HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 24
O INCÊNDIO DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM 1905 (*)
Pesquisa historiográfica revista e ampliada, apresentando fotografias raras, preciosas e inéditas dos escombros dos pavilhões da Faculdade.
Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto

Naquele tempo, no ano de 1905, o carnaval da Bahia já começava na quarta-feira que antecedia o tríduo de Momo. (1)

Na quarta-feira, 1º de março de 1905, o clube Inocentes em Progresso realizava brilhante passeata, à luz de fogos cambiantes, partindo os “distinctos passeantes” do Terreiro de Jesus, às nove horas da noite, percorrendo as principais ruas da cidade alta, acompanhados sempre de enorme massa de povo, adepto e entusiasta das festas carnavalescas, que não cessava de aclamar o “sympathizado club.”

Na mesma noite, às 20 horas, acontecia no edifício do Fantoches de Euterpe, à praça da Piedade, o ensaio geral da charanga do clube, composta de 23 figuras da banda do 2º Corpo de Polícia do Estado.

A comissão encarregada do embelezamento da rua das Portas do Carmo deveria distribuir dois bonitos prêmios, devendo o primeiro ser oferecido ao máscara que se apresentasse mais “phantasiado” e o segundo ao mais espirituoso.

Quinta-feira, 2 de março de 1905 — O sempre festejado clube Cruz Vermelha partia do largo do Corpo Santo, às 19 horas, com destino à cidade alta, tendo à testa do préstito um carro-estandarte homenageando uma divindade do Olimpo, representada donairosamente por gentilíssima senhorinha, filha de um funcionário da Alfândega federal. O belo carro-estandarte era seguido de quatro carros alegóricos e um de crítica, aformoseados pela presença de gráceis donzelas e pela candidez de gárrulas crianças, vestidas com gosto e arte, de cores garridas, assentadas em degraus espelhados, ovacionadas com estrépito e regozijo. O cortejo era animado pelas notas das marchas caprichosamente executadas pela correta banda do 1º Corpo de Regimento Policial, arrastando enorme multidão até a praça Duque de Caxias, deslocando-se, em seguida, até a praça Castro Alves, atopetada de povo que aclamava com delírio o pomposo clube.

Às 21 horas e 30 minutos passava de novo o bem organizado préstito pela referida praça, já de volta e com destino à praça 15 de novembro, onde deveria dissolver-se.

O desfile, composto de grande número de cavalheiros e de carros com sócios, desde o ponto de partida, à cidade baixa, até á praça Duque de Caxias, atravessou por uma grande massa popular, postada nos passeios e calçadas. As janelas das ruas percorridas pelo luzido cortejo estavam cheias de alegres espectadores.

A multidão de foliadores, distribuída confusamente, formiguejava nas vias urbanas, “num dos momentos que procura dissipar, na esturdia alegre das ruas, as sombras crepusculares que lhe toldam a fronte abatida por desenganos, privações e tristezas”.

De repente, por volta das 21 horas e 30 minutos, as cornetas dos quartéis e o toque plangente dos sinos das igrejas badalavam o rebate, anunciando incêndio no distrito da Sé e arrastando a turba para o local.

Magotes de populares que mal dobravam a primeira esquina da “rua do Collegio”, de vozes desencontradas e de brados confusos, avistavam, de longe, o dantesco espetáculo das chamas brotando com ímpeto de um telhado no antigo e lendário Terreiro de Jesus.

Uma algaraviada populaça, respirando acre atmosfera impregnada de fumo, contemplava, desolada, a cena dolorosamente pungitiva das labaredas raivosas que devoravam o majestoso edifício da Faculdade de Medicina da Bahia.

Tredo e ameaçador, o incêndio aumentava e as chamas que começaram nos baixos do pavilhão, atingiam o pavimento superior, destruindo a preciosa e seleta biblioteca da Faculdade, enquanto nas proximidades do elegante palacete da cultura da Bahia, num tumultuar incessante, faziam-se escutar gritos desordenados, vozes de comando, em sua maioria não observadas, e súplicas comovedoras.

Tomando conhecimento do sinistro, os componentes do cortejo do clube Cruz Vermelha, pesarosos, dispersaram-se na “praça do Conselho”.

Os bombeiros municipais, conduzindo uma velha e estragada bomba a vapor, comandados pelo tenente Oliveira Lima, mostravam-se impotentes para o combate ao incêndio, em razão da dolorosa e proverbial deficiência de água e da falta das necessárias instruções respeitantes ao imediato isolamento. A dita bomba a vapor só começou a funcionar depois de 1 hora da madrugada.

Cumpre salientar que aos bombeiros do município, se faltou por completo o auxílio das disciplinas e dos respectivos exercícios, não houve ausência de dedicação pelo trabalho de salvamento, ao qual se entregaram corajosos, mas despidos de todo o recurso profissional.

Por meio de escadas emendadas, na falta de “escadas de assalto” que o Corpo de Bombeiros não tinha, o acadêmico do 3º ano de medicina Oliveira Junior, acompanhado por um grupo de oito homens, entre os quais bombeiros e praças do 9º batalhão de infantaria, subiu nos telhados do salão nobre, em demanda do depósito da água da Faculdade que devia conter cerca de três mil litros de água. Para isso os homens que acompanharam Oliveira Junior levavam baldes, nada podendo fazer, no sentido de aproveitar essa água, pois o dito depósito já havia pendido, derramando o precioso líquido.

Foi de melhor alvitre isolar a parte não incendiada, o que fez o acadêmico Oliveira Junior cortar o telhado em cerca de duas braças, (antiga unidade de comprimento equivalente a 2,2m.), e por meio de uma “escada de assalto”, fornecida a hora adiantada, pelo Regimento Policial, fez subir uma mangueira com esguicho, para refrescar o salão nobre, não só o assoalho, como o teto, que já começava a ser atingido pelas labaredas.
Feito esse trabalho, incontestavelmente de grande valor, mandou o acadêmico Oliveira Junior subir outra mangueira, por meio de cordas, para debelar o fogo, que já passava para uma sala vizinha à da secretaria, conseguindo felizmente limitar o fogo nessa parte.

Circunscrito assim o incêndio por esse lado, tratou o mesmo acadêmico de socorrer aos gabinetes de historia natural e histologia, que ameaçavam arder. Neste sentido usou de escada emendada e de uma mangueira de extensão superior a quinze metros, sendo então, imediatamente, abafado o fogo.

Do lado oposto do edifício da Faculdade, para evitar que o incêndio lavrasse pelas salas da secretaria e outros gabinetes, subiu ao telhado o Sr. Dr. Pedro Rodrigues dos Santos, ativo conselheiro municipal, que se colocou à testa dos trabalhos, limitando-se também aí o incêndio.

Somente mais tarde foi que os bombeiros, auxiliados e orientados por pessoas estranhas à corporação, levaram a efeito a azáfama salvadora de isolamento e combateram as chamas utilizando a água do chafariz existente no parque, aliás tão próximo da Faculdade.

Na sexta-feira, 3 de março, o infatigável diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. Alfredo Britto, informou à gazeta “Diario de Noticias” que os bombeiros do município não aceitaram utilizar-se de doze mil litros de água existente em um tanque, situado em um pátio, no interior do edifício da Faculdade e bem vizinho ao local onde o incêndio teve começo. O oferecimento dessa grande quantidade de água, feito pelo eletricista do estabelecimento de ensino médico, uma vez utilizado, teria, certamente, sufocado, o fogo incipiente.

Nas circunvizinhanças da Faculdade de Medicina existiam as seguintes “torneiras de salvação” – (atualmente com o nome de hidrantes): 1 na rua do Saldanha, esquina do prédio em que outrora funcionou o “Estado da Bahia”; 1 na rua direita do Colégio, em frente à Farmácia Jutuca; 1 no Cruzeiro de São Francisco; 1 na esquina do beco do Açouguinho; 1 no largo do Pelourinho; 2 no Maciel de Baixo e 1 no Liceu.

Os trabalhos de isolamento somente tiveram início por volta das 23 horas, isto é, depois de mais de duas horas do início do incêndio, que já ameaçava os prédios das Portas do Carmo, que davam para o lado do mar, podendo alastrar-se para a suntuosa Catedral.

Com o assessoramento seguro e com a dedicação, competência e zelo de profissionais distintos como os Drs. Arlindo Fragoso, Jayme David, Silva Lima, Olivetto Junior e outros, o serviço de extinção foi-se tornando uma realidade, ao ponto de ficar concluído às 2 horas e 30 minutos da madrugada de 3 de março.

Consoante informações de testemunhas, o incêndio manifestou-se por volta das 20 horas e 30 minutos, nos baixos do pavilhão da biblioteca, em uma sala destinada ao arquivo das teses, de onde escapava, por uma das janelas, pequena quantidade de fumaça.

A mocidade das três escolas superiores da cidade da Bahia, com espontaneidade, zelo e abnegação louvabilíssimos, prestou os mais relevantes serviços nos salvamentos de ricas alfaias, documentos raros e preciosas relíquias e, coadjuvada por praças do exército, caixeiros, funcionários municipais e populares, salvou os retratos dos provectos e venerados lentes da Faculdade, além de mobílias, pertences de gabinetes, coleções etc.

Do gabinete de farmacologia e arte de formular, de que era lente catedrático o Dr. Antonio Victorio de Araujo Falcão, intendente municipal, foi retirado desse gabinete quase em chamas, com o auxílio do preparador o Dr. Francisco da Luz Carrascosa e também do conservador o Sr. José Antonio de Almeida Araújo, uma porção de “nitro-glycerina”, forte e terrível explosivo, e “etheres” diversos.

Os gabinetes de anatomia e de higiene nada sofreram. Todavia, com alguns danos, foram salvos os gabinetes de histologia, de história natural, de farmácia, de física, de fisiologia, de odontologia e de terapêutica. Também poucos estragos tiveram a secretaria, o gabinete do diretor, o salão nobre, a sala Abbott e o anfiteatro. Parte da sala dos retratos foi incendiada. O fogo consumiu os gabinetes de anatomia patológica, de bacteriologia e de química, além do almoxarifado e a primorosa capela do padre Antonio Vieira.

Entre os importantes gabinetes destruídos pelo incêndio, destacara-se o de medicina legal, dirigido pelo Dr. Nina Rodrigues, o qual se achava ultimamente enriquecido com modernos aparelhos de psicologia experimental, que não chegaram a funcionar.

Os modelos cerato-plásticos foram todos salvos, além de muitas preparações do gabinete de história natural. O motor elétrico sofreu pequenas avarias.

Grande foi o pânico entre os moradores das Portas do Carmo, notadamente os residentes dos prédios 2, 4, 6, 1 e 3, retirando os seus móveis e dispondo-se para abandonarem os seus penates. Ecoavam gritos estridulantes e senhoras foram acometidas por acessos histéricos e choros convulsivos.

Por uma felicidade rara e graças à ausência do vento, o fogo não se propagou aos prédios 2, 4 e 6, às Portas do Carmo, cujos fundos ficavam na distancia de dois metros apenas do pavilhão incendiado.

Era enorme a multidão de curiosos que enchia todo o largo do Terreiro, em derredor do parque, o largo do Cruzeiro e embocaduras de outras ruas.

Foram muitas as queixas contra o procedimento, por várias vezes dolorosamente incorreto, com que a Força Pública se comportou no incêndio, que carecia de severa reprimenda por parte do secretário de Segurança Pública.

O súdito alemão Julius von Uslor salvou a valiosa galeria dos retratos dos lentes falecidos, sendo auxiliado pelo Dr. Francisco Drummond, secretário da intendência e por muitos estudantes.

Em poder do artista Eduardo Visconti, estabelecido à rua de São Pedro, estavam dois belíssimos lustres de cristal, pertencentes à luxuosa instalação que estava sendo montada no salão de honra da Faculdade e que deveriam ter sido instalados no dia 1º de março. Motivos supervenientes, à última hora, determinaram àquele artista a transferência da aplicação dos pomposos candelabros para 3 de março, que destarte escaparam ao pasto das chamas. A importância do dito adorno orçava por cerca de 2:000$.

Estiveram presentes, para as providências necessárias, diversas autoridades, dentre as quais o Sr. Dr.Antonio Victorio de Araujo Falcão, intendente municipal, Dr. Aurelino Leal, chefe de polícia, Dr. Innocencio Cavalcante, diretor da Higiene Municipal, que foram auxiliadas pelo conselheiro Carneiro da Rocha, diretor da Faculdade de Direito, Drs. Braz do Amaral, Aurélio Vianna, Frederico Koch, Julio Calasans e outras personalidades, destacando-se, pelo denodo e zelo, o acadêmico Ernesto Simões Filho, o qual, 46 anos depois, na manhã de 31 de outubro de 1951, na qualidade de ministro da Educação, diligenciava, desolado, a imediata reconstrução do pavilhão da frente do edifício da Faculdade de Medicina, consumido por um incêndio iniciado na noite anterior.

Na sexta-feira, 3 de março, à tarde, o governador do estado da Bahia, Dr. José Marcellino de Souza, foi ao edifício da Escola, percorrendo-o todo, quer na parte arruinada, quer na que ficou intacta.

O Dr. Alfredo Britto, diretor da Faculdade de Medicina, achava-se veraneando em companhia de sua excelentíssima família, em S. Tomé de Paripe, razão pela qual não compareceu ao teatro do sinistro, pelo fato de desconhecer os lutuosos acontecimentos, sendo informado sobre a infausta e dolorossíma notícia da grande tragédia somente às 7 horas e 30 minutos da manhã da sexta-feira, dia 3, quando chegou ao local às 11 horas da manhã, desenvolvendo, sem tardança, a máxima atividade e energia, mostrando-se na altura da horrível situação que a todos assoberbou, compreendendo, com a sua conhecida lucidez de espírito, que o momento não era para lastimar de braços cruzados a desgraça que a todos acabrunhou, mas para agir com prontidão no sentido de restaurar-se, quanto antes, o grande templo da .ciência.

A Faculdade de Medicina estava segurada nas companhias “Alliança” e “Interesse Publico” em 750 contos de reis

Grande parte do seu arquivo, felizmente salvo, foi guardada no edifício da Guarda Nacional, à “rua do Collegio”.

O doutorando Demosthenes Drummond de Magalhães penetrou na sala do “pantheon” e salvou o estandarte da vetusta instituição de ensino médico.

Todo o largo do Terreiro e rua das Portas do Carmo ficaram repletas de móveis, louças, aparelhos etc.

Na casa nº 9 da rua das Portas do Carmo, na Farmácia Humanitária e em frente à Farmácia Jutuca foram depositados também vários objetos retirados do edifício incendiado, pelo que foram enviadas sentinelas para aqueles pontos.

Receberam ferimentos o quintanista João Baptista Gomes da Luz, medicado na “Pharmacia Humanitaria” e o cirurgião dentista Augusto Carigé, com uma contusão no pé esquerdo, devido à queda de um armário, além de diversas pessoas.

Outros feridos: José Maria, ferido em uma das pernas; Domingos Dias Brandão, Elpídio da Silva, Domingos Beltrão, empregados no comércio, foram feridos nas mãos; Suplício Câmara, ferido na mão esquerda e conduzido para a casa de residência do Dr. Eduardo Carigé, onde foi medicado e João Teixeira dos Santos Filho, ferido levemente no lábio e na região frontal e medicado na Farmácia Humanitária. além dessas, outras 6 pessoas foram feridas sem gravidade.

Da importante biblioteca da Escola não escapou um só volume, sendo incineradas 14 mil obras, em 22 mil volumes, todos preciosos e raros.

O Dr. Alfredo Britto determinou que o Dr. Pedro Rodrigues Guimarães, bibliotecário, Raul Januário Cardoso, sub-bibliotecário, e José Antonio de Britto, amanuense, se encarregassem de montar o importante arquivo da Faculdade de Medicina, enquanto se não reorganizasse a biblioteca daquele estabelecimento.

O apoio material das classes cultas da Bahia para tornar palpitante realidade a idéia de constituir-se uma nova biblioteca para a Faculdade de Medicina, corporificou-se em entusiástica e nobre campanha. Destarte, ofertas de subido valor, quer de obras raras quer de teses ou de revistas e jornais científicos foram doados à Faculdade.

Oferecimentos de livros, folhetos de teses, revistas e jornais científicos foram feitas de imediato, registrando-se como os primeiros doadores, os Drs. Pacheco Mendes e Menandro Meirelles dos Reis Filho, viúva Koch e outros. O sobredito Dr. Pacheco Mendes, catedrático da Faculdade de Medicina, ofertou 97 obras em 127 volumes, e mais 115 folhetos diversos, 70 teses e 335 revistas e jornais; o Dr. Menandro Filho, também lente ilustrado da Escola, doou 14 obras em 21 volumes; a viúva Koch & Filho, 13 obras em 19 volumes; o Sr. Luiz Lopes Ribeiro, 2 obras em 2 volumes; o professor Ignácio de Góes, 7 folhetos de teses.

O ilustrado e distinto Dr. Thomaz Rodrigues da Cruz, de Maruin, na província de Sergipe, amigo dileto e colega de turma do bisavô materno do Autor, Dr. Pedro Ribeiro de Almeida Santos, graduados em 16 de dezembro de 1871, no salão de honra da Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus, doou 5 obras em 8 volumes, 83 teses encadernadas em 6 volumes, 73 teses em brochura, 3 volumes encadernados de revistas médicas e 117 folhetos diversos.

´Na segunda semana de março, após a catástrofe, foram ainda oferecidas à nova biblioteca da Faculdade: 1 obra em 2 volumes, pelo Dr. Edgard Frederico Tourinho; em segunda remessa, 81 obras completas em 103 volumes e 14 incompletas em 20, pelo Dr. Bonifácio Costa; 12 teses pelo sr. Olavo Marques; o “Banco de Camaçary” ofertou 46 teses, 146 folhetos diversos e 41 revistas; a imprensa Econômica, 136 teses; Dr. Rodolpho Theophilo, 1 folheto.

Até o dia 15 do mês de março, o total de obras doadas para a nova biblioteca da Faculdade de Medicina da Bahia perfazia o total de 230 obras em 307 volumes, 433 teses e 981 folhetos diversos.

A capela dos Jesuítas, dedicada a São Estanislau Kostka, verdadeira preciosidade histórica e totalmente incinerada, foi construída com o Colégio, provavelmente a partir de 1551.

A sobredita capela estava encravada no complexo de pavilhões da Faculdade e que, a partir de setembro ou outubro de 1800, serviu ao Hospital Real Militar da Bahia, criado em 4 de outubro de 1799 por decisão do governador e capitão-general da Bahia, D. Fernando José de Portugal, e instalado no Colégio que fora dos extintos Jesuítas.

O jornalista da gazeta “L’Italia”, Annibale Victorio, tirou diversos retratos dos escombros da Faculdade. O dito jornalista era editor e proprietário da referida folha, órgão da colônia italiana, inaugurado no dia 10 de novembro de 1904, com assinatura especial até 30 de junho de 1905 de 6$000 réis, que aparecia duas vezes por semana, com escritório localizado na rua das Princesas, nº 12, 2º andar.

A força federal, que ficou toda sob o comando do alferes Henrique de Carvalho Santos, foi, às 6 horas e 30 minutos da manhã do dia 3 de março, recolhida a quartéis, ficando apenas na praça 15 de Novembro um pequeno piquete de 50 praças comandado pelo dito alferes Carvalho.

Ao diretor Dr. Alfredo Britto foram oferecidos, para funcionamento provisório das aulas e dos exames, o Instituto Histórico da Bahia, o “Gymnasio”, o “Lyceu de artes-officios”, o Instituto Normal e palácio do Governo, à praça do Conselho. Todavia, o diretor da Faculdade não se utilizou desses oferecimentos.

No dia 4 de março, os peritos Drs. Silva Lima e Theodoro Sampaio procederam ao exame de corpo delito do edifício da Faculdade, estando presentes ao ato o Dr. Madureira de Pinho, comissário de polícia, auxiliado pelo infatigável e ínclito Dr. Alfredo Britto, que cedeu a sala Abbott ao Dr. Cassiano Lopes, para conduzir o inquérito policial, havendo suspeita de se tratar de incêndio delitivo.

Na primeira semana após o sinistro, a diretoria da Faculdade convidou os proprietários dos prédios de números 2 a 16 das Portas do Carmo para conferência sobre a cessão das mesmas à Faculdade. Compareceram os Srs. Gonçalo Luiz de Souza, proprietário do prédio de número 8 e Francisco José Leite Borges, do de número 4, manifestando-se as melhores disposições em ajudar a Faculdade para o trabalho de reconstrução, entrando em acordo nas mais razoáveis condições e com o maior cavalheirismo.

No dia 5 de abril, a companhia Interesse Publico pagou a quantia de 196:023$000, valor do prejuízo causado pelo incêndio na “Academia”.

Em 31 de janeiro de 1909, graças aos esforços dos Drs. Alfredo Britto, Theodoro Sampaio,(2), José Joaquim Seabra, ministro do Interior (3) e Augusto Cezar Vianna, foi reinaugurado o magnificente edifício da Faculdade de Medicina da Bahia, injuriado pelo fogo. Hoje, contemplamos, consternados, as ruínas do outrora esplendoroso sacrário da medicina brasileira, aniquilado pela desídia dos iconoclastas, sobre os quais pesa o anátema eterno.

Qual a lendária fênix dos fabulistas, ave que vivia muitos séculos e depois de incinerada renascia das próprias cinzas, do mesmo modo ressuscitou a Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus. E viverá até a consumação dos séculos, eternamente,e terá fama imorredoura.

O EDIFÍCIO DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA ANTES DO INCÊNDIO EM 1905

O imponente palacete da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus possuía cômodos amplos, profusa e regularmente iluminados, de aeração fácil e abundante, situados consoante as necessidades didáticas de cada disciplina. Nela estavam salas vastas e amplos teatros que permitiam numerosa audiência às lições orais e em espaçosos compartimentos funcionavam os laboratórios, de modo a poderem trabalhar desafogadamente turmas não pequenas nos dias dos respectivos exercícios.

Para tão eficaz adaptação, teve a diretoria que modificar divisões antigas, remover laboratórios, deslocar posições anteriormente fixadas proporcionado mais compensações práticas. Obedeceu a tais vantagens a transferência da biblioteca para vasto cômodo, então ocupada pelo museu, de ótima situação e livre comunicação com o exterior por uma passagem lateral para a rua das Portas do Carmo, o que permitia a acesso franco e independente às pessoas estranhas à vida acadêmica.

Em 1902, foi solenemente inaugurado o “pantheon” acadêmico, segundo dispunha o código de ensino vigente, com o retrato do Dr. Prado Valladares, no dia da colação do grau, por ser aluno distinto em todas as matérias do curso e primeiro laureado pela Faculdade, o que lhe dava o direito ao premio de viagem à Europa.

Os pátios inferiores foram ajardinados, tendo sido colocados em um deles o biotério, convenientemente dividido de modo a servir à permanência das diferentes espécies animais, indispensáveis ao trabalho experimental. O dito biotério, comum aos diferentes laboratórios, segundo o plano apresentado pelo Dr. Manoel de Araujo, distinto lente de fisiologia,

A 3 de outubro de 1903 foi inaugurado o serviço de eletricidade, dias antes instalado, e, como resultado imediato e profícuo, teve-se iluminação abundante interna e externamente, em poderosos focos de arcos e lâmpadas numerossímas; ventilação artificial tornando assim o ambiente ameno pela constante renovação de ar e equilíbrio de temperatura no interior do edifício.

Era digna de atenção a decoração do vastíssimo salão dos “actos solenes”, da sala dos lentes, da sala das congregações e do gabinete do diretor.

No ensino de história natural, carece lembrar o subsidio que os jardins dos pátios interiores forneciam ao estudo da botânica; avultadas coleções de peças naturais artificialmente conservadoras, possuía o laboratório ao lado do gabinete de história natural, sendo as referidas peças conservadas pelos trabalhos de macroscopia; as cadeiras de anatomia e de operações, através dos benefícios das injeções conservadoras, “larga manu” praticadas, facilitavam a prática de dissecção e exercícios operatórios. Dispunha o ensino de bacteriologia, não falando do sensível aumento do material técnico, de canalização de gás de grande calibre para o funcionamento dos fornos e estufas e de um biotério para estudo, no “anima vili”, além de uma câmara escura para trabalhos “microplatographicos”, prestando-se a sala das preleções a transformar-se de momentos em câmara de projeções.Da mesma maneira, dispunha a cadeira de medicina legal de câmara escura para fotografia e de um serviço de projeções bem organizado
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Sensível melhoramento recebeu o laboratório de odontologia, com a aquisição de todo o material elétrico necessário ao ensino de prótese dentária e de clinica odontológica.
Os demais laboratórios estavam modernamente aparelhados do indispensável.

A biblioteca contava com obras que orçavam por 14.000 volumes aproximadamente, e recebia grande número de trabalhos recentes.


O ENSINO DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA NO HOSPITAL SANTA ISABEL, DA CASA DA SANTA MISERICÓRDIA, EM 1905

Com referência ao ensino clínico da Faculdade de Medicina da Bahia no Hospital Santa Isabel, da Casa da Santa Misericórdia, avultava-se a desvantagem que decorria da insuficiência do serviço nosocomial: carência numérica de doentes e parcimoniosa variedade de casos clínicos. O serviço de cirurgia dispunha, entretanto, de 40 leitos para a 1ª cadeira e de 20 para a 2ª na enfermaria de homens e de 10 para cada uma das mulheres. Estava bastante adiantada a construção do pavilhão destinado às operações e tratamento dos pós-operados ao rigor hodierno dos cuidados assépticos.

As clínicas propedêutica e médica possuíam gabinetes anexos, sendo que o pertencente à primeira era completo. A estas, bem como às demais clínicas, prestava inestimável subsidio.

O serviço clínico de eletricidade-eletro-diagnose e eletroterapia era caprichosamente montado. Os trabalhos de fotografia médica eram praticados em atelier próprio; o dínamo era de 110 volts e 40 ampères; funcionavam ativamente os aparelhos ao trabalho da radioscopia e da radiografia, da franklinisação e da cinematografia.

Eram diárias as aplicações galvano-farádicas, servindo um dos quadros da distribuição para a transformação das correntes contínuas em alternativas, para as diferentes espécies de cautérios para a iluminação endoscópica e voltaïação sinusoidal.

“ACTA DA SESSÃO DA CONGREGAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM 22 DE MARÇO DE 1905”

“Aos vinte e dois dia do mez de Março, á 1 hora da tarde, sob a presidencia do Sr. Director, o Dr. Alfredo Britto, reuniu-se a Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, faltando os Srs. Drs. Francisco Bráulio Pereira, por estar licenciado; Fortunato Augusto da Silva Junior, dispensado por estar em commissão como fiscal dos exames parcellados de preparatorios; Alexandre E. (Evangelista) de Castro Cerqueira e Frederico de Castro Rebello. Lida a acta da sessão anterior, foi ella approvada.

O Sr. Director referiu-se ao incendio havido no edifício da Faculdade em a noite de 2 do corrente mez de Março, identificou-se com os seus collegas por tão lutuoso acontecimento e mencionou as providencias tomadas a respeito, accentuando principalmente o acto benemerito do Governo abrindo um credito extraordinario de 600 contos para a reconstrucção immediata do estabelecimento, cuja historia necessariamente haveria de ficar d’ora avante dividida em duas grandes phases, anterior e posterior ao incendio, pelo que julgava interpretar os sentimentos de reconhecimento e gratidão por parte da Congregação apresentando a seguinte proposta: “Proponho que, em homenagem de reconhecimento ao benemerito Governo da União, abrindo o credito de seiscentos contos de réis para a reconstrucção immediata da Faculdade de Medicina da Bahia, em grande parte destruída pelo incendio em a noite de 2 do corrente, a Congregação resolve que sejam collocados neste estabelecimento os bustos dos Exellentissimos Senhores Presidente da Republica e Ministro do Interior, Drs. Francisco de Paula Rodrigues Alves e José Joaquim Seabra. Sala das sessões da Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia em 22 de Março de 1905. O Director, Dr. Alfredo Britto.”

Usando da palavra o lente Dr. Braz do Amaral apresentou a seguinte moção: “Ao Excellentissimo Senhor Presidente da Republica. A Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, reunindo-se pela primeira vez, após o incendio que destruiu diversos dos seus laboratorios, bibliotheca e antiga capella , e damnificou grandemente o salão nobre assim como a sala das congregações, cumpre o dever de agradecer ao primeiro magistrado da Nação Brazileira, não só as expressões de pezar que se dignou enviar-lhe pelo desastre, como tambem o patriotico e illustrado interesse que tem tomado pela reconstrucção prompta do que se perdeu e espera que empenhado S. Ex.ª n’este nobre objectivo não terminará o seu periodo presidencial sem deixar definitivamente reconstruida e prompta para funccionar em todas as suas partes esta Faculdade, honra da Patria , o maior e mais fecundo repositorio e fóco das sciencias positivas no Norte do Paiz; satisfazendo assim as necessidades e as justas aspirações da instrucção do povo brasileiro. Sala das sessões da Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia em 22 de Março de 1905. – Dr. Braz Amaral – Dr. Freire de Carvalho Filho – Dr. Carlos Freitas – Dr. Guilherme Rebello – Dr. José Olympio d’Azevedo. Dr. Climerio Cardoso d’Oliveira – Dr. Nina Rodrigues – Dr. João A. G. Froes – Dr. Manoel Araujo – Dr. José Carneiro de Campos – Dr. Alfredo Britto”

Pedindo a palavra o lente Dr. Anisio de Carvalho, justificou a seguinte moção: “Ao Excellentissimo Senhor Ministro do Interior. A Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, reunida pela primeira vez após o incendio que destruiu diversos dos seus laboratorios, a sua preciosa bibliotheca, antiga capella historica e grande parte do edificio, vem manifestar seu agradecimento pela attitude energica e altamente patriotica, pela orientação do espirito de V. Ex.ª que abraçando resolutamente o pensamento de reforma prompta e radical da nossa casa e tradicional instituição de modo a tornal-a em pouco tempo capaz de rivalizar com as suas congeneres do estrangeiro, vai prestar a Bahia, á instrucção e á sciencia pátria o mais assignalado serviço, que jamais homem de Estado, depois da Republica, prestou a esta Faculdade. Sala das sessões em 22 de Março de 1905 – Dr. Anisio Circundes de Carvalho – Dr. Climerio de Oliveira – Dr. J. Eduardo Freire de Carvalho Filho – Dr. Guilherme Rebello – Dr. Alfredo Britto.”

O lente Dr. Guilherme Rebello pedindo a palavra, ao começar, retirou-se da Congregação sem dizer palavra o lente Dr. Luiz Anselmo da Fonseca e continuando, o orador justificou a seguinte proposta: “ A Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, deixa aqui consignado o seu applauso e o seu apoio á patriotica resolução e firmeza e aos nobres esforços do Sr. Dr. Director, no sentido da reconstrucção e reorganisação prompta dos laboratorios e mais dependências da Faculdade, destruidos ou damnificados recentemente, e fia dos precedentes honrosos de S. Ex.ª na administração d’esta casa a continuação desses esforços e a continuidade, em boa hora resolvida, dos trabalhos ordinarios da Faculdade até que chegue a termo a obra patriotica impulsionada pelo espirito culto e progressista do benemerito administrador.- Dr. Guilherme Rebello – Dr. B. Amaral – Dr. Climerio Cardoso de Oliveira – Dr. Freire de Carvalho Filho – Dr. Carneiro de Campos – Dr. Augusto C. Vianna.”

Pelo lente Dr. Climerio de Oliveira foram apresentadas as seguintes propostas: “A Congregação reunida em sessão manifesta seu agradecimento ás autoridades, imprensa, instituições e pessôas que se dignaram exprimir sentimentos de pezar pelo lamentavel acontecimento que occorreu n’esta Faculdade. S.S. em 22 de Março de 1905. Dr. Climerio de Oliveira – Dr. B. Amaral – Dr. Alfredo Britto.” “A Congregação desta Faculdade manifesta seu reconhecimento aos Collegios que pressurosamente acudiram ao seu edificio, aos auxiliares de ensino, aos corpos discente e administrativo e todos quanto, pela somma de seus esforços, salvaram-no de ser inteiramente devorado pelo incendio. S.S. em 22 de Março de 1905. Dr. Climerio de Oliveira- Dr. Guilherme Rebello – Dr. J. Ed. Freire de Carv.º F.º - Dr. A. Circundes – Dr. Alfredo Britto.”

Pedindo a palavra o lente Dr. Tillemont Fontes apresentou a seguinte declaração: “Venho em meu nome individual louvar o illustre e provecto professor Dr. José Olympio, em cuja directoria foram abertas as apólices do seguro do edificio e laboratorios desta Faculdade. Bahia 22 de Março de 1905. Dr. J.º Tillemont Fontes.”

O senhor Dr. Director declarou que acceitando a indicação do Dr. Tillemont Fontes pedia para convertel-a em proposta, abrangendo o reconhecimento da Congregação não só o lente Dr. José Olympio que quando Director realisou o seguro da Faculdade como o seu antecessor o lente Dr. Pacífico Pereira que o havia proposto e conseguido a necessaria verba no orçamento, pelo que submetteu-a a consideração da Congregação: “Proponho que a Congregação deixe exarada na acta da sessão de hoje a expressão do seu reconhecimento aos meus dois illustres antecessores na Directoria os Srs. Drs. Antonio Pacifico Pereira e José Olympio d’Azevedo, por haverem contribuido para que fosse menor o desastre que presentemente lamentamos, collaborando para ser feito o seguro da Faculdade. Bahia. 22 de Março de 1905 – Dr. Alfredo Britto.”

Submettidas á discussão as moções e propostas, não havendo quem quizesse a palavra foi anunciada a votação. N’esta occasião retirou-se sem justificar o motivo o lente dr. João Tillemont Fontes. Procedendo-se a votação de cada uma das moções e propostas foram ellas successivamente approvadas pela unanimidade dos votos dos lentes presentes á Congregação, não tendo tomado parte na votação os lentes Drs. Anselmo da Fonseca e Tillemont Fontes que se retiraram anteriormente.

Por occasião de ser votada a moção do lente Dr. Guilherme, relativo ao Sr. Director, retirou-se este da sala, occupando a presidencia o lente mais antigo, Dr. Pacifico Pereira, e na occasião de ser votada a proposta do Sr. Dr. Director em relação aos ex-Directores Drs. Pacifico Pereira e Olympio d’Azevedo, também se retiraram estes da sala.

O Sr. Director ponderou á Congregação que agora que iam ser approvados os programmas julgava de seu dever pedir a attenção da Congregação para o facto de terem sido totalmente extinctos pelo incendio os laboratórios de physica, chimica e bem assim duas salas de aulas que existiam nos compartimentos destruídos; parecia-lhe que o ensino pratico de chimica podia ser dado no laboratorio de pharmacia, mas para o de physica havia falta absoluta de apparelhos.

A Congregação resolveu approvar os programmas não sendo feitos este anno os cursos complementares de physica e pharmacia.

Cientificou o Sr. Dr. Director á Congregação que em vista da deficiencia de salas para aulas, occasionadas pelo incendio de uma parte do edificio da Faculdade precisava que o horario fosse modificado = no curso medico: a aula de histologia, de 3-30 ás 4-30; a de pharmacologia de 2-30 ás 3-30; anatomia e physiologia pathologicas, curso pratico, de 2-15 ás 3-15; clinicas cirurgicas - 2ª cadeira, terças, quintas e sabbados, de 8 ás 9-30; pathologia cirurgica, segundas, quartas e sextas, de 3-45 ás 4-45;. clinica medica, 2ª cadeira, quartas e sabbados, de 9 ás 9-30; clinica cirurgica, 1ª cadeira, quartas e sabbados; 9 ás 10, curso de odontologia e prothese dentaria, 8-30 ás 9-30; clinica odontologica , 9-45 ás 10-45; anatomia descriptiva da cabeça, 1.º mez, 1-45 ás 2-45; histologia da bocca, 2.º mez, 2 ás 3; physiologia dentaria, terças, quintas e sabbados, 2 ás 3.

Em seguida submetteu o Sr. Director á Congregação o plano de reconstrucção do edificio da Faculdade, organisado pela commissão nomeada em 4 de Março e a planta e orçamento preliminares feitas pelo Engenheiro Dr. Theodoro Sampaio, em virtude da requisição do Excellentissimo Sr. Ministro do Interior, o que foi tudo unanimemente approvado pela Congregação. E nada mais havendo a tractar, mandei lavrar esta acta que vai assignada pelo Sr. Director, lentes presentes comigo Secretario.”
Esta ata foi aprovada em sessão de 19 de junho de 1905. (Nota do Autor).

FONTES
IMPRESSAS E MANUSCRITAS
1. Diário de Notícias – 3 de março de 1905.
2. Ibidem – 4 de março de 1905.
3. Ibidem – 6 de março de 1905.
4. Ibidem – 14 de março de 1905.
5. Ibidem, 15 de março de 1905.
6. Ibidem, 16 de março de 1905.
7. Ibidem, 06 de abril de 1905.
8. Ibidem, 29 de agosto de 1905.
9. Ibidem, 26 de fevereiro de 1906.
10. Diario da Bahia – 1º de setembro de 1905.
11. A Bahia – 3 de março de 1905
- Atas das Sessões da Congregação – Faculdade de Medicina da Bahia – Memorial.- Arquivo –Biblioteca:
12. – Ata – 22 de março de 1905.
13. – Ibidem – 19 de julho de 1905.
14. – Ibidem – 7 de agosto de 1905.
15. – Ibidem – 25 de agosto de 1905.
16. – Ibidem – 11 de novembro de 1905.
17. – Ibidem – 16 de novembro de 1905.
18. – Ibidem – 22 de dezembro de 1905.
19. – Ibidem – 2 de março de 1906.
20. – Ibidem – 22 de março de 1906.
21. – Ibidem – 28 de abril de 1906.
22. – Ibidem – 7 de maio de 1906.
23. – Ibidem – 8 de maio de 1906.
24. – Ibidem – 20 de junho de 1906.
25. – Ibidem – 18 de julho de 1906.
26. – Ibidem – 25 de julho de 1906.
27. – Ibidem – 20 de setembro de 1906.
28. – Ibidem – 1º de outubro de 1906.
29. – Ibidem – 9 de outubro de 1906.
30. – Ibidem – 16 de novembro de 1906.
31. – Ibidem – 1º de março de 1907.
32. – Ibidem – 19 de abril de 1907.
33. – Ibidem – 22 de maio de 1907.
34. – Ibidem – 11 de junho de 1907.
35. – Ibidem – 22 de agosto de 1907.
36. – Ibidem – 1º de outubro de 1907.
37. – Ibidem – 11 de novembro de 1907.
38. – Arquivo Público do Estado da Bahia – Seção de Documentos Administrativos – Seção de Arquivo Republicano – Guia dos Documentos da Secretaria de Segurança Pública.
39. – Ibidem – Relação dos Autos – Crime.
(*) Cf. Britto, Antonio Carlos Nogueira - A Medicina Bahiana nas Brumas do Passado – ( Arquivos do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins ); Governo da Bahia – Secretaria da Cultura e Turismo; – egba – Empresa Gráfica da Bahia; – Contexto e Arte Editorial – Avenida Adhemar de Barros – 162 – Ondina - Salvador – Bahia – Ano: 2002 – pp. 311 – 316
NOTAS
(1)"O Carnaval de 1904, aqui na Bahia, foi uma perfeita representação do paganismo. Se já nos annos anteriores era diabolico, mas um tanto encoberto, agora n'este anno não deixou duvida nenhuma que os carnavalistas tentaram a ressurreição da religião de Roma do tempo dos Augustos.
N'elle foram levados em procissão os idolos de Plutão, rei dos infernos, e de Bacho e as imagens de Diana, de Venus e outras figuras do paganismo.
Iam também figurando, como faunos latinos, satyros e nymphas, rodeando esses idolos em soberbos carros, mancebos e moças vestidos vaidosa e luxuriosamente.
O Jornal de Noticias de 13 de Fevereiro, annunciando essas festas pagãs, sob a mascara do Carnaval, fazendo a apologia d'ellas, além de outras cousas, dizia descaradamente, por sua conta e risco: "......venham pois, esses tres dias de delirio, em que a carne se entrega a todos os excessos...... Vem, minha musa adorada carnavalesca, vem commigo e entreguemo-nos ao amolentado do maxime, tão nacional como o café e o fumo!..."
"É por de mais licencioso.
Oh! monstro da moderna civilisação, como és impio e audaz, além de immoral!...
Poderá um christão, que se prese de tal nome, por consciencia, concorrer, acompanhar, ou mesmo assistir, a uma tal affronta à sua religião? e ler e assignar jornaes de tal natureza?...
Enfim, chegaram a tanto a loucura e essa desenvultura, que as pessôas de bem, como interpretando os sentimentos de Deus, ultrajado, ameaçaram a cidade com merecidos castigos por tão audaz como atrevida impiedade".
Cf. "Diálogo Critico e Satyrico" de Joaquim Teixeira Lopes, Litho-Typo Oliveira Bottas & C. – 1904, pp 115-116, Bahia. (Acervo da Biblioteca Particular do Autor).

(2) O celebrado engenheiro Dr. Theodoro Sampaio, logo após o incêndio da Faculdade, traçou importantes planos para as grandes obras de construção dos novos edifícios da Escola, executando com maestria e inexcedível empenho os primorosos e hodiernos projetos tracejados pelo notável arquiteto radicado em São Paulo, Victor Dubrugas, nascido em Sarthe, na França, em 1868. Dubrugas graduou-se na Argentina e mudou-se para São Paulo em 1891, tendo lecionado na Escola Politécnica daquele Estado desde 1894 até 1927. Faleceu no Rio de Janeiro em 1933.

(3) Telegrama do ministro do Interior, J. J. Seabra, ao diretor Dr. Alfredo Britto, em 15 de março de 1905: “Acabo de ter a honra e a inexcedível satisfação de referendar o Decreto de crédito de seiscentos contos de réis aberto pelo benemérito presidente da República para a reconstrução imediata da gloriosa Faculdade de Medicina do nosso Estado. – Quando pedi ao Presidente o favor em nome do nosso Estado, a Congregação e a Mocidade, da abertura de crédito, respondeu-me assinar o Decreto com muito prazer por ser além do mais um ato de inteira justiça. – Se a Congregação já aprovou a planta e sendo o orçamento segundo o seu telegrama, pode começar as obras imediatamente. – Muito afetuosas saudações e cordiais parabéns à Congregação, á Mocidade e ao Povo do nosso grande Estado. - Seabra, Ministro do Interior.”
Cf. Diário de Notícias – Quinta-feira, 16 de março de 1905

LEGENDAS DA ESTAMPA E RETRATOS
Clique nas imagens para ampliá-las.
Estampa do largo do Terreiro de Jesus, executada por autor desconhecido, mostrando a lendária praça por volta do final do século XIX e início do século XX. Observa-se estudantes de medicina fazendo “berreiro infernal ao passarem os catholicos que se descobrem em frente da Catedral, com ligeira reverencia ao SS. Sacramento, voltando o rosto para Elle”, escutando os passantes “vozearia misturada com os assobios” . Considerava-se “insulto a Deus”, “essa algazarra infernal que soffrem os catholicos ao passar pelo largo do Terreiro de Jesus, que se vêm em grande numero sentados ao sol em tempo de inverno ás portas da Sancta Egreja Cathedral.”
Textos tirados da obra “Dialogo Critico e Satyrico”, de Joaquim Teixeira Lopes – Litho-Typo Oliveira Bottas & C. – 1904 – Bahia - p. 107; p. 110.
Do acervo da biblioteca particular do Autor.
A sobredita estampa serve de capa ao livro “A Medicina Baiana nas Brumas do Passado”, da lavra do autor destas pesquisas historiográficas inéditas.
Fonte: Acervo da coleção particular do Autor.
Fachada do edifício da Faculdade de Medicina da Bahia, ao Terreiro de Jesus. Fotografia tirada por autor desconhecido, no período compreendido entre 1893 e antes de 3 de março de 1905. Nota-se, a partir da esquina , à direita de quem mira o prédio da sabedoria , a entrada da rua das Portas do Carmo, atual rua Alfredo Britto, vendo-se, logo após o término da fachada lateral da Faculdade, uma entrada relativamente ampla, notando-se, adiante, os prédios e casas de residências, a começar do prédio de número 2. A dita casa, e as de números 4 e 6, estiveram ameaçadas pelas chamas, cujos fundos ficavam na distância de dois metros apenas do pavilhão incendiado.
Os proprietários dos prédios de números 2 a 16, à rua das Portas do Carmo, hoje rua Alfredo Britto, tiveram suas propriedades desapropriadas e demolidas para a construção dos edifícios da nova Faculdade de Medicina.
Retrato raro e inédito dos escombros de pavilhões da Faculdade de Medicina da Bahia, derruídos pelo lutuoso incêndio de 1905.
Retrato tirado por retratista não identificado.
Fonte: Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus – UFBA – Acervo do Arquivo e Biblioteca do Memorial da Medicina Brasileira.
Ibidem
Ibidem

Fotografia rara e inédita da antiga, preciosa e histórica capela particular dos padres Jesuítas, dedicada a São Estanislau Kostka, e que serviu ao Hospital Real Militar da Bahia, e que fazia parte do complexo de pavilhões da Faculdade de Medicina da Bahia. Foi totalmente incinerada pelo sinistro.
Retrato tirado por fotógrafo não identificado.
Fonte: Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus – UFBA – Acervo do Arquivo e Biblioteca do Memorial da Medicina Brasileira.
Conferir detalhes da descrição do interior da capela dos padres Jesuítas no artigo nº 17 – História da Medicina – Notícias da Faculdade de Medicina da Bahia – Ano: 1843 – Parte Final.

Fotografia do ínclito e benemérito Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. Alfredo Britto.
Retrato tirado por fotógrafo não identificado.
Fonte: Acervo da coleção particular do Autor.
Lápide de mármore comemorativa lavrando o histórico sucesso do início das obras dos novos edifícios da Faculdade e término das mesmas em 31 de janeiro de 1909.
Fotografia do livro Memorial da Medicina - UFBA- Patrocínio Cultural: Companhia de Seguros Aliança da Bahia – 1983 – Fotos: Artur Viana e Raimundo Bandeira.
Vista parcial da fachada do novo prédio da Faculdade de Medicina da Bahia, inaugurado em 1909, onde se contempla a portentosa e primorosa rotunda do Grande Anfiteatro Alfredo Britto, flanqueada no seu perímetro por imponentes estátuas de egrégios lentes da dita Escola, sacramentos da História da Medicina da Bahia.
Retrato tirado por retratista não identificado.
Fonte: Acervo da coleção particular do Autor.
Vista, mais de perto, da bela rotunda do Grande Anfiteatro Alfredo Britto. Observa-se parte dos novos pavilhões da Faculdade de Medicina da Bahia. À direita, aspecto parcial da fachada lateral da nova e suntuosa biblioteca da Faculdade.
Retrato tirado por retratista não identificado.
Fonte: Acervo da coleção particular do Autor
Vista interna do majestoso Anfiteatro Alfredo Britto.
O resplandecente e pomposo Anfiteatro, poema arquitetônico, que fazia os circunstantes se sentirem como se estivessem em Faculdades de Medicina de Montpellier e de Berlim, abrigava a sociedade médica “raffinée” da cidade da Bahia.
O Grande Anfiteatro, cujo telhado era coroado por amplo “lanternim”, circundado por graciosas colunatas gregas, sobre o qual emergia gracioso caduceu. Aqueles que entravam no Anfiteatro, quedavam-se, subitâneos, silenciosos, comovidos e empolgados, ante a suntuosidade do seu interior, que a todos dava um sentimento de paz estudiosa e de religiosidade. Grinaldas e festões, de artístico e inspirado lavor, de suprema elegância, circundavam e ornavam o recinto, osculando a magnificente abóbada. Dotado de cortinas, que se fechavam automaticamente, quadro-negro, que se revezava com tela de projeção cinematográfica, acústica perfeita, excepcional conforto térmico e fartíssima iluminação, natural e artificial. Os bancos, cor de ébano, reluzentes, de conceituada madeira de lei, era de santificada dureza. A grande galeria estava rodeada por lavoradas figuras de metal, belíssimas, assemelhadas a flor de lis, presas às grades de ferro que a circundavam. À esquerda de quem entrava, mostrava uma tela, tamanho natural, onde o notável pintor Lopes Rodrigues retratou o imortal Alfredo Britto, descendo uma escada, coroado por esvoaçante representação pictórica da glória.
A Faculdade de Medicina da Bahia, congregada em sessão de 24 de maio de 1909, onze dias após a morte do insigne e benemérito diretor, deferiu petição de diversos alunos, dando ao Grande Anfiteatro o nome de Anfiteatro Alfredo Britto. Fonte: Acervo da coleção particular do Autor.

Fotografia do salão de leitura da nova biblioteca da Faculdade de Medicina da Bahia. Observa-se, em primeiro plano, com bastos bigodes, o Dr.Pedro Rodrigues Guimarães, bibliotecário. Próximo à porta, semi-aberta, o senhor Raul Januário Cardoso, sub-bibliotecário.
Retrato tirado por retratista não identificado
Fonte: Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus – UFBA – Acervo do Arquivo e Biblioteca do Memorial da Medicina Brasileira.
Estantes da nova biblioteca da Faculdade de Medicina da Bahia.
Retratista: A . Costa Fonte: Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus – UFBA – Acervo do Arquivo e Biblioteca do Memorial da Medicina Brasileira.
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