HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 63
O cerco e invasão da Faculdade de Medicina da Bahia em 22 de agosto de 1932 pelas tropas do interventor Federal Juracy Montenegro Magalhães
Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto
Presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Fundado em 29 de novembro de 1946
Parte IV

SEXTA-FEIRA, 9 DE DEZEMBRO DE 1932 -

PRIMEIRA SESSÃO DE CONGREGAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA APÓS OS LAMENTÁVEIS E TRÁGICOS EPISÓDIOS DE 22 DE AGOSTO

A COMOVENTE ATUAÇÃO DO DR. ARISTIDES MALTEZ NO SEU ÉPICO ESFORÇO PARA PROTEGER A INTEGRIDADE FÍSICA DAS CRIANÇAS QUE ESTUDAVAM NO HISTÓRICO GINÁSIO DA BAHIA E RESGUARDÁ-LAS DA TRUCULÊNCIA DA FORÇA POLICIAL

A PATERNAL E AFLITIVA "DEMARCHE" DO DIRETOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA, O LHANO E INSIGNE PROF. DR. ARISTIDES NOVIS, JUNTO AO INTERVENTOR FEDERAL JURACY MAGALHÂES, PARA EVITAR A OCUPAÇÃO MILITAR DO EDIFÍCIO DA FACULDADE E RENDIÇÃO E APRISIONAMENTO DOS ESTUDANTES E PROFESSORES

514 ESTUDANTES DETIDOS SÃO CONDUZIDOS EM AUTO-ÔNIBUS PARA A PENITENCIÁRIA DO ESTADO. POSTERIOR PRISÃO DE ILUSTRES PROFESSORES, FORA DA FACULDADE, E ENCARCERADOS NO SOBREDITO PRESÍDIO DESTINADO À DETENÇÃO E CORREÇÃO

Às 2 e meia horas da tarde, congregou-se os docentes da Faculdade de Medicina da Bahia, pela vez primeira após as tristíssimas ocorrências no dia 22 de agosto daquele fatídico ano, ainda chocados e marcados com o sinal infamente dos formidandos sucessos de ignomínia e extrema abjeção.

Estavam presentes os professores cathedráticos, doutores: Augusto Cezar Vianna, João Américo Garcez Fróes, Albino Arthur da Silva Leitão, Mario Carvalho da Silva Leal, Manoel Augusto Pirajá da Silva, Antonio do Amaral Ferrão Muniz, José de Aguiar Costa Pinto, Eduardo Diniz Gonçalves, Eduardo Rodrigues de Moraes, Euvaldo Diniz Gonçalves, Joaquim Martagão Gesteira, Almir Sá Cardoso de Oliveira, Alvaro Campos de Carvalho, Mario Andréa dos Santos, Leoncio Pinto, José Olympio da Silva, Fernando Luz, Aristides Novis, Octavio Torres, Alfredo Couto Britto, Agrippino Barbosa, Aristides Pereira Maltez, Antonio Bezerra Rodrigues Lopes, Antonio Ignacio de Menezes, Estacio Luiz Valente de Lima, Raphael de Menezes Silva e Armando Sampaio Tavares; os professores em disponibilidade, doutores: José Eduiardo Freire de Carvalho Filho,, Aurelio Rodrigues Vianna, Alfredo Ferreira de Magalhães, Menandro dos Reis Meirelles Filho, Luiz Pinto de Carvalho, Adriano dos Reis Gordilho; o professor substituto doutor Augusto de Couto Maia e o representante dos livre-docentes doutor Francisco Peixoto de Magalhães Netto.

A sessão foi presidida peloo diretor interino, professor Augusto Cezar Vianna.

Verificando-se haver numero legal, foi aberta a sessão. Disse o diretor "o seu fim principal, que era dar execução ao artigo 27 e ao artigo 29, paragraphos 1 e 2 do Decreto n.º 19.851, de 11 de Abril de 1931; fazendo o Secretario, em seguida, a leitura das actas dos dias 9 de Julho e 22 de Agosto p. findos. A primeira foi approvada unanimemente. A segunda soffreu reparo do prof. Eduardo Moraes, na parte alusiva á prisão do guarda civil pelos academicos. Explicou este professor que, vendo o guarda preso pelos estudantes, pediu a estes, antes de qualquer attitude para com o mesmo, verificassem a sua culpabilidade no ferimento recebido pelo academico, no que fpoi attendido, sendo, logo depois, scientificado de haverem os proprios estudantes dado liberdade ao referido guarda.

Tambem o professor Agrippino Barbosa declarou não poder assignar a acta, em vista de nella haver referencias aos factos desenrolados no Gymnasio da Bahia, com cuja descripção se sentia em desaccordo. Assim, como Director da Instrucção foi testemunha das occurrencias ali havidas, e em que tomaram parte cerca de trezentos alumnos que se recusavam a fazer a prova parcial faquella epoca. Extendeu-se em considerações sobre o assumpto, mostrando que todo o seu esforço foi no sentido garantir a liberdade dos dissidentes que dedejavam se submetter á prova regulamentar, não considerando a medida do governo de mandar guardas civis para garantirem a ordem no estabelecimento como perseguição aos alumnos que se rebelaram. O orador foi aparteado pelos professores Fernando Luz, Pinto de Carvalho e Eduardo Diniz Gonçalves.

Ainda sobre o assumpto discutido pelo professor Agrippino Barbosa falaram os professores Aristides Maltez e Estacio de Lima.

Disse o primeiro que "como se está a lembrar os acontecimentos do Gymnasio, não pode, como professor daquella Casa como quem quem acompanhou de perto todo o ocorrido, deixar de relatar com a inteireza da verdade o que alli se passou, sem apreciar o facto da responsabilidade ou não da policia nos acontecimedntos, nem se houve por parte della perseguição aos alumnos. Estava no Gymnasio como examinador nas provas parciaes, em uma das sdalas do Pavilhão C. Ribeiro, quando vejo entrar o meu preparador o pharmaceutico Alfredo Rocha que assim me fala: Doutor Maltez as cousas já não estão boas, ha (sic) houve panaço nos estudantes e dizem que uma menina está ferida. Ao que lhe respondi: como é possivel uma cousa dessas, como é que se fere uma criança? E para conhecer bem os factos coprri ao largo do Gymnasio onde os meninos em protesto seguiam um homem gordo baixo, de rosto envermelhecido pelo calor, a gottejar suor, agitando os braços e a falar, que se affastava dos grupos de meninos que de novo o rodeavam a reclamar. Um delles, com o chapeu de palha todo machucado dizia que ao livrar-se de um golpe do guarda não pudera fazel-o sem perder o chapeu. Uma menina protestava pelo insulto feito ao collega. Rompi a massa dos alumnos, fui ao homem esbaforido, que a principio me disse ser o delegado: mas que dentre logo soube tratar-se de um dos secretas, e lhe disse: Não é possivel que o Snr. consinta que se esteja a maltratar as crianças que mal nenhum estão fazendo. Que falta estão a commeter? Ainda mais o Gymnasio não carece de tanta violencia para entrar em calma". O Snr. faça afastar-se aquelle secreta que está motivando todo este movimento". Apontava assim o secreta que havia maltratado e insultado os estudantes. O homem, sem parar, a agitar os punhos, sensivelmente irritado me responde: Daqui não sae ninguem. É ordem que temos. Eu retruquei: Mas quem lhe fala é um professor do Gymnasio que pode contra os alumnos. Elle me responde: não tenho nada com os preofessores do Gymnasio, só tenho que obedecer á ordem da policia. Aqui quem manda é a policia. Neste ponto, o meu preparador, que me havia acompanhado, puxa-me pelo braço e diz: Dr. Maltez, não perca seu tempo isso é uma falta de consideração a todos nós. Não vê como está este homem? Não o escutei no entanto, e depois de muito insistir, vi que o tal secreta affastava-se um pouco, para logo rodear uma das palmeiras do largo e voltar bem para perto do Gymnasio acintosamente. Comprehendi então ser inutil lidar com aquella gente e só tive em mente proteger os meninos procurando affastal-os dalli.

Procureui o tenente Hannequim com quem troquei idéas sobre o assumpto. O referido official, que ao meu ver portou-se com prudencia e delicadeza, disse que nada poderia fazer no tocante a retirada de força sem primeiro consultar o chefe de policia. Na sala Odorico Odilon reunidos eu, o doutor Correia de Menezes e o tenente Hannequim conversamos sobre a maneira de solucionar o assunto sem detrimento para nenhuma das partes. Eu aviltrei que a policia se retirasse e eu tomasse a responsabilidade de conter os alumnos:`Para isso eu os recolheria ao salão Ruy Barbosa, ao tempo que a Policia se retiraria. O doutor Correia de Menezes aventou a seguinte idéa: "Bem doutor Maltez, a policia não pode ficar desmoralizada. Nesse caso vamos fazer o seguinte: os meninos saem de um lado e a policia de outro". Ao que lhe disse: "mas assim, doutor a cousa é peior, menino é menino, e fica até parecendo um (espaço em branco). O tenente Hannequim diz então: "Bom, eu vou entender-me com o chefe de policia. " Vendo inuteis os meus esforços e pensando que um grito, uma vaia, uma pedrada poderiam dar consequencias gravissimas puz-me em campo sozinho e convidei os alumnos para uma sessão no salão Ruy Barbosa. Depois de muito trabalho consegui fazel-os aos poucos entregar e pedi ao doutor Ignacio Tosta que os fosse entretendo no Salão enquanto arrebanhava os demais. Apenas umas das alumnas acompanhada pela mãe se recusara a obedecer-me, dizendo que alli havia de ficar até o fim, que não ia para a prisão.

Quando já no salão, sentado do lado do professor Ignacio Tosta e mais alguns collegas, recebo um chamado do chefe de policia que no salão Manoel Devoto me esperava e com o qual tive o seguinte dialogo: "doutor Maltez mandei chamal-o para que o doutor diga a estes meninos que a policia não se retira daqui, que muito ao contrario vou mandar buscar mais forças e prostar alli a cavallaria". Surprezo com esta ordem quando só esperava idéas de paz, eu lhe digo: "mas, capitão, acho que é preciso termos mais moderação. Os meninos já estão todos recolhidos e além do mais nós é que temos o dever de pensar pelas crianças" Ao que me respondeu: "não, doutor, hontem fallei-lhes fraternalmente, não me quizeram ouvir e portanto estou disposto a tratal-os com a maxima violencia". Diante disto comprehendi nada mais ter que ouvir. Respondi: "Bem, capitão Facó, desde que é esta a ultima palavra que devo ouvir, dê-me licença porque vou dizer aos meus soldados reunidos no meu quartel general, o que penso: Nesse momento, o doutor director me diz: quaes são esses soldados, doutor Maltez? eu lhe respondi: os meninos que me esperam no salão Ruy Barbosa. Retirei-me. Longe de dizer uma só de minhas palavras da minha conferencia com o capitão Facó, procurei fallar sobre as grandes forças naturaes escravisadas á intelligencia do homem e fiz vêr que na natureza as cousas que mais nos encantam se fazem em silencio, embora as traduzam depois de maneira altissonante. Pedi-lhes, então, que em silencio se retirassem, sem um gesto só que traduzisse desrespeito, sem uma só palavra que revelasse descontentamento. E assim se elevaria no conceito da sociedade e mostraria ter grande amor a Patria. E terminei: labios trancados pelo silencio o caminho certo para a casa. Riram-se todos e todos se apartaram sem que se verificasse o menor incidente". Declarou o seguinte que: de referencia as palavras do doutor Agrippino Barbosa á sua pessôa accusações congeneres tambem chegaram. Não costuma, porém, revidar a calunia e a infamia, quando não trazem ellas endereço, nem assignatura. Não se defende, portanto a respeito. E sobre o seu collega prof. Agrippino, em companhia do qual varias vezes se defrontou com o illustre interventor da Bahia, nunca lhe ouviu , nem percebeu, um acto só que traduzisse delação ou accusação aos seus collegas. É o que lhe cumpre, em consciencia, como homem de honra, declarar".

Encerrada a discussão da ata foi a mesma submetida à votação, sendo aprovada contra o voto do professor Agrippino Barbosa.

Pela ordem, pediu a palavra o prof. Fernando Luz, o qual "propôz um voto de profundo pezar e de saudades pelo fallecimento do eminente professor Caio Octavio Ferreira de Moura. Declarou o Director que fazia suas as palavras do prof. Fernando Luz, por isto que era seu desejo apesentar igual proposta. Achava merecer a mesma approvação unanime, dispensada a formalidade da discussão, o que foi acceito por todos.

Solicitou a palavra a palavra o professor Aristides Novis. Começou lendo o relatório "das ocurrencias do dia 22 de Agosto ultimo, dirigido ao Director do Departamento Nacional do Ensino, nos seguintes termos: "Exmo. Snr. Dr. Director do Departamento Nacional do Ensino - Confirmado meu cabogramma de hoje, tenho por dever levar ao vosso conhecimento as ocurrencias desenroladas nesta Faculdade, hontem, 22 do corrente, e que motivaram o collectivo pedido de renuncia de nossos cargos, pelo Director e todos os membros do Conselho Téchnico e Administrativo. Procurarei, numa synthese fiél, historiar o movimento alludido desde os seus primordios. Conforme consta das actas do Conselho Technico e Administrativo, e vereis da copia que vos remetto, os estudantes declararam-se sympathicos ao movimento paulista de reconstitucionalização immediata do Paiz, desde o dia 18 do mez de Julho p. passado. Com enthusiasmo, mas, dentro da mais perfeita ordem, trouxéram-me o facto ao conhecimento. Juntamente com o proposito de tornarem publicas as suas expansões, numa passeiata que então projectavam, pela cidade. Sciente de que o governo havia prohibido manifestações desta natureza, consegui com alguns professores que os academicos disistissem do seu intento, reunindo-se os mesmos novamente, á tarde desse mesmo dia, resolvendo então que a passeiata se fizésse no dia immediato.

Lógo após essa reunião, era eu procurado por um Dellegado de Policia que me dizia autorisado pelo Chefe de Policia a participar aos estudantes as disposições do Governo de reagir contra os mesmos, caso viésse á rua. Em seguida, era a minha presença solicitada junto ao Sr. Interventor, de quem ouvi confirmadas semelhantes declarações. Dirigí-me, pois a 19, lógo cêdo, para o edifício da Faculdade, onde, ao lado dos Professores Eduardo Diniz, Euvaldo Diniz e Alvaro de Carvalho, convidados pelo interventor a secundarem a minha acção, falei á mocidade, concitando-a reprimir o seu intento, a que as as circunstancias da occasião dava as côres de empreza verdadeiramnte temeraria. Se a minha advertencia não lograsse attendimento, déssem-me os meus discipulos, então, curto praso para que, depondo o meu cargo, eu o visse poupado ás amargas contingencias do dia azíago que eu queria evitar. A mocidade ouviu-me, respeitosa, e prestando-me obediencia. Continuaram, porem, intervalladas, as suas manifestações pró-Constituintes. Dir-se-ha que eu devêra prohibir. Isto nunca. Dentro da ordem, não me era dado o direito de abafar o pensamento á mocidade e assim vinha ella se mantendo por mim sempre assistida nos seus incoerciveis e alvorados arroubos, jamais voltando a cuidar de qualquer manifestação de ordem externa, após o comprmisso que commigo e outros mestres assumiram desde o dia da passeiata frustada, a 19 de Julho.

Eis senão quando surge uma gréve dos alumnos do Gymnasio da Bahia, contra as provas parciaes. O governo, para garantir a liberdade dos dissidentes com a gréve, manda a sua força para para a porta do Gymnasio. Achava-me eu na Faculdade, na manhã de 22, quando gymnasianos de ambos os séxos, irrefravel (sic) (irrefreável) exaltação, alguns arrogantes, vão chegando aos grupos, desordenados communicando aos academicos que eles estavam sendo perseguidos pela policia, "tendo já um agente policial lesado a cabeça de um collega, á casse-têtê". É facil imaginar-se o effeito de semelhante denuncia junto ao espirito de solidariedade dos moços academicos. Revoltados, uns e outros, reúnem-se num dos amphytheatros da Faculdade, e fomam a deliberação de um desforço com a policia, na rua. Senti nesse momento a gravidade da situação. De grupo em grupo, aconselhando, pedindo calma, dialogando, por vezes, fiz a todos ver vêr os perigos a que iriam expõr as suas preciosas vidas, em luta desigual com a força publica. E, declarei-lhes, por fim: - se sahirem, fiquem certos de que darão ás costas ao ex-director da Faculdade. Obedeceram-me ainda uma vez, entregando-se o restante do dia, porém, á organização de uma resistencia inutil; porque muitas vezes inferior a que lhes poderia oppôr a força publica. Procurei, enérgico, dissuadíl-os déssa attitude. Sentindo, porém, que o fazia em pura perda, convoquei o Conselho Téchnico e a Congregação, afim de discutirmos uma formula capaz de pôr termo áquella situação que, com o avançar do dia, perdurava sempre. Eram 3 horas da tarde, e a Congregação discutia o caso para deliberar.

Um incidente na rua degenéra um tiroteio, do qual resulta um morto e um ferido, - este, estudante, com uma bala na côxa. Já por esse tempo, sabia-se que o edificio da Faculdade achava-se cercado pelas forças do governo: não houve mais calma para nada senão para organisar - as pressas, uma commissão, que iria entender-se com o interventor Federal, sobre o delicado assumpto. Eram 17 horas. Esta commissão composta, além do Diector, dos profs. Eduardo Moraes, Martagão Gesteira, Fernando Luz e Estacio de Lima, poude atravessar o bloqueio, sendo recebida no Palacio da Aclamação pelo interventor, em presença de autoridades. as primeiras palavras nossas, no sentido de uma conciliação, atalhou-nos S. Excia, considerando tardía a nossa interferencia." Já houvéra derramamento de sangue". Ademais, "tinha sciencia de uma connexão entre o movimento da Faculdade e um complot militar organizado para depor o seu governo".

E após exprobar o procedimento dos estudantes e de alguns professores, e recusar o alvitre que, não obstante a preliminar acima, ainda tentamos, e que seria o de mandar o governo retirar a força e dar livre sahida aos academicos, ditou as condições dentro das quaes seria a situação solucionada: Ei-las: 1.º - os individuos que não pertencem á Faculdade e que lá estivessem, seriam presos; 2.º - Os que se confessassem responsaveis: a) entregando-se, seriam presos com todas as garantias; b) os que desejassem resistir ficariam no edificio da Faculdade: 3.º - os innocentes, caso os responsaveis se apresentarem, seriam postos em liberdade, com todas as garantias. Disse-nos mais o interventor: " No caso de resistencia, irei em pessôa tomar as posições para commandar o ataque, que terá por fim a occupação militar da Faculdade". Para isto, estipulou-nos um prazo, que expiraria ás 7 e meia horas da noite. O tom dado pelo Interventor ás suas palavras era peremptorio, intimativo, sem offerecer margem a quaesquer considerações outras da nossa parte.

Assim sendo, tornámos ao edificio da Faculdade, onde ante a Congregação e uma commissão de alumnos reunidas, e depois de traduzir-lhes aquella violenta disposição adoptada pelo Governo, solicitamos a mesma commissão um entendimento immediato com os demais collegas sobre as condições supra-mencionadass e apresentadas pelo interventor. E como instava o tempo, propuzémos se adiasse o prazo do ataque por mais uma hora, sendo attendidos. Não tardou muito em que a Commissão de alumnos voltasse á nossa presença para num gésto de muita dignidade, dizer-nos da resolução que todos acabavam de tomar, de se responsabilizarem collectivamente pelo movimento da Escóla, sem um só voto discrepante. Rendiam-se, assim, num edificante (espaço em branco) de integral solidariedade.

Um tenente da Policia que nos acompanhára do Palacio á Faculdade, quando vinhamos de levar ao interventor a resolução do estudante, procede ao arrolamento de algumas armas encontradas, entregando-me um recibo das mesmas. E uma serie de auto-omnibus, contractados pelo Governo, passou a conduzir, com destino á Penitenciaria do Estado, na mais acerba provação por que já passou a minha gloriosa Escóla, sua indefesa mocidade. Ao todo 514 alumnos. Mais tarde, eram detidos, fora da Faculdade, os illustres professores Euvaldo Diniz Gonçalves, Mario Andréa dos Santos, Alvaro Campos de Carvalho, Leoncio Pinto, Eduardo Diniz Gonçalves, Mario Carvalho da Silva Leal e Adolpho Diniz Gonçalves, os dois primeiros, membros do Conselho Techico e Administrativo.

Perturbada, assim, tão fundamente, a ordem escolar e mais do que isto, aggravada a sensibilidade moral da Faculdade pela maneira por que se procurou remediar a situação creada pelos alumnos, restava-me, em obediencia aos meus principios e para o proprio decôro do nosso instituto, desligar-me, automaticamente, do cargo de seu director, renuncia em a qual me aacompanharam todos os dignos membros membros do Conselho Téchnico-Administrativo. Telegraphei neste sentido ao Exmo Snr. Ministro, na manhã de hoje, 23, solicitando-lhe indicação de meu sucessor, uma vez que a renuncia collectiva do Conselho me collocava na impossibilidade de cumprir a vigente lei do Ensino, quando confére ao mais antigo membro dessa agremmiação o poder de substituir o director. Communicou-me o Sr. Interventor, á hora da nossa entrevista em Palácio, haver proposto ao Governo da Republica o fechamento da Faculdade.

Ao retirar-me, hontem, quasi á meia noite, do seu edificio autorisei ao porteiro a ficar á disposição do Delegado de Policia, Tenente Hannequim Dantas, afim de franquear o estabelecimento, ás buscas que o mesmo, em nome do Governo me participou iria proceder. De facto, estas buscas tiveram hoje mesmo inicio. - Sentir-me-ia em falta com o mais sagrado dos meus deveres se neste mesmo officio em que vos relato as lamentaveis ocurrencias de hontem, não traduzio-se perante o Governo tão dignamente representado por este Departamento, a minha imperecível gratidão aos Srs. Professores que acudindo ao meu appêlo, deram numero para a sessão da congregação, auxiliando-me todos, com o seu prestigio e carinho, junto á mocidade na delicada tarefa de conter-lhes os animos exaltados assim como retemperando-me as energias conturbadas em momento tão penoso da minha administração. Outrossim, Snr. Director, quero fique bem assignalado, á credito do meu mais comovido apreço o gesto magnánimo daquelles que se conservaram a até os ultimos instantes no recinto da Faculdade, - meus nobres collegas de Congregação, alguns assistentes, o secretario, o bibliothrcario e funccionarios outros, até o mais humilde, participantes que o foram, todos, dos mesmos riscos que passavam sobre a mocidade, em admiravel renuncia de si mesmos, por ella exposto abnegadamente a propria vida, presa, aquella hora de incertezas, ao azar de circunstancias impenetraveis e ingratas.

Que fique bem consignado, num preito de justiça, o conceito desfructado pelos caros collegas detidos, perante esta Directoria, e a declaração que fis ao Sr. Interventor, de que qualquer vislumbre de responsabilidade que, por acaso, se viesse a apurar, quanto a participação de qualquer delles, no movimento de 22, tido por articulada a uma subversão militar, assumiria para mim as proporções de dolorosa surpresa, tamanha é a minha convicção de que não agiriam no caso senão no sentido de pacificação dos espiritos. Rogando-vos façaes chegar ao conhecimento do Exmo. Snr. Ministro da Educação o contexto deste officio, reitero ao Departamento Nacional do Ensino, ao seu emérito Director e dignos servidores, em geral, o meu particular agradecimento pelas innumeras provas de captivante apreço trinutadas a esta Directoria, com os mais sinceros votos pela crescente prosperidade de tão importante ramo da publica administração, bem como pela felicidade pessoal de cada um de vós. Saudações attenciosas".

Em seguida passou a historiar os fatos subseqüentes ao dia 22, na forma que se segue: "AS OCURRENCIAS POSTERIORES A 22 DE AGOSTO -Na mesma noite de 22 de Agosto, entendi-me pessoalmente com os collegas Euvaldo Diniz, José Olympio e Armando Tavares, e pelo telephone com os collegas Cesario de Andrade e Mario Andréa, membros do Conselho Téchnico-Administrativo, a fim de obedecer ao principio legal, que manda transferir ao mais antigo a Directoria, sem que nenhum delles a quizésse acceitar, dando-me, então, a conhecer a disposição em a qual tambem se achava, de renuncia ás suas respectivas funcções. Assim sendo, enviei ao Exmo. Snr. Ministro da Educação na manhã de 23, o seguinte cabogramma: "Levo vosso conhecimento que hontem pela manhã alumnos Faculdade Medicina occuparam seu edificio em attiude reaccionaria governo Estado Declararam-me assim proceder em solidariedade alumnos Gymnasio Bahia alli presentes dizendo-se ameaçados Policia motivos ligados provas parciaes. Persistindo situação, máo grado procurar dissuadil-os proposito, convoquei urgencia Conselho Technico-Congregação afim alvitrar-se melhor maneira solucionar crise. Acompanhado alguns professores conferenciamos interventor Federal que apresentou prazo rendição estudantes, a qual se verificou, entregando-se todos prisão. Não tendo conseguido manter por mais tempo ordem Faculdade, dou por finda minha missão, solicitando-vos virtude haverem renunciado seus cargos actuaes membros Conselho Technico-Administrativo indicação meu sucessor Directoria. Agradeço-vos, penhorado fidalgas provas confiança com que honrastes minha gestão. Respeitosas saudações - Aristides Novis".

Ao diretor do Departamento Nacional do Ensino, O Prof. Dr. Aristides Novis também cabografou nos seguintes termos: "Communico-vos acabo sollicitar Sr. Ministro minha exoneração Directoria Faculdade virtude gravidade factos alliu occorridos hontem, ligados attitude reaccionaria estudantes. Agradeço-vos reiteradas provas dfe attenção honrastes minha administração. Saudações attenciosas. Aristides Novis".

E prosegue o Prof. Dr. Aristides Novis: "Ainda na manhã de 23, chegava ao nosso conhecimento a dolorosa noticia de que alguns collegas se achavam detidos policialmente, desde pela madrugada. Medidas tomadas: - A consternação que dominou o espirito da classe, nas horas que se seguiram ás prisões de estudantes e professores, positivou-se, nobremente, em duas memoraveis sessões levadas a effeito pelas nossas aggremiações medicas, naquelle mesmo dia, no Hospital Santa Isabel e em mais outra importante reunião, na Faculdade de Medicina, na noite do dia immediato.

Na primeira sessão apos vehemente protesto lavrado pelo digno collega prof. Garcez Fróes, foi constituida uma commissão composta dos drs. Albino Leitão, Eduardo Moraes, José Olympio, Armando Tavares, Adriano Pondé, Edistio Pondé e Aristides Novis, para, em nome da classe, interceder junto ao Sr. Interventor, defendendo a liberdade daquelles que, segundo consenso geral, estavam injustamente soffrendo tão rude constrangimento. Esta commissão, á tarde do mesmo dia, se desobrigava do seu primeiro mandato, conferenciando em Palacio com o Interventor, que a recebeu em audiencia especial. E á noite, em sessão ainda uma vez presidida pelo preclaro collega Prof. Albino Leitão, dava contas á illustre e numerosa assembléa, então reunidas, das disposições daquella autoridade, e que della ouvira e lhe fora por ella prometido. Ainda esta vez, não logramos ser attendidos, qual o desejaramos, com a libertação immediata dos detidos. Referiu-se o Interventor em a nossa conferencia dessa tarde, ás razões que lhe assistiam para só ordenar a soltura após o inquerito regular dos prisioneiros, certo como estava de que entre elles (de referencia aos estudantes orçou-os em mais de 90%), ao lado dos que prestavam simplesmente a sua solidariedade ao movimento de 22, encontrar-se-iam verdadeiros culpados, os co-autores de um levante, que sabia articulado a um complot militar urdido na Bahia para depor o seu governo, e com ligação, talvez, para fora do Estado.

Por isso, o que podia comprometter era apressar os interrogatorios, para, mais rápido, ser feita a selecção dos implicados, com prompta e plena liberdade dos demais detidos. Nesta mesma sessão foi organizada uma outra commissão para prestar aos detidos a assistencia moral e material, em nome da classe, abrindo-se para para este fim uma subscripção, a cargo do doutor Adeodato Filho.

Foi marcada outra sessão para o dia seguinte, na Faculdade de Direito, posta gentilmente á disposição da classe, pelo seu digno Director prof. Bernardino de Souza. Nesse mesmo dia, 24 de Agosto, lê-se na imprensa matutina uma declaração da interventoria, prohibindo qualquer reunião de caracter politico. Marcada para a noite a nossa sessão na Faculdade de Direito, e sendo muito possivel que se estivesse a deturpar os nossos intuitos, emprestando-se-lhes diversa significação, procuramos o chefe de policia, para um entendimento a respeito. Á sua presença fomos os Professores Albino Leitão, Fernando Luz e eu. O Capitão Facó nos declarou que nada poderia resolver sem ouvir o interventor, e a espera de uma solução atravessamos o dia, até que á tarde a fomos ter, em nova conferencia com o interventor, em Palacio, favoravel aos nossos desejos, reconhecida como foi a nobre finalidade do projectado comicio. Esta commissão, a mesma da vespera, foi recebida em conjuncto com duas commissões outras, das Faculdades de Direito e Engenharia, já presentes quando esta chegara, irmanadas ambas no mesmo proposito de pugnar conosco pela cessação da pena impósta pelo governo aos nossos prezados collegas e discipulos. Que se assignalle, para conforto nosso, o gesto edificante das duas congregações amigas. De permuta de idéas então havida com o Sr. Interventor, resaltou a affirmação da sua parte, quanto aos professores, de que seriam transferidos para suas residencias onde ficariam presos sob palavra, caso se lhes não apurassem maiores culpas no inquerito em via de execução, e quanto aos alumnos de que seriam postos em liberdade, depois de lançarem as suas assinaturas num termo de responsabilidade, em o qual se declarassem alheios ao mencionado complot subversivo. Ao professor Leitão, que o interrogou, neste sentido, o interventor synthetisava, de forma por que ficou dito o seu pensamento.

Seriam quasi 18 horas, quando as tres commissões reunidas davam por finda sua missão. No momento da despedida, e a um appêllo que fiz ao interventor para que me deixasse revelar aos presentes uma affirmativa que elle pouco antes me fizera, de estar convencido o seu governo da leal attitude do Director da Faculdade, atalhou-me o mesmo para dizer-me ter já externado o mesmo conceito ás commissões de Direito e Engenharia, que nos haviam precedido. Fiz-lhe então sentir que se tal attitude fizesse jús como expressão moral, a qualquer premiação, que se revertesse, integralmente tal premio á sorte dos collegas e discipulos detidos pelo seu governo. E num sincero derivativo ás emoções do momento, não lhe pude esconder o quanto soffrera nos seus melindres moraes, das mãos pesadas da fatalidade naquelle triste dia - a nossa amada Faculdade.

E continuo o Prof. Dr. Arestides Novis: "Huma hora depois, antes mesmo da sessão da Faculdade, éramos conhecedores da soltura de todos os estudantes recolhidos á Penitenciaria. Isto mesmo era traduzido em brilhantes palavras pelo professor Leitão, e tambem pelo Professor Fernando Luz e pelo Docente Heitor Fróes, na sessão logo após realisada. Mais tarde, no decorrer da mesma noite, eram reconduzidos aos seus lares, sob palavra, todos os nossos caros collegas. -

Uma hora antes da conferencia aprazada para Palacio, pelo interventor, recebia eu um convite do mesmo para lá ir, pois desejava me falar. O motivo, então, declarado, consistia em incitar-me a reter a Directoria da Faculdade, - conforme os desejos que lhe manifestára em telegramnma, o Snr. Ministro da Educação, extensvos estes mesmos votos a todos os membros do Conselho Techico-Administrativo. De mim, como de meus dignos collegas, pois, lhe conhecia bem as disposições, autorisei, de logo, S. Excia, a transmittir ao Sr. Ministro, com os nossos agradecimentos pela honra da proposta, a firmeza dos nossos propositos de renuncia, taes os imperativos que a tantos anos levavam. Meditada, não podia comportar hesitações a nossa attitude. Ademais, havia membros do proprio Conselho presos ...

Já o illustre Director do Departamento Nacional de Ensino, Sr. Professor Aloysio de Castro, me havia telegraphado nos seguintes termos: - Off. urgente Dr. Aristides Novis. Director Faculdade Medicina Bahia "Lamentando occurrencias faço votos direcção Faculdade não se veja privada luzes illustre Professor que tão relevantes serviços tem prestado em época difficil". Assim respondi ao presente despacho: "Prof. Aloysio de Castro - Departamento Ensino - Rio - "Penhorado generosas palavras vosso telegramma sinto sejam assim tão imperativas razões determinantes meu afastamento direcção Faculdade para de outra maneira traduzir minha profunda consternação lamentaveis ocurrencias. Attenciosas saudações. Aristides Novis. Director Faculdade Medicina".

No dia imediato, 25, era eu chamado ao telephone pelo interventor que me communicava um novo despacho do Sr. Ministro da Educação, solicitando-lhe a indicação do meu sucessor na Directoria, uma vez tornada irrevogavel a minha decisão de renuncia. Não lhe era grato entretanto, valer-se dessa autorização. Usando-a, provocaria, talvez, repros á Congregação, a quem antes, quizéra acatar, ouvindo della propria a indicação do novo Director. Pensei sim convocar a congregação. Os primeiros passos, porém, dados neste sentido trouxéram-me a convicção da inutilidade da medida. Os collegas, em sua absoluta maioria, por mim e pelo meu secretario consultados, declinavam da indicação, apoiados na consideração de que, em se tratando de uma prerrogtiva nossa, estatuída em lei, não deveriamos acceitar que esse direito deixasse de ser reconhecido pelos altos poderes do ensino para transfigurado em cortezia, assim nol-o ser attribuido pelo Sr. Interventor. O governo que fizesse em tal caso, o preenchimento da vaga em apreço.

Ao interventor, com quem me obrigára a uma resposta, declarei simplesmente: que era inutil a convocação alludida, porquanto consultados, individualmente, eximiam-se os meus collegas de opinar, no caso, preferiundo que o fizésse o proprio Governo. Esta resposta, fornecia eu a 26.

A 27, era-me passado o seguinte e urgente telegramma pelo emerito Director do Departamento Nacional de Ensino: - Á noite recebido. Urg. Off. Dr. Aristides Novis - Bahia. "Sciente senhor Ministro telegraphou Interventor para que appélla amigo continué prestar Faculdade Conselho, peço-lhe vem a juntar meu apêllo, acreditando seja encontrada formula permita Faculdade continuar sob tão notavel administração. Affectuosos abraços - Aloysio de Castro - Director Geral" - A 28, pela manhã, subscrevi, em resposta, o seguinte cabogramma: "Professor Aloysio de Castro. Rua Dona Marianna, 16 - Rio" Agradecendo-vos assaz sensibilisado meu nome Conselho Téchnico vossas honrosas expressões, sentimos natureza ocurrencias nos impomha proprio decoro Faculdade, intransigencia nossa renuncia collectiva. Melhor julgareis carta vos enderecei via aérea. Saudações affectuosas. Aristides Novis". -

Decorridos alguns dias, e sem solução a minha renuncia assim me communiquei com o Departamento a 2 de Setembro. Urg. Prof. Aloysio Castro - Departamento de Ensino - Rio - "Peço-vos accuseis relatório acontecimentos Faculdade remettidos avião quarta-feira. Continuo em vista motivos expostos firme proposito renuncia. Não tendo a quem passar Directoria em vittude persistir Conselho Technico mesma attitude demissionaria, rogo-vos encarecidamente, afim evitar maiores embaraços vida administrativa Faculdade lembreis Governo sejam minhas funcções transferidas outros professor segundo criterio antiguidade, até que regulamentado artigo actual no tocante preenchimento vaga director ou adoptando alvitre outro que ao governo pareça acertado, se possa considerar solucionado definitivamente assumpto. Fineza responderdes urgente. Saudações attenciosas. Aristides Novis - Director Faculdade Medicina".

No dia 5, chegava-me o seguinte despacho: Off. Urg. dr. Aristides Novis - Bahia. "Transmitti Snr. Ministro vosso relatorio bem como vosso telegramma. Affectuosas saudações - Aloysio de Castro". Máo grado a minha decisão de affastar-me da Directoria, e a espectativa em que me achava de prompta desligação do meu cargo, não me seria licito desertar o posto antes que o governo me determinasse a quem o devera passar. Assim, dispuz-me a attender a attender todo o expediente de urgencia, inclusive a folha de pagamento, do pessoal docente e administrativo, relativa ao mez de Agosto, apontada a frequencia integral dos funccionariois, não obstante interrompidos os cursos desde 22 de.

Desse meu acto, dei sciencia ao Governo, em telegramma, expedido no dia 6 ao Departamento, e aqui reproduzido: "Prof. Aloysio de Castro - Departamento de Ensino - Rio - Communico-vos autorisei pagamento integral folhas mez Agosto pessoal Faculdade não obstante terem ficado suspensos seus trabalhosa desde occurrencias dia 22. Motivou tal suspensão além investigações policiaes procedidas primeiros dias, communicação me fez Sr. Interventor haver sido por elle proposto Governo Republica fechamento Faculdade. Como até presente data nenhuma outra communicação recebeu neste sentido Faculdade, cumpre-me scientificar-vos, tendo em vista motivos alludidos, cursos continuam suspensos.. Saudações attenciosas. Aristides Novis - Director Faculdade Medicina." -

No dia 9, tive a honra de receber o seguinte despacho do Sr. Ministro da Educação - Off. Prof. Aristedes Novis - Faculdade Medicina Bahia - Levando vosso conhecimento haver referendado neste momento decreto concedendo-vos exoneração solicitada cargo Director Faculdade Medicina, prevalecendo-me opportunidade apresentar-vos sinceros agradecimentos valiosos serviços prestados administração desse tradicional Instituto ensino. Cordiais saudações" Francisco Campos - Ministro Educação". Em resposta telegraphei: "Ministro Francisco Campos - Rio - Agradecendo-vos honrosas expressões, que endereçastes, referendando acto minha solicitada exoneração Directoria Faculdade, crede, Sr. Ministro, que as guardarei no mesmo apreço de outras attenciosas provas provas dispensastes. Minha gestão, para sempre reconhecida nosso pontual interesse causa glorioso Instituto acabo ter insigne honra dirigir". Respeitosas saudações - Aristides Novis".

Em data de 16, chegava-me pelo correio o decreto de nomeação do meu sucessôr na Directoria, o Sr. Professor Augusto Vianna. Dando-lhe, officialmente, conhecimento do facto, pedi-lhe se dignasse indicar dia e hora em que desejava assumir as suas funcções. Em resposta, annunciou-nos o recem-nomeado que ficaria no dia immediato 17, ás 14 horas. De facto, no dia e hora designados, transferia-lhe eu a direcção da nossa Faculdade, após as indispensaveis formalidades regimentais.

 
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