HISTÓRIA DA MEDICINA | artigo 57 | ||
O falecimento do Professor Doutor Raymundo Nina Rodrigues, |
|||
Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins. Fundado em 29 de novembro de 1946 |
|||
Parte V | |||
Na quinta-feira, 9 de agosto, o deputado estadual, Dr. Souza Britto recebeu do eminente governador do Maranhão, Dr. Benedicto Leite, o seguinte telegrama: “Dr. Souza Britto – Bahia – Comissão encarregada homenagem Nina Rodrigues aí, pediu governo deste Estado, auxiliasse despesas essas homenagens. Respondi estar pronto aceder pedido; perguntei que quantia será precisa, comissão telegrafou-me novamente, dizendo, aceitaria qualquer auxílio que eu enviasse, Como sabeis, indispensável governo ter uma base qualquer despesa tenha determinar. Portanto, peço-vos entendais essa comissão, sentido ela dizer-me quantia auxilio precisa deste governo. Além disso os telegramas que tenho recebido são assinados apenas “Comissão”. É indispensável ela telegrafar-me com os nomes de seus membros, afim de ter pessoa ou pessoas determinadas, a quem mandar entregar quantia remetida, como auxílio. Peço-vos entendais com ela também a esse respeito. Saudações – Benedicto Leite, governador.” Em derredor do sobredito assunto, a incansável e abnegada “commissão” acadêmica incumbida das exéquias do Dr. Nina Rodrigues, enviou, dias mais tarde, em 12 de agosto, ao governador do Maranhão, Dr. Benedicto Leite, o seguinte telegramma: “Governador Maranhão – Terminadas as homenagens em memoria do dr. Nina Rodrigues, dispensamos auxilios promettidos – Commissão.” Dentre as numerosas personalidades eminentes que acompanharam o féretro estavam os Drs. Alfredo Britto, diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. Themistocles Nina Rodrigues, primeiro-tenente do exército, concunhado e irmão do ilustre extinto; sr. Antonio de Almeida Couto, irmão da exma. viúva do Dr. Nina Rodrigues; Drs. Braz do Amaral, Guilherme Rebello, Pacifico Pereira, Pedro de Luz Carrascosa, Josino Cotias, Bonifacio da Costa, da Escola de Medicina; Drs. Alexandre Maia Bittencourt, Thyrso Simões de Paiva e Archimedes de Siqueira Gonçalves, pela Escola Politécnica; Dr. Carlos Devoto, diretor do Ginásio Estadual; capitão Ernesto Cyrillo de Castro e segundos tenentes Victalino Thomaz Alves, Corbiniano Cardoso e Pedro Reginaldo Teixeira. A diretoria do Ginásio do Estado, em protesto de veneração à memória do provecto cientista, resolveu suspender as aulas daquele estabelecimento, convidando o corpo docente e os alunos a comparecer às exéquias, e mandou hastear a bandeira Nacional a meio mastro, no respectivo edifício. A Faculdade de Medicina da Bahia deixou de funcionar naquele dia, 10 de agosto, e não estará em atividade no dia 11, em legítimo e preciso preito de fidelidade, de gratidão, respeito, admiração e amor à memória do seu querido professor. Na Faculdade de Direito, assim que chegou a comunicação que o corpo do inditoso professor desembarcara no Arsenal de Marinha, foi posta em funeral a bandeira simbólica da faculdade, - continuando assim no dia 11 até que tenham baixado á terra os despojos do catedrático.
Capelas mortuárias Dentre muitas capelas que serão colocadas sobre o túmulo do eminente cientista, foram observadas: uma coroa ricamente lavorada por D. Amalia Gama, armada com o máximo cuidado, confeccionada de finíssimas flores de pano, sendo um lado de rosas e crisântemos e do outro de lindos ramalhetes de violetas, lilases e glicínias tudo de permeio com de laços de fita de seda lilás. De um lado da coroa, pende larga fita lilás com a seguinte inscrição, artisticamente pintada “Homenagem dos corpos docente e discente da Faculdade de Medicina”; No sábado, 11 de agosto, às 8 ½ dada manhã, serão celebradas as exéquias solenes pelos monges beneditinos, realizando-se, em seguida, o saimento fúnebre . O Dr. Nina Rodrigues será inumado no cemitério do Campo Santo, falando por esta ocasião, em nome da mocidade estudantil, o acadêmico de Direito Aydano Sampaio e pela Faculdade de Medicina da Bahia o Dr. Guilherme Pereira Rebello, (1857-1928), muito insigne médico, natural de Sergipe, lente de Anatomia e Fisiologias Patológicas, graduado em Medicina, em 1878, pala Faculdade de Medicina da Bahia.
“Convite A Comissão Central das exéquias do pranteado e sábio professor Dr. Nina Rodrigues convida os exmos. srs. Dr. governador, Dr. secretário de Estado, Dr. chefe de Polícia, general comandante dos corpos da guarnição federal, do Regimento Policial, funcionários da União, do Estado, do Município, o exmo. sr. provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, os corpos docentes, discentes e administrativos das Faculdades Superiores, do Ginásio, do Instituto Normal e dos colégios particulares, a distinta classe comercial, a digna imprensa da cidade e mais amigos e admiradores do grande morto, para assistirem as missas que serão celebradas, hoje, ( 18 ) às 8 ½ horas da manhã no Mosteiro de S. Bento e acompanharem o enterro, logo em seguida aos atos religiosos.” Durante a noite do dia 10 de agosto, foi grande a concorrência de famílias e cavalheiros que foram à igreja abacial de S. Bento, em visita aos despojos do Dr. Nina Rodrigues. Algumas velas de estearina extinguiam-se e logo eram acesas. O silêncio alto da noite era quebrado pelos responsos que se rezavam ou se cantavam alternadamente, alguns engrolados em voz untuosamente evangélica por fiéis, sobretudos por idosas beatas, que entoavam molesta e soturna ladainha. De quando em vez, os monges beneditinos salmodiavam tristemente. No dia 11, ao dealbar do nascer do sol, as ruas vizinhas iam se povoando e logo u’a multidão formiculante, em romaria, de roupa endomingada, estava queda no Largo de S. Bento, em frente ao monastério. Dava o seu último quarto de hora a 15.ª turma. Em frente a essa, destacavam-se os estandartes das três escolas superiores. O da Faculdade de Medicina, riquíssimo e todo envolto em crepe ocupava o centro; à direita ficava o da Politécnica e, à esquerda, o da de Direito. Ambos eram encimados por laços de crepe, cujas extremidades pendiam sobre o corpo dos estandartes. Cinco minutos antes de 9 horas, a música do correto 1.º corpo de Regimento Policial, em grande uniforme, executou a primeira marcha fúnebre. Por essa ocasião, já a vasta área interna do templo estava atopetada de gente, notando-se ali representadas: as congregações das três academias, as principais autoridades civis e militares, tribunais, associações, mocidade acadêmica, exmas famílias, imprensa etc. Dentre o grande número de pessoas que enchiam o templo estavam as seguintes: Dr. José Marcellino de Souza, governador do Estado; Dr. José Maria Tourinho, chefe da Segurança Pública; Dr. Antonio Victorio de Araujo Falcão, intendente municipal e lente de Farmácia da Faculdade de Medicina da Bahia; Dr. Manoel Freire de Carvalho, secretário da Intendência; Dr. Alfredo Britto, diretor da Faculdade de Medicina da Bahia; Dr. Pedro Vicente Vianna, presidente do Tribunal de Apelação e Revista; Dr. Antonio G. Fróes, Dr. Reis Meirelles, senador estadual, Dr. Francisco Lopes da Silva Lima, diretor da sessão de engenharia do município, Dr. Alexandre Maia Bittencourt, Dr. Alfredo Devoto, coronel Bellarmino de Andrade, engenheiro Augusto Maia, Dr. Manoel Carlos Devoto, Dr. Climerio de Oliveira, Dr. Braz H. do Amaral, Dr. Bernardino Madureira de Pinho; Lopes Rodrigues, pela Escola Comercial; diversas comissões, representando os corpos de alunos do Ginásio da Bahia e do Ginásio Carneiro, diretores do Grêmio Lítero Jurídico, major Joaquim da Costa Freitas, representando A Eqüitativa, uma comissão do Grêmio Beneficente do Professorado Baiano etc, etc. Lá pelas 9 ½ horas da manhã começaram as missas, que foram celebradas no altar- mor e os altares laterais de Nossa Senhora de Lourdes e São Bento. No altar-mor celebrou d. Majolo João Pedro de Caigny, abade dos beneditinos, acolitado pelos religiosos D.Lourenço Seixas e D. Bernardo Poetsch. Ouvia-se ciciar de orações nos genuflexórios com eclesiásticos de breviários. Assoavam-se com grandes soluços. O incenso turificado fumaçava e impregnava o ambiente Quatro noviços beneditinos entoaram o cantochão. A melopéia arrastada da divina oração em canto gregoriano reconfortava os circunstantes orantes. Levado a cabo os sobreditos atos litúrgicos católicos, uma turma de 6 acadêmicos foi buscar o esquife no alto do catafalco. Às 10 horas e 15 minutos, o caixão foi depositado no riquíssimo coche mortório, que era tirado por 3 belas parelhas de cavalos castanhos escuros, emantandos de crepe, e organizou-se um segundo préstito fúnebre que obedeceu a ordem seguinte: Durante o trajeto, grande massa popular se aglomerava apertadamente nas ruas por onde passava o cortejo, estendendo-se até a necrópole. Liderando o carro fúnebre iam os Drs. Braz do Amaral e Aurélio Vianna. Cerca de 11 horas dava entrada do préstito no cemitério do Campo Santo. O féretro foi, então, retirado do coche mortuário pelos conselheiro Carneiro da Rocha, Drs. Braz do Amaral, Augusto Vianna e Alfredo Muyallert, os acadêmicos Pedro Americano, Oscar e Luiz Loureiro, Augusto Dias e o primeiro-tenente Dr. Themistocles Nina Rodrigues, irmão do pranteado morto. Na capela da necrópole, o reverendo capelão, hissopando o corpo com água benta, procedeu à encomendação do cadáver, segurando nas alças do esquife até a beira da sepultura, os Drs. Alfredo Britto e Braz do Amaral, Ernesto Simões da Silva Freitas, acadêmicos Luiz e Oscar Loureiro, Evandro Pinho, Floro Ferreira e Oscar Cunha. Foi então colocado o caixão num estrado revestido de preto e franjas prateadas, e subiu à tribuna que fora erguida a 5 passos de distância do dito estrado, o acadêmico de Direito Aydano Sampaio, que pronunciou um comovente discurso laudatório. |
|||
|