Murilo Flores* e Rodrigo Rangel*
ADMISSÃO: 08 de outubro de 2003
IDENTIFICAÇÃO: R. R. S. H., 36 anos, feminino, negra, auxiliar
administrativa, procedente de Salvador.
Q.P.: Vômitos e febre vespertina há mais ou menos 10 dias.
H.M.A: Há 11 meses, a paciente começou a cursar com tosse
produtiva, náuseas e febre vespertina. Há 2 meses, o quadro
se intensificou, com náuseas constantes, vômitos e febre
diária (38-40ºC). Há 1 mês, refere aumento de
gânglios cervicais à esquerda com calor local, tendo sido
encaminhada, após consulta ambulatorial, para o Hospital Couto
Maia, onde realizou exames (sorologia para HIV e VDRL) em 08 de setembro
de 2003.
Em 12 de setembro de 2003, foi admitida no HUPES com quadro de febre,
vômitos, náuseas, tosse produtiva, dor em hipocôndrio
direito e adenomegalia cervical. Permaneceu internada por uma semana,
evoluindo com progressiva melhora dos sintomas. Há mais ou menos
10 dias, a paciente refere náuseas, dois episódios de hematêmese,
astenia, dispnéia, sudorese noturna, níveis tensionais baixos,
tontura e frieza nas extremidades.
I.S: Refere tosse produtiva com secreção amarelada por
9 meses que melhorou após o uso de antibióticos(sic), nega
hemoptise; refere placas orais esbranquiçadas há 1 mês;
refere disfagia, dor epigástrica e diarréia aquosa (3 dejeções
por dia) há 4 dias.
EXAMES COMPLEMENTARES PRÉVIOS |
|
28/08/03 |
Baciloscopia de escarro: negativa |
|
04/09/03 |
Raio X de tórax: sem alterações |
|
12/09/03 |
Pesquisa de oportunista: negativa (primeira amostra
de fezes) |
|
|
Leucograma: |
|
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|
7600 cél/?L |
(4500 a 11000 cél/?L) |
|
|
bastonetes 1% |
(3 a 5%) |
|
|
segmentados 85%
|
(54 a 62%) |
|
|
eosinófilos 1% |
(1 a 3%) |
|
|
linfócitos 12%
|
(23 a 33%) |
|
|
Hemograma: |
|
|
|
Hb. 10,7 g/ dL
|
(12 a 16 g/dL) |
|
|
Ht. 29,8% |
(35 a 45%) |
|
|
Plaquetas 680000/?L |
(150000 a 450000/?L) |
|
15/09/03 |
LDH 6765 U/L |
(208 a 378 U/L)' |
|
16/09/03 |
Urocultura: |
ausência de crescimento bacteriano |
|
19/09/03 |
Endoscopia digestiva alta: |
provável esofagite viral, gastrite erosiva de antro moderada |
|
19/09/03 |
Biópsia de Esôfago |
Esofagite crônica ulcerada, alterações sugestivas
de processo citopático viral. As alterações do
epitélio sugeriam herpes. Foi realizada imunohistoquímica
para pesquisa de CMV, a qual resultou negativa.
|
|
|
|
|
ANT. PESSOAIS: Paciente nulípara. Nega HAS, DM, alergias, câncer
e cardiopatias. Relata pneumonia (tratada) há 11 anos. Refere também
asma na infância e rinite alérgica atualmente. Nega internamentos
prévios, cirurgias, hemotransfusões e acidentes. Teve um
aborto provocado.
HÁBITOS DE VIDAS / HITÓRIA PSICOSSOCIAL: Ex-tabagista e
ex-etilista (há 4 anos); nega uso de outras drogas. Paciente sem
relacionamento sexual há 3 anos. Uso irregular de preservativo
com parceiro usuário de drogas há mais ou menos 7 anos por
um ano (o parceiro veio a falecer 1 ano depois – a paciente refere
infecção por HIV). Nega promiscuidade. Epidemiologia negativa
para Doença de Chagas e esquistossomose.
EXAME FÍSICO: TA: 80x60mmHg, BD, sentada. LOTE, REG, anictérica,
acianótica, levemente dispnéica, corada, hidratada, com
aspecto cansado, mucosas hipocrômicas ?/IV.
Cabeça/Pescoço: gânglios cervicais palpáveis
em cadeia anterior esquerda (móveis, com cerca de mais ou menos
3cm de diâmetro, quentes, dolorosos, de consistência fibroelástica).
Região supraclavicular esquerda com elevação quente
e dolorosa. Placas esbranquiçadas em cavidade oral.
Aparelho respiratório: MVBD sem RA.
Aparelho cardiovascular: precórdio calmo, ictus invisível
e impalpável, BRNF em 2t sem sopros.
Abdome: plano, normotenso, doloroso à palpação
superficial em hipocôndrios direito e esquerdo e epigástrio.
Ausência de massas palpáveis; sem VMG, RHA presentes.
Extremidades: bem perfundidas, sem edemas
SUSPEITAS DIAGNÓSTICAS
1- Infecção por HIV
2- Monilíase oral, esofágica
3- Infecção respiratória? Pneumocystis carinii
BIÓPSIA DE LINFONODO CERVICAL (06/10/2003):
Figura 1: Pequeno aumento. Linfonodos
com arquitetura desfeita. |
Figura 2: Pequeno aumento. Necrose lítica. |
Figura 3: Grande aumento. Macrófagos espumosos
na periferia das áreas de necrose. |
Figura 4: Pequeno aumento. Necrose lítica. |
Figura 5: Grande aumento. Idem. |
Figura 6: Pequeno aumento. Impregnação
por Grocott. Numerosas leveduras. |
Figura 7: Grande aumento. Grocott. Leveduras com
brotamento único, caracterítica de Histoplasma
capsulatum. |
Figura 8: Grande aumento. Ziehl-Nielsen. Leveduras
ácido-álcool resistentes. |
Macroscopia: porção elipsóide
de tecido amarelado medindo 1,6 x 1,0 x 0,6 cm; ao corte, tecido amarelado
compacto. Microscopia: As secções de
linfonodo mostraram arquitetura alterada às custas de vários
granulomas constituídos de macrófagos epitelióides
circundados por infiltrado inflamatório linfoplasmocitário
e neutrofílico. A pesquisa pelo Grocott revelou inúmeras
leveduras pequenas com brotamento único, compatíveis com
Histoplasma capsulatum.
Diagnóstico: Histoplasmose.
EVOLUÇÃO
Primeiro Dia: Paciente evoluiu na enfermaria com febre,
calafrios, mal-estar e lesões esbranquiçadas em palato
e língua. Foi introduzida terapia com Hidrocortizona, Adrenalina,
Paracetamol, Fluconazol (4x ao dia) e Dexametasona (4mg 6/6h).
Ainda no primeiro dia de internamento, evoluiu também com epistaxe
e lesões pápulo-maculares de mais ou menos 5mm, hipercrômicas
e eritematosas, principalmente em MMSS e tronco. Nessa ocasião,
apresentava fraqueza generalizada e dificuldade de deambulação,
com escleras amareladas, acolia fecal e hematúria. TGO: 958 U/L
(10-30 U/L); TGP: 142 U/L (8-20 U/L); Uréia: 179 mg/dL (14-36
mg/dL); Creatinina: 5 mg/dL (0,6-1,1 mg/dL).
Terceiro dia: evoluiu com icterícia ++/IV
e melena; fez uso de concentrado de hemácias.
Quarto dia: evoluiu com estado geral ruim, dispnéica
(FR: 40ipm), não conseguindo se comunicar, com MV rude e creptos
em todo o HTE e base de HTD. Evoluiu com disseminação
das lesões maculares de pele para todo o corpo. Na radiografia
de tórax, observou-se infiltrado alvéolo-intersticial
difuso, principalmente em 1/3 médio de HTE. Fez uso de 4 unidades
de plaquetas e 1 de hemácias.
Hemoglobina
|
6,8 mg/dL |
(12 a 16 mg/dL) |
Hematócrito
|
18,5% |
(35 a 45%) |
Uréia
|
215 mg/dL |
(14 a 36 mg/dL) |
Creatinina |
5,6 mg/dL |
(0,6 a 1,1 mg/dL) |
TGO |
1651 U/L |
(10 a 30 U/L) |
TGP
|
194 U/L |
(8 a 20 U/L) |
Ainda no quarto dia de internamento, às 10:00h, a paciente evoluiu
com choque circulatório e insuficiência respiratória,
com Glasgow 3, roncos esparsos, RHA diminuídos e abdome flácido,
sendo transferida para a UTI. Às 13:15, constatou-se a ausência
de pulsos e movimentos respiratórios e a paciente foi a óbito.
RESUMO DA HISTÓRIA CLÍNICA: Trata-se de uma paciente do
sexo feminino, 36 anos, que começou a cursar com quadro de náuseas,
febre vespertina e tosse produtiva. Nove meses depois, o quadro se intensificou,
com náuseas constantes, vômitos e febre diária (38-40ºC).
Um mês depois, notou aumento de gânglios cervicais à
esquerda com calor local. Nesta ocasião, fez sorologia para HIV
e VDRL e foi internada no HUPES, recebendo alta depois de uma semana,
com controle do quadro e com indicação para biópsia
de linfonodo cervical, a qual firmou o diagnóstico de histoplasmose
disseminada. Dez dias depois, a paciente cursou com náuseas, hematêmese,
astenia, dispnéia, sudorese noturna, níveis tensionais baixos,
tontura e frieza nas extremidades, sendo internada novamente no HUPES
dez dias após essa recidiva do quadro, com diarréia aquosa
associada. A paciente evoluiu na enfermaria com piora do estado geral
e desenvolvimento de lesões eritematosas maculares em todo o corpo.
Houve comprometimento importante das funções renal, hepática
e respiratória, com evolução para o óbito
no quarto dia de internamento. Dois dias antes do óbito, confirmou-se
a sorologia positiva para HIV.
COMENTÁRIOS
AIDS (1)
A síndrome da imunodeficiência adquirida é causada
devido ao fato de a contagem de linfócitos T CD4 atingir níveis
séricos abaixo de 200céls/µL decorrente da destruição
destas células pelo vírus HIV. A AIDS é considerada
epidemia em todos os países do mundo e é transmitida através
de relação sexual, transfusão de sangue, compartilhamento
de drogas injetáveis e de mãe para filho durante a gravidez
e parto (Tabela 1). O paciente com AIDS se apresenta imunodeprimido
e, deste modo, está susceptível à uma série
de doenças oportunistas como tuberculose, candidíase e
sarcoma de Kaposi (Tabelas 2,3 e 4), com acometimento de diversos órgãos
e sistemas (Tabela 5). Dentre as infecções oportunistas,
destaca-se a histoplasmose, uma doença fúngica que pode
ser respiratória ou sistêmica e se aproveita do estado
de imunossupressão do paciente para se manifestar com maior gravidade.
Em nosso meio, o quadro clínico de pacientes com AIDS costuma
conter (2):
TABELA 1- Processos diagnósticos prévios
à autópsia. Análise de 50 casos de pacientes
com SIDA (HUPES/UFBA). |
Processos infecciosos
|
Nº de casos
|
% |
Sem infecção |
20 |
40 |
Candidíase |
14 |
28 |
Micobacteriose |
13 |
26 |
Toxoplasmose |
9 |
18 |
Pneumocistose |
8 |
16 |
Infecção por CMV
|
5 |
10 |
Infecção gonococica |
4 |
8 |
Hepatite |
4 |
8 |
Criptococose |
2 |
4 |
Infecção bacteriana |
2 |
4 |
Infecção por HPV |
2 |
4 |
Infecção herpética |
2 |
4 |
Sífilis |
2 |
4 |
Criptosporidiose |
2 |
4 |
Herpes Zóster |
2 |
4 |
Shiguelose |
1 |
2 |
TABELA 2 - Processos Infecciosos diagnosticados
à autópsia. Análise de 50 casos de pacientes
com SIDA (HUPES/UFBA). |
Processos infecciosos
|
Nº de casos
|
% |
Infecção bacteriana
|
18 |
36,6 |
Toxoplasmose |
16 |
32 |
Infecção por CMV |
15 |
30 |
Micobacteria |
14 |
28 |
Infecção por HPV |
8 |
16 |
Candidíase |
8 |
16 |
Pneumocistose |
6 |
12 |
Histoplasmose |
6 |
12 |
Criptococose |
6 |
8 |
Esquistossomose |
3 |
6 |
Encefalite pelo HIV |
3 |
6 |
Estrongiloidiase |
2 |
4 |
Escabiose |
2 |
4 |
JC vírus |
1 |
2 |
Aspergilose |
1 |
2 |
Criptosporidiose |
1 |
2 |
Molusco contagioso |
1 |
2 |
Sem infecção |
1 |
2 |
TABELA 3 - Órgãos mais acometidos
pelos microorganismos. Análise de 50 autópsias de pacientes
com AIDS (HUPES/UFBA). |
Microorganismos
|
Pulmões |
Encéfalo |
Fígado |
Baço |
Linfonodos |
S. Renais |
Outros |
Totais |
Micobactéria |
11
(5,4%) |
4
(2,0%) |
8
(3,9%) |
10
(4,9%) |
10
(4,9%) |
2
(1,0%) |
10
(4,9%) |
66
(32,5%) |
CMV |
7
(3,4%) |
2
(1,0%) |
1
(0,5%) |
1
(0,5%) |
0
(0,0%) |
9
(4,4%) |
7
(3,4%) |
33
(16,3%) |
T. gondii |
0
(0,0%)
|
16
(7,9%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
16
(7,9%) |
H. capsulatum |
3
(1,5%)
|
1
(0,5%)
|
6
(3,0%) |
5
(2,5%) |
0
(0,0%) |
1
(0,5%)
|
9
(4,4%) |
28
(13,8%) |
P. carinii |
6
(3,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
6
(3,0%) |
C. neoformans
|
2
(1,0%)
|
3
(1,5%)
|
1
(0,5%)
|
1
(0,5%)
|
4
(2,0%)
|
1
(0,5%)
|
0
(0,0%) |
15
(7,4%) |
Bactérias G+/- |
7
(3,4%)
|
0
(0,0%)
|
1
(0,5%) |
0
(0,0%)
|
0
(0,0%)
|
0
(0,0%)
|
2
(1,0%)
|
10
(4,9%) |
Outros
|
2
(1,0%) |
1
(0,5%) |
3
(1,5%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
0
(0,0%) |
16
(7,9%)
|
29
(14,3%) |
Total
|
38
(18,7%) |
27
(13,3%)
|
20
(9,9%)
|
17
(8,4%) |
14
(6,9%) |
13
(6,4%) |
44
(21,7%) |
203
(100,0%) |
HISTOPLASMOSE
Histoplasma capsulatum – CARACTERÍSTICAS GERAIS
Histoplasma capsulatum é um fungo dimórfico que
causa doença respiratória e sistêmica (3). À
temperatura de 35ºC o fungo vive no solo e produz esporos (microconídeos)
que é a forma infectante do organismo. No interior do hospedeiro,
à 37ºC, o fungo se converte para a forma de levedura patogênica
que sobrevive e se replica nos macrófagos do hospedeiro.(1) Infecção
em indivíduos imunocompetentes é, geralmente, auto-limitada
e associada com poucos ou indetectáveis sintomas devido ao desenvolvimento
de imunidade linfócito-T-mediada. Pessoas imunodeprimidas têm
muito mais risco de manifestar doença respiratória ou
sistêmica.(3)
FATORES DE RISCO (4)
Indivíduos HIV-positivos que recebem qualquer tipo de terapia
anti-retroviral tem uma notável redução do risco
de desenvolver histoplasmose bem como pacientes que recebem tratamento
com drogas antifúngicas (triazóis). O contato com solo
onde existem excrementos de pássaros e/ou morcegos está
também associado com o aumento do risco de desenvolvimento da
doença.
FATORES DE PIOR PROGNÓSTICO (4)
Creatinina elevada e baixos níveis de albumina sérica
são indicadores de um pior prognóstico bem como uma contagem
de linfócitos CD4 menor que 100 cels/µL.
MINIFESTAÇÕES CLÍNICAS (1)
Histoplasmose pulmonar aguda: A histoplasmose pode se manifestar de
diversas maneiras. A histoplasmose pulmonar aguda geralmente é
assintomática, mas quando presentes os sintomas consistem em
febre, calafrios, fadiga, tosse não produtiva, desconforto torácico
anterior, mialgias, artralgias e artrite. Infiltrado nodular lobar ou
multilobar é notado na radiografia de tórax. Pode ocorrer
também dispnéia em casos graves.
Histoplasmose pulmonar crônica:
A histoplasmose pulmonar crônica se desenvolve, geralmente, em
pacientes com doença obstrutiva crônica e consiste em febre,
fadiga, anorexia, perda de peso, tosse produtiva purulenta e hemoptise.
Na radiografia acha-se infiltrado com cavidades e extensiva fibrose.
Histoplasmose disseminada:
A histoplasmose disseminada ocorre em pacientes imunossuprimidos. Os
sintomas são febre, anorexia, perda de peso, hipotensão,
dispnéia, hepatoesplenomegalia e lesões em pele e mucosas.
Pancitopenia, infiltrados pulmonares difusos, achados de coagulação
vascular disseminada e insuficiência respiratória aguda
são comuns.
CARACTERÍSTICAS MOFORLÓGICAS (5):
Nos pulmões de adultos, a infecção por H. capsulatum
produz granulomas de células epitelióides que sofrem necrose
caseosa e lítica e coalescem produzindo áreas de consolidação.
Com controle da infecção tais lesões sofrem fibrose
e calcificação. A diferenciação histológica
entre esta doença e a tuberculose e outras infecções
fúngicas se dá pela morfologia da levedura em coloração
pela prata (prata-metenamina). Na histoplasmose disseminada fulminante
formam-se acúmulos focais de fagócitos mononucleares repletos
de leveduras em todos os tecidos no lugar de granulomas.
PATOGENIA (3)
Internalização por fagócitos profissionais (HSP60s):
O H. capsulatum pode ser internalizado por fagócitos
profissionais depois de opsonização com anticorpo ou complemento
ou se ligar diretamente a integrinas heterodiméricas ß2
ou CD18 na superfície de células mononucleares do hospedeiro.
A molécula responsável por essa ligação
ao macrófago na levedura é a HSP60s.
OBS.: A ligação às células dendríticas
se dá por ligação com adesinas e receptores diferentes
dos anteriores e ainda não identificados.
Localização intracelular: O fungo reside nos fagolisossomos
intracelulares. Foi demonstrado que os fagossomos continentes de H.
capsulatum vivos tinha um pH maior do que o normal. Isso se deve, provavelmente,
ao fato de que a levedura se liga preferencialmente a esses fagossomos
modificados.
Obtenção de ferro: O Histoplasma capsulatum
tem três maneiras de obter ferro do hospedeiro que interagem entre
si de forma redundante sob condições de deficiência
de ferro no ambiente. O primeiro mecanismo é a secreção
de sideróforos para seqüestrar o ferro férrico (+3)
da transferrina. O complexo sideróforo-ferro-férrico pode
ser internalizado via receptores de sideróforos ou o ferro pode
ser reduzido ao estado ferroso na superfície e internalizado
por sistemas que requerem energia. O segundo mecanismo é a atividade
de redução férrica que é associada com enzimas
redutoras. A redução do ferro seguida por transporte do
ferro ferroso é uma maneira de adquirir ferro e sais. O terceiro
e último mecanismo é a liberação ácida-pH-dependente
pela transferrina hospedeira em ambiente ácido. O ambiente que
contém a levedura se torna ácido e o ferro se desliga
da transferrina; o mecanismo pelo qual o ambiente fica mais ácido
pode ser uma resposta direta do hospedeiro ou uma ação
do fungo, mas não é muito bem conhecida. Foi demonstrado
também que não é necessário pH ácido
para a utilização da transferrina como fonte de ferro
e a inibição competitiva da redução férrica
pode dar esse comprometimento.
Proteína de ligação de cálcio: Atenção
importante também foi dada para a proteína de ligação
de cálcio (CBP1), que é uma proteína fase específica
cujo gene só é expresso durante a fase de levedura e não
necessita de baixas concentrações de cálcio para
atuar.
DIAGNÓSTICO DEFINITIVO (1)
O diagnóstico definitivo de histoplasmose pode ser dado com o
crescimento em cultura, porém este fungo demora aproximadamente
seis semanas para crescer in vitro. Testes de DNA altamente específicos
ajudam na identificação do organismo assim que o crescimento
é identificado. Além disso, o diagnóstico pode
ser dado por sorologia, biópsia, ensaio imunoenzimático
e com teste de reação intradérmica com a histoplasmina.
TRATAMENTO (6)
No tratamento da histoplasmose pulmonar aguda moderada, se os sintomas
melhorarem em quatro semanas não se toma nenhuma providência
e se os sintomas persistirem por mais de quatro semanas usa-se Itraconazol
durante 6 a 12 semanas. Se a histoplasmose for severa usa-se Anfotericina
B com corticosteróides até a saída do hospital
depois Itraconazol por 12 semanas.
Na histoplasmose pulmonar crônica, se esta for moderada, usa-se
Itraconazol por 12 a 24 meses e, se esta for severa, Anfotericina B
até a saída do hospital e depois itraconazol por 12 a
24 meses.
Na histoplasmose disseminada moderada em pacientes sem AIDS usa-se Itraconazol
por 6 a 18 meses e na severa prefere-se Anfotericina B até a
saída do hospital e depois Itraconazol por 6 a 18 meses. Na histoplasmose
disseminada moderada em pacientes aidéticos usa-se Itraconazol
pelo resto da vida e na severa usa-se Anfotericina até a saída
do hospital e depois Itraconazol pela vida toda.
O tratamento da meningite causada por Histoplasma capsulatum usa-se
Anfotericina B até a saída do hospital e depois Fluconazol
por 12 meses.
A mediastinite granulomatosa moderada é tratada com Itraconazol
por 6 a 12 meses e a severa com Anfotericina B até saída
do hospital e depois Itraconazol por 6 a 12 meses.
A mediastinite fibrosante é tratada com Itraconazol por três
meses.
A pericardite moderada é tratada com agentes antiinflamatórios
não esteróides por 2 a 12 semanas e a severa com corticosteróides
ou drenagem pericárdica.
Os sintomas reumatológicos causados pelo H.capsulatum são
tratados com antiinflamatórios não esteróides por
2 a 12 semanas.
Mulheres com histoplasmose durante a gravidez devem ser tratadas com
Anfotericina B. (Tabela 6)
TABELA 6 - Tratamento da histoplasmose de
acordo com o tipo |
|
SEVERA |
MODERADA |
TIPO DE HISTOPLASMOSE |
trat |
trat |
Pulmonar aguda |
AmB com corticosteróides e depois Itr por 12 sem
|
sintomas menos de 4 sem, nada; Mais de 4 sem, Itr por 6 a 12 sem
|
Pulmonar crônica |
AmB e depois Itr por 12 a 24 meses |
Itr por 12 a 24 meses |
Disseminada sem AIDS
|
AmB e depois Itr por 6 a 18 meses |
Itr por 6 a 18 meses |
Disseminada com AIDS
|
AmB e depois Itr pelo resto da vida |
Itr pelo resto da vida |
Meningite |
AmB por 3 meses e depois fluconazol por 12 meses |
Idem à severa |
Mediastinite granulomatosa |
AmB depois Itr por 6 a 12 meses
|
Itr por 6 a 12 meses |
Mediastinite fibrosante |
Itr por 3 meses |
Idem à severa |
Pericardite |
corticosteróides e drenagem pericárdica |
antiinflamatórios não esteróides por 2 a
12 semanas |
Reumatológica |
AINES por 2 a 12 semanas |
Idem à severa |
BIBLIOGRAFIA:
- GOLDMAN, L., AUSIELO, D. Histoplasmosis. In.: Cecil
– Textbook of Medicine. Saunders, 22ª ed., 2004
, p.2043.
- FONSECA, L. E. Comunicação pessoal.
- WOODS J. P. Knocking on the right door and making a comfortable home:
Histoplasma capsulatum intracellular pathogenesis. Current Opinion
in Microbiology 2003; 6: 327-33.
- HAJJEH, R. A., PAPPAS, P. G., HENDERSON H., ET AL. Multicenter case-control
study of risk factors for Histoplasmosis in Human Immunodeficiency Virus-infected
Persons. Clinical Infectious Diseases 2001; 32: 1215-1220.
- COTRAN, R. S., KUMAR, V., ROBBINS, S. L. Doenças infecciosas.
In.: Patologia Estrutural e Funcional. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 6a ed., 1999 , p.316.
- WHEAT J., SAROSI G., MCKINSEY D., ET AL. Practice Guidelines for
the management of patients with histoplasmosis. Clinical Infectious
Diseases 2000; 30: 688-695
*Monitor e aluno do curso médico da Faculdade de Medicina da Bahia,
Universidade Federal da Bahia, cursando o 5º semestre. |