HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 61

NOTÍCIAS SINÓPTICAS – Parte III

Grandiosos momentos no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia, no Largo do Terreiro de Jesus

XII Congresso Brasileiro Pan-Americano de Tuberculose – 10 a 16 de julho de 1960
Discurso do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia durante a sessão inaugural do histórico congresso

Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto
Presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Fundado em 29 de novembro de 1946

Sábado, 9 de julho de 1960 – Para uma visita de pouco mais de um dia, desembarcou no aeroporto da cidade do Salvador, às 13:00 horas daquele dia, o Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, acompanhado de sua esposa, D. Sarah Lemos Kubitschek, suas filhas Márcia e Maristela e membros da comitiva presidencial constituída de auxiliares imediatos, chefes militares e parlamentares.

O presidente Juscelino Kubitschek, além de outras visitas e reuniões com diversas autoridades do estado da Bahia, prestigiou com a sua insigne presença a instalação no histórico, deslumbrante e magnificente salão nobre da Faculdade de Medicina da Bahia, do XII Congresso Pan-Americano de Tuberculose, promovido pela ULAST, (União Latino-Americana das Sociedades de Tuberculose), cujo programa científico, propriamente dito, compreendendo eruditos temas oficiais, conferências, mesas redondas e simpósios, seria levado a efeito nos auditórios do Hospital das Clínicas, na Clínica Tisiológica da Bahia e no IBIT, durante o período de 10 de julho, domingo, encerrando-se no sábado, 16 de julho, às 17:00 horas, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade da Bahia, além de realização de jantar de confraternização no Hotel da Bahia, às 20:30 horas.

A Comissão Organizadora do Congresso era formada pelos doutores José Silveira (Presidente); César de Araújo (Vice-presidente); Luís Tarquínio Pontes (2.º Vice-presidente); Dinálio Tolentino Álvares (3.º Vice-presidente); Manoel Ezequiel da Costa (1.º Secretário); Josicelli Freitas (2.º Secretário); Humberto Vianna Burity (1.º Tesoureiro); Álvaro Pinheiro Lemos (2.º Tesoureiro), além de senhoras da Fundação Santa Terezinha.

Os congressistas procedentes de outros países ficaram hospedados em casas de residência de famílias estrangeiras. Os outros participantes foram acolhidos no Hotel da Bahia, no Palace Hotel e na Casa de Retiro São Francisco, considerando os óbices para hospedar centenas de afamados visitantes pela deficiência de bons hotéis naquela época.

Entre os muito distintos congressistas, destacavam-se os doutores Enno Freerkersen, H. Bruegger, Rolf Guesbach, da Alemanha; James Perkins, Robert H. Ebert. Leo Eloesser, Oscar Aurbach, James Raleigh, William B.Tucker, Dieter Koch-Weser, dos Estados Unidos; Charles Gernez-Rieux, da França; Atílio Omodei Zorini, Vicenzo Monaldi, Glauco Cursi, Antonio Blasi,Giusto Fegiz, da Itália; W. Kurylowicz, da Polônia; G. Pavez, da Suíça e muitos outros

O Congresso teve o suporte da Universidade da Bahia, do Governo do Estado e da Prefeitura, oferecendo belíssimas recepções aos congressistas e suas dignas esposas; da vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, colocando à disposição da Comissão Organizadora do encontro, para as solenidades mais “raffinée” o seu majestoso salão nobre. No Palácio da Aclamação, o Governo do Estado ofereceu encantador almoço; a Prefeitura de Salvador brindou a todos com cocktail de subida fidalguia no Hotel da Bahia; a Universidade da Bahia cedeu o Museu de Arte Sacra para um envolvente concerto; missa festiva foi celebrada na afamada Igreja de São Francisco deslumbrantemente iluminada, onde a Missa Pontificalis Per Vocis Inaequalibus, de Lorenzo Peroni, foi corretamente executada pela Orquestra e Coro da Escola de Musica e Grupo Experimental de Ópera da Bahia, sob a direção do maestro Jatobá, cantada por 60 vozes, em pleno estilo barroco. No convento de Santa Tereza enlevaram-se com a Ave Maria, de Arcadelt, Adoremus, de Rosselbi, Ave Maria, de Mozart, e Concerto Grosso em Ré Menor, de Vivaldi. Finalmente, a exibição de grupo popular, promovido pelo Departamento de Turismo, sob a coordenação de Hildegardes Vianna, na Associação Atlética da Bahia, apresentando os temas: Baianas; a roupagem das baianas; samba de roda; capoeiristas; instrumental de capoeira; toques de berimbau; passos e golpes de capoeira; danças de “gafieira”; pernada e apoteose.

Foi deveras fascinante a programação sócio-cultural para os congressistas e suas distintas senhoras, além da histórica participação dos Mestres e pesquisadores de escol e dos mais conceituados no mundo científico no âmbito da Tisiologia, ao lado das preocupações técnico-científicas e práticas na luta contra a Tuberculose, quando estudaram e debateram “o valor dos índices epidemiológicos em tuberculose”; “o futuro dos tuberculosos aparentemente curados”; “o BCG na América Latina”; “a Abreugrafia na profilaxia da tuberculose”; a “Quimioprofilaxia”; o “Ensino da Tisiologia e Propaganda Sanitária”; “Micoses Pulmonares”; “Enfisema”; “Cirurgia Torácica” e outros numerosos e variados temas.

Todavia, nenhum outro evento sobrepujou em dignidade e encantamento o soleníssimo ato inaugural do memorável Congresso no reluzente e fascinante salão nobre da Faculdade de Medicina da Bahia, com a participação de congressistas de 20 países, cuja sessão de abertura foi prestigiada com a presença do operoso e muito simpático, admirado e assaz querido presidente Juscelino Kubitschek, o extraordinário criador de Brasília.

O dia amanhecera prenhe de plúmbeas nuvens. Ameaçava chuva. No entanto, a tarde tornou-se luminosa e límpida. Não obstante ser um dia de domingo, as ruas circunvizinhas à provecta Faculdade de Medicina da Bahia estavam atopetadas de gente que ansiava ver de perto Juscelino Kubitschek. Entre a Praça Municipal e o Terreiro de Jesus, as tropas eram colocadas em ordem militar, em filas, para serem passadas em revista, O Presidente da República chegou pontualmente às históricas e veneráveis portas da Faculdade de Medicina da Bahia; o esplendoroso salão nobre, ou Salão dos “Actos”, ou “Salão de Honra”, recinto de tradições gloriosas da cultura e do saber, estava reluzentemente engalanado e repleto de pessoas gradas, autoridades civis e militares, insigne diretoria e ilustrados professores da Faculdade de Medicina da Bahia, toda a sua egrégia Congregação, acadêmicos de Medicina e zelosos funcionários, além da sociedade mais “raffinée” da Bahia e idealistas e incansáveis senhoras e senhorinhas da Fundação Anti-Tuberculose Santa Terezinha.

O presidente Juscelino Kubitschek, sob intensos e vibrantes aplausos, chegou à Mesa, onde estavam as autoridades assentadas nas cadeiras laterais. Nela avistava-se, dentre outras ilustres personalidades, o diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Prof. Dr. Benjamin da Rocha Salles, o governador do estado da Bahia, general Juracy Montenegro Magalhães, o Prof. Dr. José Silveira, presidente do Congresso Pan-Americano de Tuberculose, o prefeito de Salvador, Dr. Heitor Dias, o secretário de Saúde, Dr. Jayme de Sá Menezes e outras autoridades e personalidades de escol do estado da Bahia.

Abrindo a sessão, ás 11:00 horas, falou Juracy Magalhães, governador do estado da Bahia.

Logo depois, escutaram-se os discursos do presidente do Congresso, Prof. Dr. José Silveira, que foi por diversas vezes interrompido com estrepitosas palmas e de representantes dos congressistas, lido pelo Prof. Garcia Rosel, do Peru.

Fazendo uso da palavra, falando por último, o presidente da República disse da sua condição de médico, que embora afastado das lides profissionais, mantivera-se ligado intimamente aos problemas que aquele congresso iria debater, embora prestando o apoio do governo à luta que se desenvolve contra a peste branca. O programa do seu governo, o desenvolvimentismo, é em si a luta contra a tuberculose. Os países de vanguarda têm os seus índices de tuberculose diminuídos, não porque tivessem construído muitos hospitais, mas porque o pão alcança mais bocas entre as respectivas populações. Sair do atraso será o golpe de misericórdia também nessa terrível doença.

Juscelino concluiu o seu discurso com as seguintes palavras: “É com o maior interesse que o governo e o povo brasileiro aguardam as vossas recomendações. Asseguro-vos que no decurso do período de governo que ainda me resta tudo será feito para converter em realidade os planos que aqui traçardes nesta grande cruzada pela erradicação de um dos maiores males que ainda afligem a humanidade.”

Encerrando os trabalhos solenes da magna reunião de instalação do Congresso, o presidente Juscelino cumprimentou congressistas de várias procedências, desejando-lhes sucesso. Por fim ouviu-se o Hino Nacional cujos acordes emocionaram os ilustres e ilustrados circunstantes que lotavam o majestoso salão nobre da Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade da Bahia.

O presidente Juscelino Kubitschek ao regressar a Brasília, via Rio de Janeiro, levava na sua comitiva os deputados federais Manoel Novais, Waldir Pires e Hermógenes Príncipe.

No encerramento dos trabalhos do Congresso, no sábado, 16 de julho, o provecto e pomposo salão nobre da Faculdade de Medicina acolheu os participantes do memorável encontro, tendo o prefeito Heitor Dias presidido a Mesa, que era composta pelo secretário de Saúde, Dr. Jayme de Sá Menezes, diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Prof. Dr. Benjamin Salles, representantes do governador do estado da Bahia e da 6.ª Região Militar. O Dr. Aloysio de Paula leu as conclusões do conclave.

O término solene do XII Congresso Pan-Americano de Tuberculose teve lugar no mesmo dia, às 17:00 horas, no salão da Reitoria da Universidade da Bahia.

 
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FONTES

Biblioteca Pública do Estado da Bahia
Seção de Periódicos
Jornal A TARDE , 9 de julho de 1960; 11 de julho de 1960; 14 de julho de 1960.

Silveira J. Uma doença esquecida. A história da tuberculose na Bahia. 1.ª edição, Centro Editorial e Didático: Salvador, p. 395-437, 1994.

 
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