História da Medicina

artigo 03

continuação (01)
Discurso de Inauguração do Anfiteatro Alfredo Britto
Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.

O físico Wilhelm Conrad Roentgen apresentou ao mundo, em 8 de novembro de 1895, os raios X, em Wurzburg, Alemanha. No alentado e gigantesco livro “Commissariado da Policia do Porto – Registro de Sahida de Passageiros”, Nº 57, página 31, está lavrado que Alfredo Britto embarcou para Lisboa no vapor francês “La Plata”, com destino a Bordeaux, com escalas, zarpando o “steamer” no dia 27 de julho de 1896. Como companheiro de viagem do Dr. Alfredo Britto, registrava-se o digno negociante Manoel Pedroza Junior, acompanhado de sua virtuosa senhora e uma filha, com destino a Bordeaux. Os ilustres viajantes eram os avós paternos do nosso caríssimo colega, Dr. Fernando de Souza Pedroza. Esta viagem de Alfredo Britto ao Velho Mundo teve extraordinária importância histórica e científica para a Bahia e para o País, porquanto, no seu retorno, o renomado médico instalou o primeiro aparelho de raiox-X na cadeira de Propedêutica Médica, da qual era catedrático, funcionando o novo equipamento no Hospital Santa Isabel, o qual foi utilizado, pela vez primeira, em cirurgia de guerra, na epopéia de Canudos, como já foi dito anteriormente.

            O grande cientista retornou à Bahia no dia 12 de março de 1897, a bordo do paquete francês “Cordillere”, que procedia de Bordeaux. Cf. “Commissariado da Policia do Porto – Registro de Entrada de Passageiros”, Livro Nº 08, página 86-v.

            No primeiro dia de setembro de 1885, foi instalado o “Posto Medico-Cirurgico da Bahia”, para “prestar, sob a direção dos Drs. Agrippino Dorea, Anísio de Carvalho, Bráulio Pereira, Alfredo Britto e João Lopes, todos os serviços de medicina, cirurgia e obstetrícia a quantos, constituindo uma classe de contribuintes queirão gosar das vantagens que lhes são por elle offerecidas”. Estava o Posto Médico estabelecido na “Praça do Palácio”, ponto mais central da cidade, em escriptorio ligado as casas de residência dos facultativos por meio de linhas telephonicas e no qual se achão sempre médicos, a qualquer hora do dia ou da noite, para dar consultas e attender a chamados”.

            Em agosto de 1895, o Dr. Alfredo Britto anunciava na gazeta “Estado da Bahia”: “Clínica Medico-Cirurgica do Dr. Alfredo Britto – a rua Carlos Gomes n. 61 – Chamado a qualquer hora – Consultas de 1 ás 2 horas da tarde. Telephone – 71”.

            Já funcionava em julho de 1899, o “Consultório Clínico e Gabinete de eletricidade medica e raios X”, dos Drs. Alfredo Britto e Vieira Lima, na rua da Mesericórdia, n. 24, de 1 ás 4 horas”, quando anunciava as “Ultimas applicações dos raios Roentgen ao diagnostico e tratamento das moléstias em medicina e cirurgia”.

            Foi o Professor Alfredo Britto quem primeiro diagnosticou apendicites entre nós, no ano de 1898, ao atender um segundoanista de medicina, de família de Serrinha, operado pelo Professor Antonio Pacheco Mendes, o cirurgião que fez a primeira apendicectomia na Bahia, no jovem estudante.

            Na qualidade de presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia, interferiu junto à Casa da Santa Misericórdia no sentido de se destinar “duas salas convenientes” aos tuberculosos, atendidos no Hospital Santa Isabel, mediante ofício de 16 de dezembro de 1895.

            Em 1903, o diretor da Faculdade de Medicina, Alfredo Britto, estipulou que “por conta e sob a Direção e fiscalização da Diretoria da Faculdade de Medicina, seria feita a construção dos pavilhões necessários para o serviço de clínica obstétrica, no terreno já adquirido para a instalação da Maternidade, nas vizinhanças do Hospital, pela Santa Casa, aplicando esta nas obras, o saldo existente na importância de 40:643$130, das quantias recebidas do Governo para auxílio à construção da mesma Maternidade, sendo o serviço da Clínica Obstétrica ou da Maternidade custeado pela Santa Casa desde a conclusão das obras”. Numa das paredes externas da “Climério de Oliveira”, uma placa de mármore mostra que o edifício foi iniciado em 1903, sendo Presidente da República, o Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, Ministro do Interior. Dr. José Joaquim Seabra, Diretor da Faculdade de Medicina, Dr. Alfredo Britto...

            Na condição de sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, ofertou à dita instituição, em 1904: Memórias Históricas (1900 a 1901); Revista dos Cursos; Breve noticia sobre a Faculdade para a Exposição Universal de S. Luiz.

            O magnífico diretor inicou a publicação da Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina, na qual eram divulgados os trabalhos feitos pelos professores, substitutos e auxiliares do ensino. A Revista saia regularmente durante o ano (2-3 fascículos), constituindo os volumes anuais. De 1913 em diante, foi suspensa a sua publicação.

            Mandou imprimir na Imprensa Nacional, no Rio de Janeiro, algumas das Memórias Históricas que não tinham sido publicadas e reeditar outras.

            Em 1905, contratou com a casa Guinle &C., desta praça, o fornecimento e a instalação de todo o material destinado à sala de hidro-eletroterapia para ser instalado na antiga enfermaria de tuberculosos do Hospital Santa Isabel.

            Ao lado desse hospital, determinou o diretor Alfredo Britto a construção de um edifício, por ele planejado, e inaugurado a 21 de maio de 1906, com o nome de Instituto Clínico, onde foi montado nas clínicas nele funcionando, um gabinete equipado para a realização de exames, pesquisas e trabalhos práticos.

            Na sessão da Congregação da Faculdade de Medicina realizada em 24 de maio de 1909, onze dias após o falecimento do conspícuo diretor, foi lido requerimento da Sociedade de Medicina da Bahia, pedindo para dar o nome de Instituto Alfredo Britto ao Instituto Clínico por ele fundado e para ser colocado ali o busto do eminente professor. Foi deferida a petição.

            Na diretoria de Alfredo Britto, em 1902, foi criada comissão composta dos professores Tillemont Fontes, Nina Rodrigues e Pacífico Pereira, à qual, mais tarde, incorporou-se o professor Pinto de Carvalho, para organizarem o serviço clínico de psiquiatria, promovendo-se a construção de um pavilhão especial, no Asilo S. João de Deus. Anos mais tarde, sob a direção do Dr. Eutychio Leal, o dito pavilhão tomou o nome de Pavilhão Alfredo Britto.

            Às 20 horas do sábado, 7 de junho de 1908, realizou-se no Salão Nobre da Faculdade de Medicina a cerimônia da fundação da Sociedade de Medicina da Bahia, sendo proclamado seu presidente o ex-diretor Dr. Alfredo Britto.

            Foi o 2º Secretário da Liga Bahiana contra a Tuberculose, fundada por Ramiro de Azevedo em 22 de julho de 1900, no mesmo Salão Nobre da Faculdade.

            Presidiu o 6º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, reunido em São Paulo, em setembro de 1907.

            Tendo sido honrado pela comissão organizadora do 4º Congresso Médico Latino Americano, realizado no Rio de Janeiro, de 1º a 8 de agosto de 1908, com a nomeação do seu representante direto no Estado da Bahia, foi Alfredo Britto indicado presidente, com atribuições para organizar e presidir o comitê regional de propaganda do mesmo Congresso.

            Firmou o primeiro convênio entre o Estado da Bahia e a União, esta por ele representada como diretor da Faculdade, em 31 de dezembro de 1907, sobre o funcionamento do Serviço Médico Legal da Polícia, que passou a ser feito no Pavilhão de Medicina Legal (Instituto “Nina Rodrigues”), por ele construído.

            É patrono da cadeira nº 32 do Instituto Bahiano de História da Medicina, fundado em 29 de novembro de 1946. Na Academia de Letras da Bahia e na Academia de Medicina da Bahia é padrinho das cadeiras de números 38 e 02, respectivamente.

 

Voltar para História da Medicina

 Próxima