, venhão servir mensalm.^e por turno; o q’ ainda não teve execução. No dia 30 do mez proximo passado representei a V. Ex.ª, por intermedio do Insp.^or do Hospital, q’ acabavão de dar parte de doentes, os dois Ajudantes, q’ me coadjuvavão nos curativos, e apresentando-se hum delles prompto no dia 2 do Corr.^e , tem este estado até opresente em effectivo de guarda, sem que tenha havido a Providencia, q’ V. Ex.ª exigio do Quartel do Commando das Armas. Por tanto requeiro a V. Ex.ª q’, attendendo ao exposto, Mande ou q’ hum dos Cirurg.^es mores dos Corpos venha fazer o lugar de 2.º, conforme determina o Regulam.^to ; ou, em virtude da Portaria, pela qual S. M. I. Mandou regular este Hospital pelo das Cortes, haja por bem nomear hum Facultativo q’ exerça esse lugar vago, como há no d.º Hospital da Corte. Espero de V. Ex.ª a providencia a tal respeito.”

Quarta-feira, 12 de dezembro – A quadra abrasadora do dito mês levou o inspetor do Hospital Militar da Bahia a solicitar ao presidente da província mais “prezos da Cadeia” para auxiliar “forçados do Arsenal” na condução de água para o nosocômio: “A extremada secca que geralmente tem sentido esta cidade, tornando-se por ella inuteis esta cisterna, egrande parte das fontes; tem me tirado hu’a exorbitante , ediaria despeza a Fazenda Publica, por não serem bastantes 13 prezos que constantemente se empregão em conduzir agua para este Hospital, aqual he procurada em lugares mais arredados do mesmo. He portanto que recorro a V. Ex.ª. pedindo mais 12 prezos da Cadeia para se empregarem todos os dias na referida condução de agua, pela maneira comque dele já são empregados 7, e 6 forçados do Arsenal.”

Segunda-feira, 17 de dezembro – Theodorio Francisco Rudwich, “Cirurgião Ajud.^e designado no Hosp.^l”, registou a parte médica, lavrada nos termos seguintes: “Hontem as 5 horas da tarde veio aeste Hosp.^l o prezo Inglez (sic) Silvestre Manoel Antonio (sic) com huma ferida na Cabeça sobre ap.^te lateral da Fronte com meia polegada de boca ofendendo só os Thegum.^tos: mostra ter sido feita com instrumento contund.^e no prezente não denotta perigo pode aparecerem simptomas os consequtivos. As 7 horas da dita vierão oSoldado reformado Franc.º da Rocha comhuma ferida contuza sobre a p.^te inferior doCubitos no antebraço esquerdo com maior polegada de boca ofendendo só os Thegum.^tos ehuma grande contuzão emcircunferença e veio tão bem oSold.º do B.^am de Itaparica João Ramos comhuma ferida na Cabeça sobre oOsso Parietal direito com meia polegada de boca eofença dos Tegum.^tos eoutra dita no Rosto sobre a Maxila domesmo lado com meia polegada deboca eofença nos Thegum.^tos mostrão terem sido feitos ambos com instrumento contund.^e no prezente não denottão perigo espera-se pellos simptomas conseqútivos. Veio tão bem ameia noite huma mulher branca denominada Anna Maria do Salvam.^to com huma grande ofença noRosto sobre amaxilla direita econtuzão sanguentas e no antebraço direito tão bem huma contuzão simples enodito esquerdo outra comhuma ferida sobre oCubitos com 1.ª polegada de boca emeia defundo mostrão terem sido feitas com instrum.^to Contund.^e eperfurante noprezente não denotta perigo poderá aparecerem simptomas os Consequtivos. Hosp.^l N. I. M.”

No mesmo dia, é reportada a ocorrência médica pelo inspetor ao presidente da província, sem registar a estranha e inusitada anotação na parte médica, lavrada pelo cirurgião do dia, Theodorio Francisco Rudwich, na qual o ferido, estranhamente identificado com nome português, Sivestre Manoel Antonio, é consignado como “prezo Inglez”. Todavia, o inspetor classifica o dito ferido como “Payzano”e não faz nenhuma referência à sua nacionalidade. Provavelmente, por lapso, o cirurgião do dia, deveria registar o ferido como “Payzano Portuguez” e de maneira errônea o identificou como “prezo Inglez” – “Hontem pelas 5 horas emeia datarde recolheo-se aeste Hospital o Paizano Silvestre Manuel Antonio, conduzido pelo Soldado da Policia 1.ª Comp.ª Miguel Roiz’. (Roiz’. = Rodrigues – N. A.) .. Pelas 7 horas da noite o Soldado Reformado Francisco da Rocha, conduzido pelo Soldado da Policia e 1.ª Comp.ª Miguel Roiz’. Amesmas horas o Soldado do B.^am de Itaparica João Ramos, conduzido pelo Soldado da Policia e 1.ª Comp.ª Manoel Roiz’. Gl’z; (Gl’z. = Gonçalvez – (N. A.).

E pela méia noite Anna Maria do Sacramento, acompanhada pelo Soldado da Policia e 1.ª Comp.ª Floriano de Lima; todos com os ferimentos constantes na parte incluza do Professor do dia, só ficou neste Hospital o Soldado Reformado, e osmais voltarão com os Soldados q’ osconduzia.”

Estampa-se, a seguir a reprodução, pelo processo de “scanner”, do original do “Mappa diario dos doentes Existentes no Hospital Militar”, referente ao dia 3 de dezembro de 1827, assinado pelo sargento-mor Inspetor Manoel de S. Boaventura Ferraz:

Originais e inéditas

Arquivo Público do Estado da Bahia
Presidência da Província
Militares
1826-1827
Seção de Arquivo Colonial e Provincial
Maço n.º 3737