É sabido que o sistema prisional brasileiro ao apresentar reflexos
da sociedade da qual é integrante, reproduz nos confinados a estrutura
social geradora das desigualdades. Tanto o cidadão livre quanto
o apenado estão ameaçados de verem suprimidos direitos inalienáveis,
contudo, os que cometeram infrações são responsabilizados
individualmente e, têm imputada uma culpa que a sociedade estabelece
que deva ser expurgada através do sofrimento, pois as retaliações
contra os que violam suas regras continuam sendo consideradas um instrumento
eficaz na manutenção do controle social.
Nesse
contexto, tomando por base o crescimento de doenças infecto-contagiosas,
em especial a AIDS e Hepatites, e a estreita relação que
têm com o uso de drogas, centramos nossa atenção na
população carcerária do estado da Bahia através
da implementação de um Programa de Redução
de Danos relacionados às práticas sexuais e ao uso de drogas.
Iniciado em 2001 na Penitenciária Lemos de Brito – PLB onde
68 internos e oito agentes de presídio foram capacitados a agentes
multiplicadores de ações preventivas entre seus pares, no
ano seguinte o projeto foi estendido a mais três unidades prisionais:
a Colônia Penal Lafayete Coutinho, a Penitenciária Feminina
e o Presídio da cidade de Jequié/ Secretaria de Justiça
e Direitos Humanos do Estado da Bahia.
::. OBJETIVO GERAL
Reduzir a contaminação pelo HIV, Hepatites B e C e outras
DST e reduzir o uso/abuso de drogas entre detentos do sistema prisional
do estado da Bahia, através de implantação de ações
de Redução de Danos entre os internos, agentes de presídios
e demais funcionários. O projeto visa ainda verificar a existência
de outras demandas de saúde, de elevada prevalência entre
a população atendida, a exemplo de tuberculose e outras
doenças infecto-contagiosas viabilizando sempre que possível
o suporte necessário a essa s condições clínicas.
::. ESTRATÉGIAS
- Aplicação de um questionário a presidiários
e funcionários das unidades prisionais alcançadas
pelo projeto e análise dos dados por técnicos do DRD/CETAD.
- Visitas semanais ao presídio para reconhecimento da área
física, identificação dos dados apontados em
questionário e realização das atividades prepaarativas
para implementação do projeto.
- Realização de palestras de apresentação
do projeto e de sensibilização a partir dos dados
obtidos na análise final dos questionários.
- Dez por cento dos internos e dos funcionários dos presídio
capacitados a redutores de danos em 01 um curso de 20 horas e 04
oficinas de 6 horas cada uma, num total de 24 horas de duração.
O curso e as oficinas têm os seguintes eixos temáticos:
uso/abuso de drogas; aspectos sócio-antropológicos
e jurídicos do uso de drogas; HIV, Hepatites, outras DST
e Redução de Danos; auto-estima e relações
interpessoais. As oficinas são desenvolvidas sob forma de
produção criativa e quando possível, através
de expressões artísticas variadas.

- Distribuição sistemática de preservativos,
folders, cartilhas, folhetos, seringas e agulhas, pelos agentes
multiplicadores capacitados.
- Encaminhamentos médicos-psicológicos e para suporte
social de presidiários à Central Médica do
Presídio, às unidades da rede Públicos de Saúde
e a outras instituições parceiras da DRD/CETAD.
- Ampliação do número de instituições
parceiras para divulgação das ações
desenvolvida e assistência médico-psicológica
e social aos detentos alcançados pelo projeto.
- Realização de supervisões semanais com os
agentes multiplicadores treinados e com os redutores de danos atuando
no projeto.
::. OUTROS RESULTADOS
- Negociações com o Juiz da Vara de Execuções
Penais no sentido de prover redução de pela pelo trabalho
realizado como agentes multiplicadores;
- Participação na elaboração do Plano
Operativo Estadual do Sistema Penitenciário.
::. LIÇÕES APRENDIDAS
- Os internos do sistema prisional do Estado da Bahia são
capazes de participação efetiva no projeto, revelando-se
interessados e eficazes na condição de agentes multiplicadores;
- Os resultados do projeto dependem não apenas das ações
previstas no mesmo, mas da melhoria do sistema de atenção
aos internos como um todo;
- As ações desenvolvidas com os internos alcançam
também suas parceiras nos encontros íntimos e são
replicadas na comunidade;
- As ações de redução de danos implantadas
suplantaram o alcance meramente objetivo, para através da
revalorização do sujeito minimizar os danos subjetivos.
::. DESAFIOS
- Participação ativa dos agentes penitenciários
na execução do Projeto;
- Agilização dos atendimentos aos internos que apresentam
problemas de Saúde;
- Participação efetiva do Estado, inclusive com aporte
de recurso próprios, no Projeto
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