HISTÓRIA DA MEDICINA artigo 57

O falecimento do Professor Doutor Raymundo Nina Rodrigues,
em Paris, a 17 de Julho de 1906
e a narrativa da chegada
do cadáver ao porto desta capital, no dia 10 de agosto do mesmo ano.
A exposição minudenciosa das exéquias do célebre cientista brasileiro.

Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto
Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Fundado em 29 de novembro de 1946
Parte I


Sábado, 28 de abril de 1906
– O livro de atas das sessões da egrégia Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, ao Terreiro de Jesus, lavrou a reunião do corpo docente da dita Faculdade realizada aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de mil novecentos e seis, a uma hora da tarde, sob a presidência do diretor Dr. Alfredo Britto.

“Foi lido o aviso do Governo, N.º 587, de 5 do corrente, nomeando o lente Dr. Raymundo Nina Rodrigues para representar o Brazil na qualidade de seu delegado no 4.º Congresso Internacional de Assistencia publica e privada que se reunirá em Milão, de 23 a 27 de Maio vindouro, sendo lhe marcado o prazo de quatro mezes, e computado esse tempo como serviço effectivo para a jubilação.”

O sobredito aviso da “Directoria do Interior, 1.ª Secção do Ministerio da Justiça e Negocios Interiores”, era assinado pelo ministro baiano Dr. J. J. Seabra e acrescentava: “Durante o prazo dessa commissão, que não excederá de 4 mezes contados da data da partida, o referido lente perceberá integralmente seus vencimentos em moeda do paiz e não será prejudicado no computo de serviço effectivo para a jubilação.”


Domingo, 5 de maio de 1906
- Embarcava, naquela data, para Milão, Itália, a bordo do luxuoso paquete francês Atlantique, o ilustrado e ilustre cientista e catedrático de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, Prof. Dr. Raymundo Nina Rodrigues, que irá representar o Brasil no importante Congresso de Assistência Pública e Privada, em Milão, que terá lugar na sobredita cidade. O Dr. Nina Rodrigues, colaborador da respeitável folha Jornal de Notícias, desta capital, viajou acompanhado de sua esposa, D. Maria Couto Nina Rodrigues e sua filha Alice.

A consorte do Dr. Nina Rodrigues era filha do conselheiro Jozé Luiz de Almeida Couto (1833-1895), lente da 2.ª cadeira de Clínica Médica e irmã da inditosa esposa do Dr. Alfredo Britto, D. Júlia de Almeida Couto Britto, falecida a bordo do paquete Thames, da “Royal Mail Steam Packet Company, a 8 de setembro de 1905, com destino a Paris, vitimada por complicações de sarampo, e sepultada em pleno oceano Atlântico, quando viajava, com destino a Paris, ao lado do esposo, o diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. Alfredo Britto, concunhado, portanto, do Dr. Nina Rodrigues.

Já antes de embarcar no Atlantique, o Dr. Nina Rodrigues, vinha apresentando sérias alterações no seu estado valetudinário e todos os seus colegas, amigos, admiradores, clientes e todo o corpo da redação da sobredita gazeta, oravam para que ele voltasse restabelecido do incômodo de sua saúde.

Eram seus companheiros de viagem, o negociante Francisco José Rodrigues, o famoso pintor Elyseo d’Angelo Visconti e o sr. Eduardo Stumpe, alemão, e responsável pelos fretes, passagens e outras informações a respeito do paquete francês.

Inexplicavelmente, no alentado e assaz poderoso livro de registro de saídas de passageiros da cidade da Bahia, no dia 5 de maio de 1906, do “Commissariado da Policia do Porto” não constava o assentamento dos nomes do Dr. Nina Rodrigues e sua família, omitindo-se, também, o nome do pintor Elyseo d’Angelo Visconti. No dito livro estava consignado o embarque, em Salvador, de apenas 16 passageiros no Atlantique.

O suntuoso vapor Atlantique, “o paquete postal francês”, pertencia à conceituada “Compagnie des Messageries Maritimes” (1900-1921) e o agente que a representava tinha escritório na rua Conselheiro Dantas, n. 1, 2.ª andar, Salvador, Bahia.

O navio francês tinha zarpado de Buenos Aires, com escalas em Montevidéu, Santos, Rio de Janeiro e Cidade do Salvador, seguindo, depois da demora necessária, para Pernambuco, Dakar, Lisboa e Bordeaux.

A entrada do Dr. Nina Rodrigues no “paquebot” Atlantique deu-se partindo de uma lancha da ponte da Navegação Bahiana.

No dia em que o vapor levantou âncora do porto da cidade do Salvador, a 5 de maio, a temperatura máxima era de 27,º 0; mínima, 25,º 0 e média, 26,º 25; umidade relativa, 73,6; vento: rumo – SE moderado. O dia estava nublado, com cirros-nimbos e chuviscos à tarde; a noite deveria estar nublada, com nimbos e chuviscos grossos.

O belo e confortável paquete era dotado de hélices duplas e duas chaminés e foi o primeiro navio da companhia a ser equipado de um posto de telégrafo sem fio Marconi, de alcance de 1,5 quilômetros. A viagem inaugural deu-se a 1.º de maio de 1900, partindo de Bordeaux para La Plata. A embarcação apresentava uma silhueta artística e tecnicamente donairosa e longo comprimento de linhas sensualmente feminis.

Cf. o encantador e nostálgico “site” htt://www.frenchlines.com/ship-fr-1032.pt ou “site” de busca e digite “Paquebot Atlantique”)


Terça-feira, 17 de julho de 1906
– Paris, Nouvel Hotel, 49, rue La Fayette, antiga rue Charles X, que data do segundo Império, entre os bairros Poissonnière e Saint-Denis, que atravessa a região Oeste para a Norte-Leste. – A desoras, em um quarto do dito hotel, estava por dias, derreado em um leito, um homem exânime, hipoêmico, apresentando elasticidade cutânea anormal e turgor deficiente dos tegumentos, exibindo, provavelmente, mucosas visíveis sub-ictéricas ou ictéricas, arquejante, batimentos arteriais acelerados, camarinhas de suor frio por todo o corpo, voz um tanto demudada, olhos encovados, mas que, ainda assim, pareciam transmitir impressionante fulgor do mais vivo intelecto e destreza mental e o tremeluzir da esperança. Poder-se-ia até supor que o seu cérebro, até então, podia cinzelar conceitos e frases preciosas e resplandecia com a cintilação da tocha que se intitulava gênio.

Ali estava, abatido, pré-agônico, um notável homem, tão consagrado às ciências e ao ensino, que teve a vida tão precocemente sacrificada às acrisoladas dedicações pelas ciências da Medicina Legal, as quais o conduziu aos mais qualificados cargos acadêmicos, vivendo abençoado e querido no lar e reverenciado pelas sociedades médicas e pelo povo da sua Pátria.

Eis que principiou, bem precoce, insidioso morbo que minou o seu organismo e começou a prenunciar funéreos sucessos. Naquele leito de um quarto de hotel parisiense estava morrendo o Professor Doutor Raymundo Nina Rodrigues, lente da cadeira de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, Brasil.

Missivista brasileiro, que preferiu manter-se anônimo, em correspondência desde a capital de França, de 18 de julho, endereçada a uma gazeta da cidade da Bahia, emitiu opinião que merecia ser divulgada: “Elle falleceu ás 5 ½ horas da manhã do dia 17, no Nouvel Hotel, rua Lafayette, n. 49, de molestias dos medicos; porque por uma ironia fatal, as molestias clinicas naqueles que luctam com as difficuldades dos diagnosticos precisos, de que depende uma boa therapeutica, apresentam symtomas tão obscuros, manifestações tão desconexas, que tornam o diagnostico embaraçado dando lugar a juizos e interpretações as mais variadas.

Os factos confirmam isto, e o nosso bom amigo foi uma das victimas dessa fatal molestia.

É assim que foi em Lisboa diagnosticado pelo dr. Bello de Moraes – cancro do figado e pelo dr. Mattos Chaves – coli-cystite calculosa; em Pariz, pelo dr. Claude – dilatação do coração e da aorta; pelo dr. Tessier – tuberculose do pericardio; pelo dr. Chauffard – abcesso aureolar do figado; pelo dr. Huchard – nephro-sclerose; pelo dr. Bemsaúde, que o acompanhou até os ultimos dias, tuberculose das serosas (pleura, pericardio, diaphragma, etc).

Por isto, repito: morreu de molestia dos medicos.”

Na noite da chegada em Lisboa, a 17 de Maio, e estando hospedado no Hotel de Inglaterra, teve o Dr. Nina Rodrigues uma “hemoptysis” leve. No dia 19, promoveu-se uma conferência de médicos lisbonenses. A hipótese de tuberculose foi afastada, “pelo facto dos pulmões ficarem transparentes sob a acção dos raios X; no entanto, esta transparencia não pode servir de elemento seguro para o diagnostico porque falha na pratica e são conhecidos casos de pessoas tuberculosas, confirmadas pela symtomatologia e pelo exame dos escarros, que apresentam a transparencia dos pulmões.

A 19 de junho, chegou o Dr. Nina Rodrigues a Paris, para saber o parecer de facultativos daquele país.

Tinha reservado passagem de volta para a Bahia pelo vapor, de 27 daquele mês, e sentindo-se melhor, compareceu, no dia 10, ao lúgubre edifício do Morgue*, na sua época funcionando na place Mazas e primitivamente estabelecido na antiga place du Châtelet, construído em 1864, (para alguns, em 1831).

Muito tempo antes da viagem do Dr. Nina Rodrigues a Paris, no ano de 1906, o Morgue, que já não estava, desde há muito, na place du Châtelet, era visto de Notre-Dame, situado à margem esquerda do Sena, na “Cité”, entre o quai aux Fleurs, fazendo esquina com o quai de L’Archeveché, próximo a ponte Saint-Louis e em frente a square de Archeveché, nas imediações da Église Notre-Dame.

O novo Morgue visitado por aquele cientista brasileiro já havia sido transferido da sobredita localidade para o Institut de Médicine Légale, instalado na 2, Place Mazas. no douzièmme arrondissement. A place Mazas fica situada nas proximidades da margem direita do Sena, e em frente ao Port Mazas e à Pont d’Austerlitz, e é cortada pela avenue Ledru Rollin em direção a Pont d’Austerlitz, sendo limitada à esquerda pela entrada do boulevard de la Bastille e à direita pela entrada do boulevard Diderot, e é ligada ao boulevard Bourdon pela ponte Morland.

Na visitação de estudos àquele estabelecimento tanatológico, o Dr. Nina Rodrigues observou a autopsias e fez avaliações minuciosas na demorada visita, obtendo informações técnicas e registando os precisos apontamentos, porquanto estava decidido a criar na Faculdade de Medicina da Bahia um serviço médico-legal completo e excelente, para ser o primeiro da América.

No dia 13 de julho, lá pelas 3 horas da manhã, foi acometido de uma intensa “hemoptysis”, que o deixou assaz enfraquecido e desanimado. “A amigos que o visitaram, disse então: “Isto é o começo do fim”. O Dr Bemsaúde, medico de grande reputação, português, residente na capital francesa, e onde clinicava, foi quem o assistiu na cabeceira, coadjuvado pelo jovem facultativo da Bahia, Dr. Eduardo de Moraes.

Foram interditadas as visitas para todas as pessoas; assim, mesmo um ou outro medico que se aproximava do leito, quedava-se silente. Preservou sempre a razão e clareza de imaginação, pedindo um sacerdote católico e ao depois disse para a esposa: “Sei que vou morrer; cuide de nossa filha, e vá para a Bahia no dia 27, em companhia do Dr. Eduardo de Moraes e família”. O quarto do hotel observava mudez augusta e expectante.

Manifestou vontade de avistar-se com seu dileto irmão, que deveria chegar no dia 16 de julho, à noite, o primeiro-tenente do exército Dr. Themistocles Nina Rodrigues.

Consoante os atestados médicos, o Dr. Raymundo Nina Rodrigues rendeu a alma ao Criador às 4 ½ horas do dia 17 de julho de 1906, no Nouvel Hotel, em Paris.

As famílias dos srs. Antonio Alves, do Hotel Sul Americano, José Joaquim Fernando Dias, Augusto Ribeiro, que residiam no Nouvel Hotel, e mais D. Clara Moraes e Dr. Joaquim Loureiro acompanharam sempre a esposa do Dr. Nina Rodrigues e filha, em todas as quadras deste funéreo sucesso, até as 10 horas da noite do dia 17, quando a viúva e filha se transferiram para a residência de D. Clara Moraes, na Avenue Marceau, 173, antiga avenue Joséphine, em direção à rotunda de l’Etoile, até o dia 27, quando deveriam embarcar para a Bahia”.

De acordo com minhas pesquisas, não foram encontrados registos que atestassem ter o Dr. Nina Rodrigues suplicado licença médica para tratamento de sua saúde nos anteriores anos de 1904 e 1905, não obstante seus coevos se aperceberem do declínio do seu estado valetudinário.

Segundo o desconhecido correspondente, médico, provavelmente e supostamente da Bahia, dando conta, desde Paris, dos últimos momentos do Dr. Nina Rodrigues, plêiade de facultativos europeus de nomeada suscitaram os mais diversos diagnósticos prováveis do morbo que molestava o cientista brasileiro. E o relato legou para os médicos do futuro uma centelha de histórico e fascinante interesse para conhecer a moléstia que levou o insigne lente ao túmulo. Todas as sobreditas ditas entidades mórbidas, de curso de longa duração, poderiam causar infaustas conseqüências. Todavia, a depender do tipo da doença, o agravamento da sintomatologia dos incômodos da saúde do Dr. Nina Rodrigues causaria acentuada e célere queda do estado geral do enfermo, obrigando-o a afastar-se, pelo período necessário, das suas atividades. Obviamente, a enfermidade tornar-se-ia óbice para permiti-lo representar o Brasil, em Milão, em longa e extenuante viagem transoceânica, alem da permanência prolongada de quatro meses na Europa.

Teria o Dr. Nina Rodrigues hepatite crônica, tóxica, com cirrose e icterícia, comum àqueles que manuseiam drogas nos gabinetes de laboratórios das cátedras e que, às vezes, complica com hemorragia digestiva alta? seria lícito levantar hipóteses de doenças degenerativas graves, tais como o colangiosarcoma, neoplasia de papila, do colédoco, da vesícula, além de hepatoma e câncer gástrico, representado pelo mais freqüente, o adenocarcinoma, o qual apresenta menor estatística de hemorragia digestiva alta? Todas as ditas entidades mórbidas manifestar-se-iam com sintomatologia exuberante, gritante, grave e rápida; poder-se-ia pensar em hemorragia digestiva alta por rotura de varizes esofágicas? e o cortejo de sinais e sintomas em casos que tais, mormente a ascite e a hepatoesplenomegalia? e a hematêmese por úlcera gástrica ou duodenal?

Não está lavrada em fontes primárias e secundárias qualquer referência às moléstias sobreditas, que estariam solapando a saúde do Dr. Nina Rodrigues. Como já foi dito acima, aquele lente não se afastou das suas funções nos dois últimos anos que antecederam a sua morte em Paris, muito embora fosse notório o débil estado de higidez do professor.

Creio que, mesmo sendo especialista em “moléstias do peito”, estômago e coração, o ilustre doente não conseguiu firmar um auto-diagnóstico e sucumbiu pela hemoptise provocada pela tuberculose pulmonar. Acredito que o Dr. Bemsaúde foi preciso no diagnóstico.

O embalsamamento, por meio de uma injeção conservadora do cadáver, foi coadjuvado pelo prático dos anfiteatros de anatomia da Faculdade de Medicina de Paris, às 5 ½ horas da tarde do dia 17, estando presentes o comissário de polícia, os Drs. Bemsaúde, Eduardo de Moraes, Anísio de Carvalho, Joaquim Loureiro e João Cerqueira.

O procedimento de conservação do corpo foi feito pelo Dr. R. Bemsaúde, auxiliado pelo dito e experiente técnico, sendo o líquido empregado uma mistura de cloreto de zinco, glicerina e creosoto.

A conservação do cadáver do Dr. Raymundo Nina Rodrigues foi realizada observando a seguinte técnica, conforme descreveu o desconhecido missivista em comunicado a importante folha editada nesta capital, e que preferiu conservar-se no anonimato, mas que, ao revelar o seu conhecimento técnico sobre os diversos ramos da ciência médica, determinou a sua identidade de médico.

“Descoberta a arteria femural direita no triangulo de Scarpa, foram passados por baixo dois fios, um mais acima, outro mais abaixo. Entre estes foi feita uma abertura no vaso e collocado o bico de uma seringa de grosso calibre, a seringa do professor Farabeuf, sendo amarradas as paredes da arteria ao bico pelo fio superior, afim de não escapulir no acto da injecção.

Depois foram injetados seis litros de uma solução concentrada de chloreto de zinco, um litro de glycerina e 50 grammas de creosoto.

Terminado isto, foi o vaso ligado acima e abaixo da incisão, e praticada a sotura dos tegumentos.

Nas narinas, boca e anus depois de limpos com algodão hidrophilo foi collocado um tampão de algodão molhado na mesma solução, seguida de outros muitos, afim de bem obturar aquelles canaes.

Sobre a pelle do corpo, passou-se um algodão ensopado na referida solução.

Foi esse o processo empregado, e é o que se emprega aqui nos anphitheatros de anatomia, de preferencia á solução de formol, por ser mais consistente, dizendo tanto os medicos, como o pratico, que elle conserva indefinidamente o cadaver, salvo os pontos que estiveram em decomposição antes da injecção.

No cadaver do dr. Nina Rodrigues a decomposição deu-se em poucas horas: já desde 2 horas da tarde do dia seguinte ao da morte se manifestara; e devido á rotura dos vasos pulmonares, parte do liquido sahiu pelo nariz, antes deste ser obturado.”

A noite já era quase manhã, quando tiveram início às azáfamas para transportar o cadáver para o Brasil, depois de posto em um duplo caixão de zinco e de madeira, adornado de prata. O corpo do ilustre extinto foi transportado no dia 18, às 7 ½ horas da manhã, em coche mortório, seguido de outros, para a igreja de Nossa Senhora de Lorette e instalado em uma essa em frente ao altar de S. José, onde, às 9 horas, foi celebrado ofício de corpo presente, seguido de encomendação, à qual assistiram a viúva, algumas famílias brasileiras, os Drs. Anísio de Carvalho, Sebastião Cardoso e João Cerqueira, da Faculdade de Medicina da Bahia, e mais o Dr. Franco da Rocha, de S. Paulo, Dr. Menezes Pinto, do Rio Grande do Sul, Drs. Eduardo de Moraes e Antonio Ramos, da Bahia; Dr. Aloysio de Castro, do Rio de Janeiro; Dr. Antonio Ribeiro de Gonçalves, do Piauí; Dr. Octavio Freitas e Dr. Joaquim Loureiro, de Pernambuco.

Estiveram também presentes os Drs. Guerreiro de Castro e Cardoso e os srs. Antonio Alves e filho, José Joaquim Fernandes Dias, Augusto Ribeiro e muitos outros compatriotas.

Grande número de coroas e grinaldas foram arrumadas cuidadosamente sobre o esquife.

Depois de terminados os rituais litúrgicos de finado, e a parte do ofício dos mortos, com o réquiem (repouso), foi o caixão levado para um tablado de ferro e colocado na entrada da igreja, logo após o acesso lateral à direita de quem entra. Naquele local, o adeus dos amigos e os últimos sinais de despedida da viúva, debulhada em prantos, plenos de paixão, afeto e extremada saudade, a todos comoveram.

Após ser selado pelo comissário de polícia, que se achava presente à solenidade, foi o ataúde abaixado lentamente, por intermédio de um maquinismo, para uma cava, onde deveria permanecer até o dia de ser conduzido para a Bahia, cerrando-se sobre ele as portas de ferro, a rés do chão do templo. Naquele dito local, a família do Dr. Nina Rodrigues continuou, por tempo considerável, rodeada de muitos amigos e compatriotas, que a seguiam nessa quadra dorida. Algumas pessoas, pesarosas, de sobrolhos carregados, falavam com voz apagada e dormitante.

No Nouvel Hotel esteve o cônsul brasileiro, para apresentar condolências à viúva, logo que tomou conhecimento do falecimento do Dr Nina Rodrigues.

 
Nota

*JUSTIFICAÇÃO DO USO DO VOCÁBULO “MORGUE” FLEXIONADO COMO GÊNERO MASCULINO.
O autor fundamentou-se em consulta, desde há muito, in Caldas Aulete. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. / Edição Brasileira. / Editora Delta S. A. /Rio de Janeiro, 1958.

Cf. “Morgue, s.m. o mesmo que necrotério (forma já muito seguida, e que dispensa este galicismo escusado). || F. pal. francesa.”.

Todavia, os autores brasileiros e portugueses, em sua maioria, costumam grafar a palavra “morgue” como substantivo feminino.

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